Poesia marginal – ver e ouvir
Se a permanência do livro é volta e meia questionada, e há quem diga que a auto-publicação é a nova revolução na área, olhar para as publicações da Geração Mimeógrafo ou Marginal pode contribuir para se pensar esses movimentos atuais.
Publicado 20/09/2013 16:57

A exposição Poesia marginal – Palavra e livro, em cartaz no Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro até 10 de novembro deste ano, é um bom começo. Com curadoria do poeta Eucanaã Ferraz, ela reúne cerca de sessenta publicações, sobretudo livros da década de 1970, época em que a poesia marginal teve sua grande expressão.

Página interna de
Brasileia desvairada (1979), de Nicolas Behr
Para fazer circular e viabilizar a edição de sua poesia, Ana Cristina Cesar, Cacaso, Chico Alvim, Chacal, Zuca Sardan e vários outros inventavam e trocavam métodos: mimeógrafo; estêncil; xerox; ofsete; grampos em vez de costura; envelopes e sacos em vez de encadernação; papéis de baixo preço e considerados toscos; impressão em, no máximo, duas cores; carimbos.
Mais do que ser a forma possível, o livro então construído tinha relação direta com a poesia que se fazia à época: “(…) opunha-se de cara ao livro caro, ao objeto requintado da alta cultura, às soluções caras do esnobe mercado editorial. O livro barato era um objeto político: antiburguês”, explica Eucanaã Ferraz, curador da exposição.

Ilustração de Zuca Sardan para Ximerix
Ximerix, aliás, faz pensar se a poesia marginal ainda não estaria aí, ao guardar tanto elementos caros ao autor — como o humor que faz o leitor rir de personagens como condes, freiras e o comunismo, até se dar conta de que ri de si mesmo — quanto, no aspecto gráfico e plástico, as características dos panfletos que Sardan produzia há mais de quarenta anos. Também Nicolas Behr, que publicou seus últimos livros pela Língua Geral, ainda encontra em Brasília sua musa/sátira inspiradora e conserva a verve quase de guerrilha contra determinados valores sociais, como se notou de sua participação na última Flip.

Poesia marginal
A exposição sobre poesia marginal fica registrada também em livro. O catálogo traz artigo de Frederico Coelho; texto do curador Eucanaã Ferraz; portfólio das obras expostas; entrevista “Poesia hoje”, publicada em 1976, na revista José, com Heloisa Buarque de Hollanda, Ana Cristina Cesar, Geraldo Eduardo Carneiro e Eudoro Augusto; entrevista inédita com Heloisa Buarque de Hollanda e os poetas Chico Alvim, Chacal e Charles, mediada por Eucanaã Ferraz, com a participação do professor Eduardo Coelho; cronologia; e breve bibliografia.
Além de retomar um importante movimento na poesia brasileira, Poesia marginal – Palavra e livro deixa registrado muitos trabalhos que à época não encontravam a distribuição e as tiragens de hoje, sendo atualmente raríssimos; e mostra um posicionamento frente à literatura e ao mundo extremamente atual.
Serviço
Poesia marginal – Palavra e livro
Visitação: de 10 de agosto a 10 de novembro de 2013
De terça a domingo, das 11h às 20h
Instituto Moreira Salles
Rio de Janeiro – Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Tel.: (21) 3284-7400/ (21) 3206-2500
Entrada franca – Classificação livre
Fonte: Rascunho o jornal de literatura do Brasil – http://rascunho.gazetadopovo.com.br/