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Clovis Calado: Elementos nocivos ao Partido revolucionário

Parte 2
No nosso artigo anterior Sobre o “Esquerdismo...” de Lênin, abordamos a questão sobre o caráter revolucionário do Partido Comunista que não pode simplesmente ser “comunista” por mera convenção, por palavras vazias.
Por Clóvis Calado*

A exemplo de partidos como o Partido Comunista Francês que vem renegando a cada década seu caráter revolucionário e há muito abandonou o marxismo-leninismo, se transformando num mero grupo social-democrata, desmoralizado e sem influência alguma na sociedade decadente da atual França.

A preocupação sobre a degeneração burguesa no seio do Partido vem desde os tempos em que Vladimir Lênin fundou o Partido de Novo Tipo, de Quadros Revolucionários Profissionais (e é dever de um comunista conhecer a obra O que fazer?, onde o clássico marxista russo desenvolve a teoria revolucionária do Partido).

Mesmo após a reorganização revolucionária do Partido Comunista do Brasil em 1962, os dirigentes de então já demonstravam que esse combate seria ad aeternum. A vigilância revolucionária é necessária enquanto existir (ou subsistir) as classes sociais. O Partido Comunista (bolchevique) de Toda a União, sob a direção de Stálin, falava bem antes, ainda na década de 1930, sobre essa preocupação nos períodos de crescimento do Partido, como veremos a seguir: “Ao retomar a admissão de novos filiados, o Comitê Central salientou às organizações do Partido o dever de não esquecer que sucessivamente os elementos inimigos tentariam se infiltrar nas fileiras do PC(b) (grifos nossos)…” (ver História do Partido Comunista (b) da URSS). Essa infiltração, também se dá em momentos de semi-liberdade (como o momento atual em que vivemos, sob a democracia burguesa (ou o tal “Estado democrático de Direito” tão louvado por alguns camaradas atualmente). Aliás, este momento nos faz criar ilusões perigosas do ponto de vista do avanço na luta pelo socialismo. Criou-se uma espécie de confiança exagerada no Poder burguês (assim como em outros momentos de nossa história caímos neste erro, mais precisamente em 1964). Num dos artigos publicados nesta Tribuna, observamos – o artigo da camarada Elza Alencar – certas falhas na análise da realidade brasileira atual quando, falando em “igualdade”, ela aponta que uma das alternativas é a criação de “um projeto de inclusão, através de cooperativas que socializem os lucros e dignifiquem o homem que poderão ser financiadas pelo Banco do Nordeste do Brasil como se faz o credi-amigo”. Cooperativas dentro do sistema capitalista não são alternativas “para se alcançar o socialismo”. A própria “socialização de lucros” depende de mecanismos do modo de produção capitalista. Definitivamente não romperemos com este modelo econômico e social se continuar acreditando na “humanização” do perverso sistema capitalista.

Estas visões, apegadas a um conceito errado de se ver a Luta de Classes, fora da análise marxista-leninista, é muito por culpa de uma linha ideológica (partidária) errônea que fabrica uma visão da realidade diferente da realidade concreta. Este Governo – apesar dos avanços significativos na questão da expansão do consumo para setores populares e trabalhadores – tem um caráter de classe majoritariamente burguês e cabe ao Partido evitar que concepções estranhas ao modelo de Partido de Novo Tipo implodam a organização revolucionária do Proletariado. Somos apenas um Partido legal que, a exemplo de outras agremiações burguesas, disputamos apenas eleições (e insistimos na nefasta ideia de “acumular forças para as batalhas eleitorais”) ou devemos ser o Partido do Proletariado, ligados às massas trabalhadoras, que tem o dever de denunciar diariamente o capitalismo e propagandear a necessidade do Socialismo?

Este combate – contra a invasão de elementos nocivos ao Partido (por mais votos que tenham em eleições burguesas viciadas) não basta ser somente no campo das idéias. É necessário ver caso a caso e fazer periódicas correções na linha partidária (autocríticas coletivas e mudanças na linha), além de expulsar de suas fileiras estes elementos que não se encaixem no marxismo-leninismo.

Somente um Partido claramente marxista-leninista, com uma linha justa, ligado às massas trabalhadoras, sintonizado com os reais problemas brasileiros e internacionais (e nesta área o Partido consegue ser mais coerente, embora cometa alguns equívocos), que leve adiante um Programa realmente na busque por uma ruptura revolucionária, que não crie ilusões em seus militantes no sentido de que – a qualquer hora – a burguesia irá convidar todos os comunistas para um banquete onde entregará o Poder com apertos de mãos e risadas, regados a um bom champanhe e biscoitos finos. Não é deste modo, passivo (ou pacífico, interpretem com quiser) que conseguiremos alcançar o socialismo. É preciso muita luta muita afirmação ideológica e somente o Partido verdadeiramente marxista-leninista, revolucionário de fato e não nas palavras, poderá chegar à um estágio mais avançado de Luta.

*Titulo Original: Todo cuidado é pouco com elementos nocivos ao Partido revolucionário

*Clóvis Calado é militante do PCdoB em Pernambuco.