Nágyla Drumond, do PCdoB, quer diálogo sobre obras de mobilidade
Após dias de discussões em torno da construção de viadutos no cruzamento das avenidas Engenheiro Santana Júnior e Antonio Sales, na região do Parque do Cocó, a Secretária de Movimentos Sociais do PCdoB/CE, Nágyla Drumond, ratifica a importância das obras de mobilidade urbana como benefício para toda a cidade, alerta sobre a necessidade de diálogo entre o poder público e a sociedade e condena veementemente a repressão utilizada contra manifestantes durante a desocupação da área.
Publicado 14/08/2013 20:04 | Editado 04/03/2020 16:27
Em entrevista ao Vermelho/Ceará, Nágyla Drumond, Secretária Estadual de Movimentos Sociais do PCdoB/CE, apoia as obras, condena repressão e defende diálogo. “O povo trabalhador quer as obras de mobilidade urbana e nós também somos a favor delas, desde que sejam executadas com planejamento, transparência e diálogo”.
Segundo a comunista, Fortaleza precisa urgentemente de obras de mobilidade urbana em virtude da complexidade para os deslocamentos da população, “o que não quer dizer que elas privilegiem o carro particular”. “Defendemos ações que fomentem uma cultura de valorização do transporte público e dos serviços de transporte urbano de boa qualidade. Pautamos a mais que urgente regulamentação das legislações acessórias ao Plano Diretor e a efetivação do Plano Municipal da Mobilidade”, ratifica.
Nágyla pondera que as obras são necessárias e precisam ser debatidas com o povo, que pode e deve opinar sobre elas. “As grandes cidades do país, dentre elas Fortaleza, tornaram-se centros urbanos desiguais e violentos, a mobilidade urbana faz parte desse contexto. Sem diálogo, os protestos poderão tomar dimensões que podem servir de combustível em um cenário já violento. Daí a necessidade do debate com respeito e transparência, além da intensa participação popular, que não pode ser entendida como empecilho às obras nem à gestão da cidade. O desenvolvimento das cidades deve servir à maioria do povo. Por isso defendemos a reforma urbana como uma das reformas que o Brasil precisa”.
Repressão policial
A socióloga critica a conduta da Gestão Municipal ao agir durante a retirada dos manifestantes da região na última semana. “É inadimissível este posicionamento violento. Truculência não leva a lugar nenhum, impede o debate, acirra ânimos e tira do foco a questão principal”, defende.
Para Nágyla, a postura de repressão dos atos recentes aquece outro debate: o da “desmitalirazação” das polícias e guardas municipais. “Esta é uma demanda histórica do país. Nossa intenção não é a de embate com os Governos nem com a gestão, muito pelo contrário. Defendemos um debate franco e aberto, mas sem violência ou criminalização dos movimentos e/ou ativistas sociais”.
Em defesa do Meio Ambiente
Para Nágyla Drumond, “Meio Ambiente não é questão apenas dos ambientalistas, mas questão que diz respeito a toda a cidade e, principalmente, ao povo trabalhador”. “Este debate não deve ficar restrito àquela importante parte da cidade que se chama Parque do Cocó, que precisa ser regulamentado em seu todo. Estamos falando aqui de questões como proteção dos recursos hídricos, fauna e flora, habitação, regularização fundiária, mobilidade urbana e esta deve ser uma pauta urgente a ser levantada e discutida por movimentos populares, academia, partidos políticos, associações comunitárias, entidades e sociedade organizada”, defende.
Segundo a socióloga, a regulamentação do Parque do Cocó como patrimônio natural e ambiental de Fortaleza não diz respeito apenas àquela região, mas também a outros lugares da cidade que não têm aparecido no debate. “São dezenas de áreas de risco em comunidades como o Dias Macêdo, Boa Vista, Cidrião, Carcará, Lagamar, Tancredo Neves e outras que também são Cocó. Devemos defender também as centenas de famílias que esperam há anos reassentamento e requalificação das áreas onde moram, vivendo em condições social e ambientalmente degradantes”.
Nágyla acrescenta ainda que a regulamentação de áreas verdes vai além do Cocó. “Também não existem oficialmente os parques Raquel de Queiroz, Adahil Barreto e Rio Branco. No Dias Macêdo, o povo pede o Parque Olinda. Na região oeste, o riacho Alagadiço agoniza. Se a questão é ambiental, vamos ampliar o debate, defendendo também a requalificação com respeito ao Meio Ambiente de lagoas como as do Papicu, Urubu, Zeza, Vila Cazumba e outras”, cita.
Polêmica
“Se é para criticar algo ou alguém, devemos condenar o Capital e seus muitos agentes urbanos, que é quem mais especula, polui e degrada o Meio Ambiente. No final das contas, tudo se resume à luta de classes com palco na cidade. Apesar disso, podemos avançar muito na democracia que temos. O Governo precisa fazer sua parte, chamar a sociedade organizada e dialogar, afirmar com clareza o que é possível fazer, garantir a participação popular, estabelecer prazos e metas a serem cumpridas”.
Nágyla ratifica a necessidade do diálogo para a resolução do impasse. “Os grupos envolvidos não devem ser intransigentes. Se não sentam para conversar e dialogar, que solução as gestões e as lutas de determinados segmentos encontrarão? A cidade espera e precisa de avanços. Nos últimos 10 anos vivemos um período de avanço no Brasil que contou efetivamente com a participação popular. Não podemos ficar reféns de ninguém que queira impor suas opiniões. Estamos aqui para defender a cidade como um todo e o debate para o desenvolvimento urbano sustentável”, enfatiza.
De Fortaleza,
Carolina Campos