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Jairo Junior: Partido coração

Parte 2
Disse no artigo anterior e repito que as teses apresentadas ao 13º Congresso é um belo ponto de partida, para o necessário debate que deve, em minha opinião, enriquecer a contribuição apresentada.
Por Jairo José Junior*

A segunda parte do primeiro tema trata de questões agudas e importantíssimas, da sempre trabalhosa e não menos gratificante construção partidária. Faz um balanço bem contextualizado das atividades, neste período, e define qual Partido nós precisamos e queremos.

Destaca corretamente o Programa Socialista como o seu maior trunfo político-teórico e explica que este deu “ dimensão concreta à estratégia, caminho de execução possível nas atuais condições, guia para ação no quotidiano político.”

No entanto, nos parágrafos anteriores, provoca: “..os desafios da construção partidária implicam o enfrentamento de complexos problemas políticos, ideológicos e organizativos que assumem a forma de pressão pelo rebaixamento de seu papel.”

Se nós queremos: “… um partido comunista de classe, popular e de massas, de quadros e militantes regidos pelo centralismo democrático…”, que partido de fato estamos a construir?

O PCdoB, sem duvida, tem crescido. Compreendeu a necessidade de conjugar as características de um partido revolucionário, de luta, com a nova realidade que exige um partido grande e fortemente vinculado ao povo! Conseguiu, no fundamental, romper com o pseudo vanguardismo de partido pequeno.

O desafio, diz a tese: “É firmar a concepção de permanência de princípios e identidade comunista, renovação de concepções e prática com base em um caminho próprio para o socialismo” E aí permanece a tensão que é positiva, entre um Partido de quadro e um Partido de massas. O Partido grande que perseguimos não é e nem pode ser uma organização que se contenta com o nível médio de consciência do povo e das massas.

Somos e nos consideramos vanguarda, mas para merecer este titulo precisamos ter retaguarda. A vida esta a exigir que incorporemos ao Partido um contingente maior, e à medida que crescemos necessita ainda mais de núcleos dirigente capazes, unidos e comprometidos.

Neste sentido vejo que uma tendência ronda o nosso partido. Uma tendência objetiva que atinge partidos de esquerdas, populares e comunistas em todo o mundo. Que é um afastamentos gradual de núcleos dirigentes da profilática relação social, com o povo e os trabalhadores.

É certo que a luta cada vez mais complexa em que o Partido se envolve exige núcleo dirigente e “burocracia” competentes e estáveis que por vezes se prolonga numa certa inércia e vai até a uma relativa inamovibilidade dos quadros.

Um teórico recentemente falecido e por um bom tempo maldito, entre nós, certa vez escreveu que “o cumprimento competente e eficiente das tarefas de lideranças e de organização burocrática exige a diferenciação em matéria de padrão e estilo de vida”. Entretanto, continua ele: “se o político profissional for zeloso e rigoroso na observância do comportamento pessoal, poderá evitar o incremento continuado da diferenciação, esquivando-se de exageros, de mordomias adquiridas por autocomplacência e assim por diante” Dentro deste raciocínio, contudo, seria muito difícil a eliminação completa desta diferenciação. Os (as) comunistas não são super-homens e nem super mulheres, são seres humanos “aparentemente” normais que tem como principal diferença a consciência e o compromisso com a causa.

Mas ocorre que o excesso de reuniões e as concentrações de tarefas, que, muitas vezes são buscadas com afinco pelo quadro terminam em alguma medida, por afasta-lo do contato necessário com a massa que dizemos e queremos representar. A convivência única exclusiva e permanente com comunistas e militantes leva invariavelmente a um deslocamento da avaliação da realidade o que prejudica enormemente a atuação do partido. Os comunistas atuam na realidade e de acordo com ela para fazer avança-la. Pois a realidade, nós sabemos, é a possibilidade que se concretizou. Mas a analise da realidade que é construída, sem o contraditório da vida, das diversidades de opiniões, do conflito natural, tem maiores chances de erros.

Há dirigentes que se contentam em fazer discursos em uma reunião para o povo e logo em seguida sai e vai pra outra atividade e nela manda outro discurso e no fim do dia contabiliza para quantos falou! Só que a propagação assim se torna uma via de mão única.

Pois é óbvio que faltara e falta, tempo pra ouvir, dialogar, interagir, sentir. Esta forma de agir acaba por gerar dirigentes e quadros impacientes e intolerantes com o contraditório. Ser contestado, pela massa ou mesmo militantes, passa a ser inadmissível! E aí o circulo restrito dos que, com estes, convivem e tem afinidades passa a ser base de formulação principal e transmissão de informação, que no geral sofre as injunções de tal situação.

O balanço do Partido neste período é vitorioso, mas em time que esta ganhando se mexe sim, para que ele continue ganhando e se fortalecendo. Por isso enfrentar tal situação com espírito construtivo despido de “verdades” e “modelos”, mas, com rumo e orientação consequente. Com medidas que possam se contrapor a esta tendência e supera-la. O antídoto a ela é se ligar mais ao povo, ouvir e entendê-lo. Neste sentido sugiro:

A) As composições de direções terem como vetor principal a renovação. E me refiro à renovação consequente e não fruto da ampliação dos números de membros dos organismos. Não seria o caso, ainda, de limitar o numero de recondução dos membros(as). Mas acho que teríamos que ser mais enfáticos nas alterações(rodízio) de funções. Algo em torno de no máximo dois mandatos na função. Isto forçaria um aproveitamento melhor de uma política de quadros e de formação e estimularia o indispensável reforço da composição com mais trabalhadores (operários), jovens, mulheres e negros. Afinal a renovação oxigena e rejuvenesce;

B) Que limitemos o numero de reeleição dos nossos parlamentares a três por instância. Ou seja, o militante eleito vereador pode ser reeleito por mais duas vezes e depois se quiser ou se o Partido assim entender que a contribuição dele é importante ele pode tentar ser eleito para Deputado, por exemplo. Penso que esta proposta está em consonância com a anterior. Pois o parlamentar não precisa, para cumprir e ajudar a luta institucional ficar décadas na função. A renovação é boa para quem exerce e boa para o Partido, pois projeta novas lideranças.

C) Extinguir a votação secreta para as instâncias dirigentes. A forma atual de votação não alterou pra melhor a nossa relação interna e não educou a militância a desenvolver sua consciência critica de dizer através do voto aberto o que acha do dirigente tal sobre sua continuidade ou não. O militante precisa ter coragem de assumir suas posições diante do coletivo
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Hobsbawn disse certa vez, que o mais importante feito histórico de Lênin, foi à construção do Partido Bolchevique. A que definiu como uma “formidável inovação de engenharia social”, mas Lênin, já com o Partido no poder, propôs a inserção no Comitê Central Bolchevique, de operários diretamente retirados das fabricas. Imaginava que tal atitude injetaria sangue novo, na tentativa, acredito, de reduzir os efeitos desta tendência. Infelizmente morreu antes.

*Jairo José Junior é membro da Comissão Política do PCdoB Paulistano