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Bolivar Sanches: Sobre a prática revolucionária

Parte 1
Um partido comunista que tem como objetivo o socialismo científico, não pode em momento algum vacilar sobre a centralidade da luta pelo poder político do estado, que se manifesta não só em seu programa, mas na prática política que desenvolve com este objetivo.
Por Bolivar Sanches*

As limitações classistas e programáticas inerentes às forças sociais que compõe as frentes políticas estabelecidas em processos históricos determinados, não podem ser as limitações dos comunistas na luta pelo poder, desde que o esforço por tornar a classe trabalhadora força de vanguarda ao longo deste processo não tenha sido subestimada, o nosso Partido acumula desenvolvimento elevado no campo teórico resta saber se a síntese entre teoria e prática se objetiva na prática política dos comunistas no Brasil.

O processo histórico atual

O momento histórico que o Brasil atravessa, não somente expressa parte de um processo de longa transição que busca consolidar o moderno estado nacional burguês brasileiro, como também evidencia as várias manifestações da luta de classes e seu reflexo na superestrutura da sociedade durante este processo. Conhecer este desenvolvimento é necessário para prática política na realidade histórica atual através de uma tática, uma linha política acertada, na condução dos objetivos estratégicos de conquista do poder político do estado através da ação das massas, tendo como vanguarda revolucionária a classe operária.

Esse processo histórico que percorre todo século 20 e adentra a primeira década do século 21 evidencia a luta de classes no período de construção do moderno estado burguês, determinante nas expressões e formas de poder político de estado. Os movimentos determinados pelo acirramento dos conflitos de classe manifestam vários níveis de luta em variadas esferas da vida política nacional e revelam que a atual superação do neoliberalismo, se insere em um todo histórico orgânico, como expressão político-econômica da dinâmica da correlação de forças a nível mundial e a ofensiva do imperialismo para dominação das nações com baixo desenvolvimento das instituições políticas e das forças produtivas. Este período causou graves retrocessos na estrutura e na superestrutura do estado brasileiro. Ao longo deste processo o acirramento dos conflitos de classe determinou o grau do enfrentamento, desde as disputas nos marcos de uma democracia representativa deformada e debilitada até os choques violentos. Da experiência recente da história do Brasil podemos destacar dois pontos que podem contribuir para tática política atual do Partido:

1-A burguesia brasileira não pode cumprir com o papel de vanguarda na consolidação de um moderno estado nacional e de desenvolvimento avançado das forças produtivas.

2-A burguesia brasileira vacilante é incapaz de acabar com a submissão de nossa nação ao imperialismo, ao capital financeiro e superar estruturas atrasadas, mesmo as tentativas que tiveram acabaram em grandes retrocessos políticos e sociais.

Se o objetivo é avaliar o momento atual e seus avanços e limitações, estes precisam ser determinados no curso de nosso processo histórico geral, então podemos compreender que este revela, não somente as contradições da luta de classes, mas as limitações inerentes da composição da frente política que conduz a atual etapa de construção do estado nacional, limitações estas de caráter classista pela burguesia e também programática pelos setores reformistas e sociais democratas. Evidencia-se a incapacidade dessas forças sociais já mencionadas de realizar as mudanças estruturais e democráticas que o Brasil precisa.

Pela primeira vez os comunistas chegam ao centro do governo, estes adentram ao século 21 com firmeza de princípios, convicção histórica e elevado grau de desenvolvimento teórico. Mas nossa prática política tem unificado nossa atuação em torno de nosso programa em todas as frentes de luta, preparado as condições para conquista do poder político?

Esta última revela-se excessivamente pragmática, burocrática e absorvida pela superestrutura do estado burguês, ou pelo dirigismo nos movimentos sociais, que não conseguem enxergar além das tarefas cotidianas e imediatas, apresentam dificuldade ou subestimam guiar-se pelo programa do Partido na perspectiva estratégica, não mostrando capacidade real de mobilizar amplos setores de alcance destes espaços colocando essas forças em movimento articulado, com objetivo de criar tensões sociais para romper disputar a hegemonia.

A perspectiva que o partido comunista não pode perder é a centralidade da luta do poder político de estado, sabendo ser necessário o avançado desenvolvimento das forças produtivas e da base material da qual se assenta a sociedade brasileira (concepção esta expressa em seu programa na forma de um novo projeto de desenvolvimento nacional – NPND) para o êxito na construção do socialismo, porém, em sua dinâmica a estrutura e superestrutura da sociedade revelam além da unidade, relativa autonomia umas das outras, dessa forma o estado e conseqüentemente a política refletem esta relativa autonomia frente ao desenvolvimento pleno das forças produtivas do capitalismo, claro que não podemos descuidar as condições históricas do ascenso revolucionário do povo, o nível de consciência e organização da classe trabalhadora e a vacilação das forças inimigas, tornando capaz de conduzir um amplo movimento de massas e consolidar a superação revolucionária do sistema capitalista e transitar ao socialismo.

*Titulo Original: As tarefas políticas atuais: Sobre a prática revolucionária

*Bolivar Sanches é membro da Comissão Estadual de Formação e Propaganda do PCdoB/RS.