Debates de alto nível iniciam encontro sobre integração regional

O 19º Encontro do Foro de São Paulo teve início nesta quarta-feira (31), na capital paulista, com debates de alto nível e a participação do secretário de Relações Internacionais do PCdoB, Ricardo Alemão Abreu, representantes uruguaios e mexicanos, Samuel P. Guimarães, secretário-geral do Itamaraty no fim do Governo Lula, e a intervenção de diversos participantes para a discussão sobre a integração regional, tema central do Foro, e sobre o peso de outros blocos e continentes na equação.

Ricardo Alemão Abreu - Moara Crivelente / Portal Vermelho

De acordo com Alemão, em declarações ao Portal Vermelho, o Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo que aconteceu em março, no México, convocou o seu 19º Encontro. No mesmo momento, foi realizada a primeira experiência de uma Escola de Formação do Foro de São Paulo, cujo tema também foi a integração, e que está na sua segunda edição neste encontro, desde segunda-feira (29), com encerramento nesta quarta, quando se inaugura o 19º Encontro do Foro.

De 29 de abril a 1º de maio, na capital de Cuba, Havana, houve um seminário sobre a unidade das forças políticas da América Latina e a integração. Neste 19º Encontro, informa, já há 1.500 inscrições, incluindo as de 400 militantes e filiados ao PCdoB e as de 300 delegados de partidos e movimentos da América Latina e de outras regiões do mundo. 

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“Todo este processo é uma novidade para o Foro de São Paulo, com debates políticos e orientações consensuais para a esquerda da América Latina, sobre a situação de cada continente com relação ao latino-americano, no contexto mundial atual. Só neste ano, este encontro representa a terceira concentração para o debate teórico e político, e isso eu gostaria de ressaltar, essa intensificação dos debates”, afirma Alemão.

Para se contrapor aos mecanismos de integração da América Latina, como a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Alternativa Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba), por exemplo, o imperialismo estadunidense ou patrocina os governos de direita, hoje, ou colaboram com uma postura divisora, e tenta fortalecer a chamada Aliança do Pacífico, que reúne o México, a Colômbia, Peru e Chile, tentando cooptar também o Paraguai, propondo uma integração ressuscitando a finada Área de Livre-Comércio das Américas.

Entretanto, diz, “acho que a tendência prevalecente no nosso continente é o avanço da nossa integração, mas temos que fortalecê-la ainda mais para tentar neutralizar e impedir o desenvolvimento dessa proposta baseada na divisão”.

Projeção e posição brasileira

Samuel Guimarães, também em declarações ao Vermelho, respondeu à crítica levantada por um delegado mexicano na audiência, durante os debates, sobre um suposto “imperialismo” do Brasil na América Latina, ressaltando a presença das empresas brasileiras pela região e, sobretudo, o peso da economia brasileira com relação às economias vizinhas.

“O Brasil é um país muito maior que os outros na América Latina, e tem uma economia maior, a 6ª do mundo. Isso é algo óbvio, e naturalmente, as empresas brasileiras acabam se expandindo aos países vizinhos. Outra coisa é o governo brasileiro querer modificar a situação política dos outros países”, ressalta Guimarães.

“As pessoas confundem um pouco as coisas, falam de imperialismo sem saber do que se trata”, afirma, e retoma um exemplo conhecido: “Os Estados Unidos, por exemplo, estão empenhados em mudar o governo da Síria, empenhados em mudar o governo da Venezuela e em muitas outras ocasiões. Isto é uma postura imperialista, e o Brasil não quer mudar o governo em nenhum lugar, aceita plenamente a autodeterminação de todos os países, não pratica uma política de intervenção nem faz campanhas contra governos”.

Durante os debates, Guimarães também ressaltou o papel determinante das eleições e das mudanças governamentais próprias da democracia, mas que podem afetar negativamente o rumo progressista da integração, assim analisado a partir de 2002, com a proliferação de governos mais à esquerda na América Latina. Como instrumentos, pontuou a preocupação com a mídia e com o sistema financeiro, “fundamentos do controle social e da construção de realidades”, que estão atualmente em debate intenso, mas ainda insuficiente.

No mesmo sentido, o senador uruguaio Roberto Conde ressaltou a necessidade de um concerto e unidade política entre os partidos e movimentos integrantes do Foro de São Paulo para a busca por uma resposta para o desenvolvimento regional integrado. “Não é uma questão econômica, mas profundamente política”, afirmou.

“No mundo global de hoje, só poderemos construir poder se nos integrarmos, e se não fizermos isso, não poderemos nos desenvolver. E neste sentido, a integração passa a ser uma ferramenta formidável para a nossa soberania”, disse Conde.

Em um dos eixos ressaltado pelo senador, a resistência contra as zonas de livre-comércio, sobretudo as propostas pelos Estados Unidos, é essencial, já que favorecem apenas a concentração de capital, um obstáculo para o desenvolvimento, pois se trata de um modelo baseado na desigualdade.

Por Moara Crivelente, para o Vermelho