Pacifistas contra a guerra do Vietnã foram espionados nos EUA

A Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana escutou telefonemas e espiou atividades de várias figuras públicas que se opuseram à guerra no Vietnã, entre as décadas de 1960 e 1970, incluindo Martin Luther King, o pugilista Muhammad Ali, dois senadores e dois jornalistas. A existência da operação já era conhecida, mas os nomes dos alvos da NSA só foram revelados nesta quarta-feira (25).

Martin Lutherking - Reuters

A operação foi revelada por ordem do Painel de Recursos para a Classificação de Segurança, que deu uma resposta positiva a um pedido do Arquivo de Segurança Nacional, um instituto independente com sede na Universidade George Washington.

"Por mais chocantes que sejam as recentes revelações sobre a espionagem da NSA em território americano, ainda não foram apresentadas provas de que os serviços secretos atuais tenham feito algo como isto; monitorizar os inimigos políticos da Casa Branca", escrevem o historiador Matthew Aid e William Burr, do Arquivo de Segurança Nacional, no site da revista Foreign Policy.

O programa, conhecido como "Operação Minarete", tinha como objetivo inicial espiar traficantes de droga e suspeitos de terrorismo, mas foi direcionado para espiar alguns dos rostos que mais se destacaram nos protestos contra a guerra no Vietnã.

Lançado em 1967 por iniciativa do Presidente Lyndon B. Johnson, do Partido Democrata, foi mantido pelo seu sucessor, Richard Nixon, do Partido Republicano, e só terminou em 1973, no auge do escândalo Watergate, que levaria ao pedido de demissão de Nixon em Agosto de 1974.

A Operação Minarete não foi autorizada nem supervisionada por nenhum tribunal. Em meados da década de 1970, as suspeitas de que ativistas contra a guerra estavam sendo espionados levaram à criação do tribunal que autorizou os programas revelados nos últimos meses pelo antigo analista informático Edward Snowden, o Foreign Intelligence Surveillance Court (Fisc).

Mas esta não é a única ironia do destino. Um dos senadores cujos telefonemas foram escutados, Frank Church, do Partido Democrata, foi o principal impulsionador do debate no Congresso que teve como ponto mais alto a criação do Fisc, em 1978.

"Suspeito que o senador Church não fazia ideia de que a NSA estava ouvindo os seus telefonemas", disse o historiador Matthew Aid ao jornal britânico The Guardian.

Para além de Martin Luther King e Muhammad Ali, que foi proibido de praticar pugilismo entre 1967 e 1970 por ter se recusado a combater no Vietnã (a sua frase "Nunca nenhum vietcongue me chamou de preto" ficou para a história), fizeram parte da lista de personalidades espionadas pela NSA o jornalista do The New York Times Tom Wicker e o famoso colunista satírico do The Washington Post, Art Buchwald.

"Se há uma lição a tirar de tudo isto, é que quando estamos lidando com uma sociedade não transparente como a comunidade dos serviços secretos, que tem um enorme poder, os abusos podem e costumam acontecer", afirma o historiador Matthew Aid.

Com informações do Público