Novo chanceler tem perfil de negociador, afirmam especialistas

O diplomata Luiz Alberto Figueiredo Machado, de 58 anos, foi nomeado ministro das Relações Exteriores. Tem pela frente um ministério vivendo um momento de turbulência e difíceis temas que precisam de soluções rápidas. A fuga do senador Molina da Bolívia para o Brasil em um veículo diplomático, além de acarretar a demissão do ex-chanceler Antonio Patriota, abriu uma crise diplomática com o país andino e um desgaste na imagem do Brasil no exterior.

Por Vanessa Silva, para o Portal Vermelho

Luiz Alberto Figueiredo Machado conquistou a confiança de Dilma na Rio+20/ Foto: Bel Pedroso- Valor

Para a especialista em Relações Exteriores e pesquisadora do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (Cenegri) Suhayla Mohamed Khalil Viana, Figueiredo – cujo último cargo foi o de embaixador do Brasil nas Nações Unidas, cargo que será ocupado por Patriota – terá uma postura diferente da adotada por seu antecessor, que “tinha um perfil mais hesitante”. Já o novo chanceler “é conhecido por ser um bom negociador e por ter uma postura mais dura”, sublinha.

Leia também:
“O DOI-Codi é tão distante da embaixada como é o céu do inferno”

A deputada pelo PCdoB Perpétua Almeida, que conviveu com Figueiredo durante a Rio+20, avalia positivamente sua escolha: “Acho que ele é ágil, de pouca conversa, mas de muita paciência no processo de negociação. (…) É preciso entender o momento em que vivemos, de desenvolvimento, de consolidação da posição brasileira de referência para o mundo e de manutenção do Mercosul como um bloco fortalecido. Eu acho que o novo ministro compreende e está preparado para esta nova tarefa. Para mim, foi uma escolha acertada de Dilma”.

Foi por seu “perfil negociador” que Figueiredo ocupou o cargo. Durante a Conferência da Rio+20, foi o secretário executivo responsável por fechar o documento final da cúpula. O resultado, apesar de não ter representado grande avanço na busca por um desenvolvimento sustentável, foi considerado como bem-sucedido pelo governo brasileiro, já que houve a adesão de todas as nações participantes e rendeu diversos elogios por parte da presidenta Dilma Rousseff. Ele “conseguiu que 188 países assinassem um documento em um momento de crise, em que o desenvolvimento sustentável perdia força, como sempre ocorrem em momentos de crise econômica”, lembra Viana.

Integração latino-americana

A integração latino-americana é uma diretriz dos governos progressistas tanto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como da presidenta Dilma Rousseff. Mas esta não é a especialidade do novo ministro, que tem uma vasta experiência em questões ambientais e de desenvolvimento sustentável. Figueiredo entrou no Itamaraty em 1980 e, no mesmo ano, iniciou sua atuação nas Nações Unidas como diplomata-assistente. Durante a carreira diplomática, representou o Brasil em várias reuniões internacionais sobre mudança climática.

Até o momento, o futuro chanceler, que deverá tomar posse nesta quarta-feira (28), ainda não se posicionou sobre a questão da integração regional, como observa Viana. “Eu não acho que esta agenda vá mudar muito porque esta tem sido uma constante desde o governo Lula. Acredito que Dilma vai continuar investindo na integração regional, sul-sul e se este perfil mais duro, de bom negociador se confirmar, eu vejo como uma mudança positiva também para a integração regional”, pontua a pesquisadora do Cenegri.

Para Perpétua Almeida, no entanto, não há motivos para preocupações nesta área: “A pauta da integração latino-americana já ganhou os brasileiros e a diplomacia brasileira. Então ele é mais um ganho nesta questão”.

Relações com a Bolívia

A partir das declarações oficiais da Bolívia de que o país entrará com o pedido de extradição do senador Molina e das denúncias de que o Brasil violou diversos tratados internacionais, Viana considera que a relação do país com o Brasil deverá endurecer: “Foi uma questão que viola o direito internacional, traz muita turbulência nas relações entre os dois países”, mas pontua ainda que não é possível dimensionar o estrago. “Ainda não sabemos quais as consequências disso, nem o tamanho deste endurecimento nas relações internacionais.”

Já a deputada, que integra a Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional, pondera que “a presidenta Dilma reagiu de forma intensa. Mandou o recado para o governo Evo de que ela não concorda com o que aconteceu. Acho que isso de certa forma diminui a tensão. Se a presidenta não tivesse tomado posições, talvez esperássemos uma reação dura por parte da Bolívia, mas acho que não há necessidade deste tipo de reação depois do sinal que a presidenta Dilma deu”.

Dilma se encontrará com o mandatário boliviano, Evo Morales, durante a reunião da Unasul nesta sexta-feira (30) no Suriname. Este será também o primeiro teste de Figueiredo que terá pela frente, além da questão da Bolívia, as rusgas com a Grã-Bretanha, após a prisão de David Miranda, companheiro do jornalista Glenn Greenwald, em Londres, e com os EUA, em razão do programa norte-americano de espionagem.