A brasileiríssima canoagem

Quando os portugueses fizeram os primeiros contatos com os habitantes da que chamaram Terra de Santa Cruz, os índios não estranharam o batel que os levou à nau de Cabral. Impressionaram-se com as miçangas e as galinhas, que nunca tinham visto, mas canoas movidas a remo eram um artefato comum nas aldeias. Daí porque o agora esporte olímpico da canoagem talvez seja, ao lado de seu parente remo, o mais genuinamente brasileiro, originado entre nós das ubás esculpidas na casca do jutaí.

Usavam as canoas para a pesca e transporte, não para a competição. Mas hoje a modalidade consta dos Jogos Indígenas que o Ministério do Esporte realiza de dois em dois anos – os próximos estão marcados para novembro, em Cuiabá. E dois centros de treinamento da canoagem estão sendo montados na Amazônia, para difusão das técnicas modernas da arte de remar caiaques.

Oxalá eles possam um dia juntar-se à equipe de competidores nacionais que têm brilhado nas águas do mundo. Nesses dias, o baiano Isaquias Queirós tornou-se o primeiro brasileiro campeão mundial de canoagem, em prova realizada em Duisburg, na Alemanha. Na paracanoagem conquistamos dois ouros e um bronze e o paulista Fernando Fernandes, que ficou paraplégico em acidente de carro em 2009, sagrou-se tetracampeão do mundo em sua categoria. Tais vitórias autorizam a expectativa de que a antiga tradição indígena enfim será gloriosa em Olimpíadas, ajudando o Brasil a atingir a meta de ficar entre os dez primeiros colocados nos jogos do Rio de Janeiro em 2016.

Uma das razões para acreditarmos no progressivo o sucesso internacional do esporte praticado em pequenas embarcações a remo é o inédito apoio dado pelo governo. Atletas filiados à Confederação Brasileira de Canoagem recebem neste ano mais recursos da Bolsa-Atleta que os praticantes de modalidades já muito premiadas, como vela e judô, até porque estas têm mais patrocínios privados

Aldo Rebelo é ministro do Esporte e deputado federal licenciado pelo PCdoB/SP

Fonte: Diário de S. Paulo