Morte de africanos ressalta debate sobre políticas migratórias

Com mais de 300 mortos ou desaparecidos de um barco de migrantes africanos que virou próximo à ilha italiana de Lampedusa, na semana passada, a tragédia da migração irregular e arriscada, que tem resultado em diversas mortes, volta ao noticiário. Mas essas tragédias são inevitáveis enquanto não houver mudanças nos fatores fundamentais dessa situação, afirma um artigo do portal All Africa, deste domingo (6).

Imigrantes africanos chegando à Europa - AP Photo/EFE/Manuel Lerida

Assim como no caso dos migrantes mexicanos que atravessam o deserto da fronteira com os Estados Unidos, as desigualdades estruturais entre regiões ricas e empobrecidas do mundo fazem destas viagens de alto risco uma alternativa a situações de desemprego e de insegurança.

Os países que estes migrantes tentam alcançar, ao invés de estabelecer sistemas de imigração legal para proteger os que estão em risco, concentram-se em construir barreiras mais altas e expandir programas de detenção e deportação.

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Segundo uma reportagem da emissora BBC, deste domingo (6), os sobreviventes do acidente próximo a Lampedusa “serão postos sob investigação por ‘imigração clandestina’, como previsto pela controversa lei de imigração impulsionada por partidos de direita, em 2002. A ofensa carrega também uma multa de 5.000 euros”.

O governo italiano afirmou que corrigirá as leis de imigração. Membros do Parlemento reclamaram que algumas das provisões inclusive desencorajam pessoas que pudessem prestar assistência a migrantes em perigo.

Os pescadores que chegaram ao local do acidente, Vito Fiorino, acusou a Guarda Costeira de perder tempo ao fazer gravações dos esforços de resgate. “Eles se recusaram a trazer a bordo algumas pessoas que já havíamos salvado porque alegaram que o protocolo os proibia”, disse Fiorino, citado pela agência de notícias Ansa.

Situação de risco e política de migração

Um artigo do jornal The Guardian, do começo deste mês, afirmou: “Atualmente, é preciso uma tragédia cinematográfica para que os barcos dos migrantes alcancem as primeiras páginas”. Nas duas últimas décadas, informa a matéria, quase 20.000 pessoas perderam as vidas em um esforço para alcançar as fronteiras do sul europeu, da África e do Oriente Médio.

Críticos da política europeia notam que além das mudanças fundamentais, há muitos passos possíveis para assegurar que haja menos tragédias. Estas mortes, afirma a manchete do Guardian, são uma repetição de “perdas em grande parte evitáveis”.

No começo do mês, a Organização das Nações Unidas realizou um Diálogo de Alto Nível sobre Migração e Desenvolvimento que inclui debates sobre a insegurança a que se submetem os migrantes, sobre os programas dos países de destino para a migração e sobre a necessidade de mudança de perspectiva sobre a migração internacional.

“É essencial que a discussão foque na dimensão humana. Todos os migrantes são protegidos pelos direitos humanos internacionais, não importa qual seja a situação ou status administrativo”, disse François Crépeau, relator especial da ONU para os direitos dos migrantes, durante a abertura do evento.

Os países tendem a focar em questões securitárias quando se trata da migração, e não levam em consideração que “99,9% dos migrantes irregulares não apresentam qualquer ameaça”, completou. O potencial positivo da migração para o desenvolvimento e a cooperação internacional também foram focados pela reunião de alto nível.

Com informações do portal All Africa,
Moara Crivelente, da redação do Vermelho