Mídia alternativa pede estimulo para difundir cultura 

Pablo Capilé, do Coletivo Fora do Eixo, na audiência pública presidida pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), nesta terça-feira (17), declarou que tem produtor cultural que não consegue prestar contas adequadamente e no dia seguinte é chamado de "caloteiro" pela grande mídia. Essa mídia é exatamente a mesma que dá calote no Estado, sonegando mais de R$500 mil, atingindo o principal patrimônio de quem faz cultura, que é o estímulo e a disposição de difundir a cultura. 

Mídia alternativa pede estimulo para difundir cultura - Agência Câmara

Na audiência pública, além de Capilé, participaram o jornalista Bruno Torturra, da Mídia Ninja, e a professora e pesquisadora Ivana Bentes, da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A audiência pública, proposta pela deputada, debateu o papel da mídia alternativa no País e o modelo criado para disseminação de informação. O Mídia Ninja é voltado ao jornalismo. Ele se mistura com outro movimento mais direcionado à cultura, o Coletivo Fora do Eixo. Criado em 2005, em Mato Grosso, o Fora do Eixo reúne hoje cerca de dois mil integrantes em todo o País. É uma rede que vive de arte, mesmo sem estar ligada a grandes patrocinadores ou morarem no Rio de Janeiro ou São Paulo. Com pouco dinheiro, eles pagam parte das contas com troca de serviços.

Os dois jovens criticaram a forma como o governo trata a produção cultural. E reclamaram da falta e da má distribuição dos recursos públicos para incentivar a área, acrescentando que as verbas priorizam grandes eventos ao invés de pequenos produtores.

O integrante do movimento Fora do Eixo Pablo Capilé reclamou da burocracia exigida pelo governo, que os pequenos não conseguem cumprir. Outro problema, segundo Capilé, é a distribuição desigual de incentivos. “A verba destinada ao Rock In Rio via Lei Rouanet seria suficiente para manter o Fora do Eixo por 100 anos."

Na opinião de Capilé, é preciso criar mecanismos para tratar os diferentes de forma diferente. “Não dá para você achar que a perspectiva isonômica vai tratar o Itaú Cultural da mesma forma que trata o pequeno Ponto de Cultura."

Aliados no trabalho

Para a presidente da Comissão de Cultura, os movimentos sociais como o Mídia Ninja e o Fora do Eixo podem ajudar no trabalho do Legislativo para melhorar as áreas da cultura e comunicação. "Neste segundo semestre, a articulação com o movimento social ainda tem que se intensificar para que a gente consiga avançar em algumas pautas aqui muito difíceis. Uma delas é o orçamento, que é reclamação de todos, e a segunda é a democratização da comunicação."

Para a deputada, as discussões sobre produção alternativa de cultura e comunicação precisam ser intensificadas para que a Comissão de Cultura trace estratégias que ajudem a desenvolver os setores.

As duas mídias alternativas ficaram conhecidos durante as manifestações de junho e julho porque mostraram um ponto de vista dos protestos diferente do dos grandes veículos de comunicação. Do meio da multidão, transmitiam as movimentações ao vivo, pela internet.

Para alguns especialistas, isso não é jornalismo, porque falta profissionalismo. Já para outros, como para a diretora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ivana Bentes, é, sim, um novo fenômeno.

O jornalista Bruno Torturra diz que essa nova forma de divulgar os acontecimentos democratiza a informação. "A gente vive potencialmente a idade de ouro do jornalismo. A gente vive em uma sociedade que se define pela troca de informação, pela leitura frequente, pelo acesso aos fatos. Muita gente, até das camadas mais populares, tem smartphone. E como é que a gente está aceitando a ideia de que o jornalismo está morrendo? Tem um abismo geracional gigantesco nisso."

Da Redação em Brasília
Com Agência Câmara