Reunião só para homens em São Caetano expõe machismo

Os pais de estudantes da rede municipal de ensino de São Caetano, na Grande São Paulo, foram convocados para uma reunião exclusiva para o gênero com a mensagem "Como ajudar seu filho a chegar no topo". Para as mães não convocadas, muitas chefes de família, é um erro por ignorar a realidade das famílias monoparentais. Além disso, dá a entender que as mães não estariam dando conta do recado, não sendo capazes de fazer com que as crianças cheguem ao "topo".

De acordo com a prefeitura, a reunião, que aconteceu na noite de quarta-feira (28), ela faz parte do programa Escola de Pais, da Secretaria de Educação e tem como objetivo incluir os pais na educação dos filhos. De acordo com levantamento da prefeitura, das cerca de 6 mil pessoas que participam das reuniões do Escola de Pais desde o início do ano, 87% são mulheres.

Mas, a dentista Deborah Delage, 50 anos, mãe da Sophia, 10, aluna da Emef Professor Décio Machado Gaia, trata-se de um erro grave: “Ele é todo azul, vem escrito ‘Pai nota 10’ e a mensagem ‘Como ajudar seu filho a chegar ao topo’. Encontrei o convite na mochila da Sofia e perguntei se ela entregaria ao pai, de quem sou separada. Ela disse que não, pois, para ela, não é só o homem quem ajuda o filho a chegar ao topo.”

A discussão chegou ao Facebook depois de algumas postagens sobre a convocação da reunião. "Imagine, por exemplo, no contrangimento de uma criança que vive um cotidiano monoparental materno, diante da frase "ajude seu filho a chegar no topo", diz outra mãe.

"Sr. Daniel Belluci Contro, nesta noite ficarei feliz em debater educação de filhos em São Caetano do Sul com o senhor. Porque, como diz a Rita Lee, eu sou mais macho que muito homem", desafiou o secretário de Educação, a mãe de Sophia Deborah Delage, que de fato compareceu: "Estive presente à atividade de ontem e continuarei apresentando minhas críticas."

Esse instrumento causa ansiedade que nada acrescenta ao processo de ensino-aprendizagem. O que precisamos, senhor secretário, é aprender a construir significados nos nossos processos pedagógicos: isso sim leva crianças, adolescentes e suas famílias a se envolverem totalmente com conteúdos e a se esforçarem por vencer seus próprios desafios em seu próprio ritmo.

Famílias chefiadas por mulheres representavam, em 1996, 20,81% dos lares, segundo pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na época. No Censo do ano 2000, a porcentagem subiu para 26,55%. Já a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), que teve como ano base 2011, levantamento mais recente do IBGE, divulgada em setembro, aponta que 37,4% das famílias têm como pessoa de referência uma mulher.

Estimulando a competição entre as crianças?

Uma das práticas da mesma administração e defendida pelo secretário de Educação, Daniel Contro, é a cronometragem das atividades dadas em sala de aula para "melhorar os índices educacionais". Ele justifica que a cronometragem é usada nas escolas da Finlândia e de outros países de primeiro mundo e que essa medida, adotada em todos os anos do Ensino Fundamental, ajudaria professor e aluno a organizarem o tempo.

Para Deborah, o fato de fazer atividades com tempo marcado prejudicou a filha, que "entrou em crise porque o caderno vem com um ‘incompleto’ quando ela não consegue concluir a atividade no tempo proposto”.

"Uma educação inclusiva, democrática e promotora da cidadania não combina com o incentivo à competição entre alunos ou com o relógio: ou bem focamos na aprendizagem significativa que promove autoestima e autonomia dos sujeitos ou colocamos os resultados esperados acima da construção do ser, que assim vira de fato um "coitadinho", declarou ela na rede, no início desta tarde.


Reprodução do convite feito pela Prefeitura de São Caetano

Da redação do Vermelho com informações do Diário do Grande ABC