Mariana Serafini: Cartes, o presidente que não tem nada a dizer

“Presidente, de que forma o senhor pretende resolver a questão de Curuguaty e a reforma agrária?” (foi algo assim que perguntei). “Não tenho nada a falar sobre isso” (gente, ele me respondeu!). E um segurança me agride, eu tenho pouco mais de um metro e meio e não peso 50 quilos. Um segurança é meio grande, certo?

Por Mariana Serafini*, Blog Chipa e Café

O braço dele com força em direção ao meu abdômen me fez saltar longe. Doeu por uns três dias. E a frustração segue por um tempo mais. Começo a entender porque alguns deixam a síndrome de foca de lado…

Coletiva de imprensa, um número razoável de jornalistas presentes, grande parte deles inscritos para fazer perguntas ao presidente recém empossado do Paraguai, Horácio Cartes. A simpatia da imprensa local é nítida, vê-se o que estampam as capas de jornais: “Começa a Era Cartes”, “A Volta do Colorado”, “Se abre a esperança”.

Na data e hora devidos me inscrevi para a coletiva, jornalista, brasileira, correspondente do Portal Vermelho. Devidamente inscrita e com direito a fazer uma pergunta esperei o dia seguinte. Ansiedade a mil, sou jornalista novata, os chamados “focas” que vivem metendo o nariz onde não são chamados. Dia seguinte lá estou eu, com dez minutos de antecedência, o presidente deve ter atrasado uns 20, mas tudo bem.

Todos a postos, esperamos o não muito bom em “presença de palco”, Horácio Cartes. Ele chega acompanhado já de alguns ministros e os apresenta. A dinâmica é simples, o jornalista se levanta e faz a pergunta, o presidente responde e tocamos a vida. A imprensa internacional perguntaria antes, me animo, afinal, vou estar na primeira turma. Pergunta Globo, Valor Econômico, Folha de São Paulo, El País, El Clarin, La Nacion… de repente começa a imprensa local.

Algo de errado aconteceu, esqueceram de me chamar, fui conferir. “Ah, desculpe, mas o presidente decidiu que só iria responder a 10 veículos internacionais”. Olho na lista dos censurados na mão da assessora, estão vários de esquerda, entre eles o Vermelho. Claro, o presidente decidiu que não iria responder aos veículos progressistas. Boa, Cartes, começou bem!

Sobre Venezuela: “não tenho problemas com a Venezuela, estamos abertos a negociar com todos os países do mundo”, sobre a geração de empregos “não temos medidas definidas, o Paraguai precisa de muitas obras, tudo isso é geração de emprego”, sobre o contrabando “não posso fazer nada a respeito”, sobre a corrupção “são três poderes independentes, o executivo não tem nenhuma relação com os demais”. Dale, assim segue o presidente das respostas vazias.

Termina a coletiva, frustrada e de saco cheio vejo parte da imprensa se aproximar quando o presidente está saindo. Corro em direção a ele, é minha chance! Tolinha.

Mariana Serafini é jornalista, blogueira latino-americana e colaboradora do Vermelho