Eleições no Zimbábue refletem acirrada luta política

O Zimbábue, país sul-africano, realiza eleições presidenciais nesta quarta-feira (31), sob as críticas ocidentais contra o governo de Robert Mugabe, centradas, como manda a tradição ocidental generalizante e parcial, na caracterização de um "ditador". Nas últimas eleições, a União Europeia enviou uma “missão de observação eleitoral”; já em 2013, não há observadores ocidentais no terreno, mas sim africanos.

Zimbábue - Reuters

Os rivais são os adversários de sempre: Robert Mugabe, no poder desde a independência do país, em 1980, e Morgan Tsvangirai, o líder da oposição, que disputou com ele as presidenciais de 2002 e 2008, caracterizadas por acusações de fraude.

Forçados a entenderem-se pelos seus vizinhos africanos, assinaram, em 2009, um memorando de entendimento, que levou Tsvangirai ao cargo de primeiro-ministro e manteve Mugabe na presidência.

Tsvangirai é o líder do Movimento pela Mudança Democrática (MDC), adulado pelo ocidente e pelo imperialismo. A relação entre os dois foi imposta pela comunidade da África austral (SADC), para evitar uma guerra civil potencialmente desestabilizadora de toda a região.

Mas, quatro anos depois, e com uma nova Constituição aprovada, que pode ser considerada “um pedaço de papel”, segundo organizações ocidentais de direitos humanos empenhadas contra Mugabe, pois limita os mandatos presidenciais, mas só daqui a dez anos, impede o presidente de vetar legislação aprovada no Parlamento, mas não agora, institui uma Procuradoria independente, uma comissão de reconciliação e outra anticorrupção, mas também para o futuro.

Mugabe constrói um papel histórico de defensor e guardião do nacionalismo negro, e garantidor da estabilidade nacional, um argumento de peso para as organizações regionais africanas.

A União Africana e a SADC, os únicos observadores internacionais no terreno, têm sido menos contundentes nas críticas contra o governo do que gostariam as organizações ocidentais, que focam em denúncias como a intimidação policial de eleitores e membros da oposição, censura, supostos eleitores fantasmas e excesso de boletins de votos impressos, por exemplo.

"Votem, votem, votem em paz, paz, paz, paz. Nós queremos a paz", gritou Mugabe no comício de encerramento da sua campanha. "Serão eleições livres e justas. Não vamos forçar ninguém a votar num sentido ou noutro", prometeu o líder da Zanu-PF.

Por outro lado, em campanha, Tsvangirai resmunga: "Mugabe roubou as eleições de 2002, roubou as eleições de 2008. Desta vez queremos dizer-lhe que não deve voltar a roubar outra vez", disse o primeiro-ministro, no último comício na capital, Harare.

"Não temos qualquer intenção de praticar represálias. Tudo aquilo que queremos e que dizemos é: ‘Senhor Mugabe, concorra a estas eleições de maneira livre e justa, para que possamos deixar-lhe uma saída digna’", afastando cenários de vingança em caso de vitória. Mugabe, entretanto, avisou o seu rival que se proclamar vitória antes do anúncio oficial dos resultados, será preso.

Mugabe tornou-se proeminente no Zimbábue na década de 1960, como secretário-geral da União Nacional Africana do Zimbábue (Zanu), durante o conflito contra o governo da minoria branca de Ian Smith. Foi um prisioneiro político na Rodésia (hoje Zimbábue) por mais de 10 anos, até 1974.

Quando liberto, Mugabe deixou a Rodésia em 1975, para lutar na Guerra Civil da Rodésia, pela libertação e descolonização da região, desde as bases por ele lideradas em Moçambique.

Tsvangirai fez parte do partido de Mugabe até 1999, quando deixou a Zanu e organizou o Movimento pela Mudança Democrática. Apesar de conformar um "governo de união nacional", Tsvangirai afirma que o título é apenas isso, e que não há real partilha de poder.

As críticas ocidentais, cujo porta-voz patente é a União Europeia, devem ser interpretadas com cautela, pois trata-se de uma região que lutou pela descolonização e que hoje é retratada, pelo ocidente, com base em padrões duplos assentados na generalizante defesa dos direitos humanos e na ingerência externa justificada por este pretexto. Por outro lado, o envolvimento direito e protagonista das organizações africanas pode trazer um equilíbrio importante à situação.

Atualizada às 13h45

Com informações do Público,
Da redação do Vermelho