Estudantes do Congresso Nacional do Projeto Rondon divulgam carta

Mais de 400 estudantes de diversas regiões do Brasil participaram do Congresso Nacional do Projeto Rondon, no Centro de Convenções de Ribeirão Preto, há 100 km da capital de São Paulo. O resultado final do Congresso foi a elaboração de uma carta com o pedido de regulamentação do projeto.

No encontro, que aconteceu entre 31 de agosto e 2 de setembro, ficou decidido que os professores participantes do encontro levarão ao Congresso Nacional a proposta para transformar o Projeto Rondon em lei. A Carta de Ribeirão Preto, como foi chamada, convoca também as instituições de ensino superior, municípios, estudantes e sociedade civil para apoiar a iniciativa.

Segundo o diretor de extensão da União Nacional dos Estudantes (UNE), Valmir Lopes, o Projeto Rondon, atualmente, é o maior projeto de extensão do Brasil. Ele é prioritariamente desenvolvido na região Amazônica, onde existe a maior desigualdade social do país. “O Rondon sofre de carência grande de financiamento. É um programa muito bonito, mas não tem mãe”, afirmou Valmir.

“Além da carta elaborada no Congresso, há ainda um encaminhamento para criar uma comissão com o objetivo de continuar construindo pautas e jornadas de lutas para mobilizar e conseguir o financiamento do programa”, comentou Valmir. Vale ressaltar que existe um risco do Projeto Rondon parar de funcionar porque só existe financiamento até janeiro do ano que vem.

Confira a carta na íntegra:

Não é apenas um projeto, mas a transformação de uma realidade

No clima de esperança para o futuro e orgulho do passado os estudantes Rondonistas dos quatro cantos da terra dos papagaios construíram o mais belo, representativo, participativo e apaixonante grupo de discussão a respeito do Projeto RONDON em seu primeiro congresso nacional desde sua criação em 1967.

Diversos sonhos são realizados e provocados através do maior projeto de extensão do Brasil. Seja através da mudança subjetiva na vida de cada estudante que participa de alguma operação ou na das populações visitadas, por muitas vezes esquecidas. Assim, entendemos o Projeto Rondon como vital no nosso maior sonho, o de transformação da universidade e da realidade brasileira. Derrubamos os muros da universidade, e decidimos de uma vez por todas tomar cada cantinho dessa terra de brasileiros, em busca de conhecimento real, amplo e apaixonante.

Desde 2005, ano de sua retomada, e já antes disso, o Projeto RONDON enfrenta desafios claros e constantes, talvez até mais perigosos que os mistérios da Amazônia brasileira. A dificuldade de divulgação de suas ações e resultados, a sensação de impotência, fruto de uma politica de financiamento questionável que permita a cobertura presenciada no passado, e a falta de coletivos de formação acadêmica em debate que ajude a aperfeiçoar o sonho do eterno marechal Rondon colocam novamente à tona o risco de encerramento do Projeto.

A 6ª maior potência mundial ainda convive com a 88ª posição em educação segundo a UNESCO, e o fruto disso é sermos a 84ª nação em IDH. Apenas 4,5% do PIB brasileiro gira em torno da educação. Enquanto isso, o Brasil vive com uma política financeira atrasada, com manutenção do alto superávit primário em detrimento dos investimentos públicos e juros abusivos. A pauta de maior financiamento educacional, apesar da recente grande vitória da destinação dos royalties do petróleo pra a educação ainda há muito a caminhar como exigir urgência em investimentos maciços para o setor. Assim, não somente o Projeto Rondon, mas nossas escolas públicas, nossos professores e nossas universidades serão mais valorizados e cumprirão com excelência seu papel social.

A multidisciplinaridade do projeto e o aumento do quadro pessoal do Rondon faz parte da luta por maior investimento. É necessário incentivar a expansão numérica e plural, tanto de mais estudantes quanto de estudantes de áreas diferentes como Artes, Licenciaturas, Música, Direito, dentre outras, além da inclusão de Rondonistas experientes em novas operações.

Enquanto projeto que faz parte de forma transversal do tripé ensino-pesquisa-extensão, o Rondon precisa ser divulgado e promovido, pelas universidades, pelo conjunto de estudantes de graduação e de pós-graduação e pelo poder público. É necessário fortalecer o conhecimento do projeto através das mídias tradicionais (TV, jornal, rádio…) e nas inovadoras (redes sociais e sites públicos), fazendo parte de uma agenda de democratização e abertura dos meios de comunicação.

A ânsia dos estudantes por darem continuidade ao grandioso trabalho extensorial levado pelo projeto, é necessário o planejamento e execução das atividades pós-Rondon, como as operações de retorno para fortalecer e acompanhar as intervenções realizadas em cada município, além de identificar os resultados das operações sediadas.

Não basta um decreto presidencial para manter o projeto, pois o mesmo representa defesa da soberania nacional, e a garantia de construir agentes de transformação não apenas da realidade a quem atingimos, mas principalmente a nossa. Nesse sentido é necessário uma politica de Estado, onde o Projeto seja

uma lei que garanta não apenas a permanência do programa, mas uma continuidade de transformar a nossa nação em uma pátria mais justa.

A falta de apoio financeiro dos ministérios envolvidos revela a inconcebível ideia de aceitar que o primeiro encontro nacional do Projeto RONDON signifique a véspera da possível paralisação de suas atividades por mais uma vez. O ato de entrar no avião rumo aos desafios significa no momento um compromisso com a pátria. Ir em busca de ajudar a quem mais precisa torna emocionante e inesquecível para cada coração que subscreve este documento. Para nós, basta o mérito de saber que levamos brilhos aos olhos de cidadãos como nós, filhos de nossa nação que não tiveram oportunidades e são vítimas da extrema desigualdade brasileira. Assim, em 2013, construir como estudante Rondonista o primeiro grupo de debates sobre o projeto em seu congresso nacional serve para verbalizar que nós estamos saindo da belíssima cidade de Ribeirão Preto organizados e mobilizados para sermos do tamanho que o RONDON precisa.

Nesse sentido, no 1º Congresso do Projeto Rondon, reunidos no 1º Fórum de Estudantes Rondonistas, estudantes de toda parte do Brasil, com o objetivo do fortalecimento e expansão do projeto, resolvem:

 Criar o Comitê de Estudantes Rondonistas – independente do Ministério da Defesa sob a Coordenação da UNE com os objetivos de:

1. Aproximar a vivencia de Rondon sob a ótica de estudante;

2. Fortalecer a comunicação entre o meio acadêmico;

3. Discutir e organizar operações independentes em parceria com as IES´s das regiões que receberam o Projeto Rondon;

4. Organizar e disseminar o Movimento Pró-Rondon para buscar o fortalecimento do Projeto Rondon junto ao poder público tanto legislativo quanto executivo.

5. Lutar pela consolidação do Projeto Rondon enquanto política de Estado, através da subscrição de um Projeto de Lei de iniciativa popular.

6. Pautar a adição de estudantes pós-graduandos no Edital do Projeto enquanto profissional auxiliar na coordenação das equipes e adicionar a ANPG – Associação Nacional de Pós-Graduandos no COS.

Defender junto ao Ministério da Defesa a publicação dos relatórios finais das operações entendendo que:

1. Agrupam a radiografia dos rincões do Brasil sob o olhar dos estudantes que além de ajudar outras IES´s a melhorarem futuros projetos naquele município podem contribuir para que o poder público possa direcionar melhor as políticas públicas para aquela região;

2. Servem para serem instrumentos de pesquisas e análises futuras para produções científicas;

 Solicitar a rediscussão junto ao COS das operações retorno.

 Convidar o Ministério da Ciência e Tecnologia para participação no COS.

Assim, a UNE, os estudantes Rondonistas e a juventude brasileira sabem que através da unidade poderemos ganhar mais força. As lágrimas derramadas pela emoção no 1º Congresso se transformaram em vontade de luta, de mobilização em defesa do Projeto Rondon e da nossa nação. E pra quem pensa que isso pode ser só um sonho, saiba que isto aqui não é apenas um Projeto, mas sim a transformação de uma realidade.

Ribeirão Preto, 02 de setembro de 2013.

Comissão de Representantes Universitários Projeto RONDON.
 

Fonte: Site da UNE