Líbia: o país inteiro é refém?

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, condenou duramente os sequestradores do primeiro-ministro Ali Zeidan e expressou a esperança de que os dados tornados públicos sobre sua libertação correspondam à realidade.

Ali Zeidan, primeiro-ministro da Líbia

Como se soube recentemente, esta história terminou bem. Entretanto obrigou a encarar criticamente mais uma vez a situação na Líbia, que não pode ser qualificada de outra forma a não ser de caos ingovernável.

"Eu condeno energicamente este sequestro", declarou Ban Ki-moon aos jornalistas depois de contatos em alto nível dos dirigentes dos países da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Brunei.

O próprio Zeidan expusera pouco antes em sua página no Twitter sua versão dos acontecimentos. Na opinião dele, o objetivo dos sequestradores foi uma tentativa de obrigá-lo a abandonar o cargo de primeiro-ministro. Lembramos que mais de cem combatentes armados “até aos dentes” levaram o governante do hotel Corintian, onde este se encontrava.

Sendo que, segundo testemunhas, durante o incidente ninguém abriu fogo, os sequestradores agiram respeitosamente. E até mesmo apresentaram ao pessoal uma ordem de prisão, supostamente emitida pela Promotoria Geral. Esta, posteriormente, desmentiu a informação sobre a emissão do documento.

Já depois esclareceu-se que o sequestro foi organizado pelo Centro de Comando dos Revolucionários Líbios, formalmente sob controle do Ministério do Interior e do Exército, mas, que, de fato, atua com autonomia. Semelhantes situações no país, mergulhado numa situação caótica, irão inevitavelmente se repetir, considera Anatoli Egorin:

"Zeidan visitava um dos hotéis quando lhe perguntaram por que há tantos atos semelhantes na Líbia, ele concordou que as autoridades não são capazes de dar conta do banditismo e têm de pedir ajuda de fora. Isto lhe custou, talvez, o sequestro, porque os líbios não gostam absolutamente de interferência em seus assuntos internos. Tais declarações poderiam não ter agradado a alguém. Penso que são acertos de contas internos."

Segundo tudo indica, o número de tais “acertos de contas” irá aumentar sem parar. Depois da operação dos aliados ocidentais, a Líbia, que outrora era perfeitamente próspera, transformou-se, em essência, em território de permanente luta interna. Os choques entre clãs e tribos ocorrem ali praticamente todos os dias. O dirigente do Instituto de Estudos Orientais Aplicados, Said Gafurov, lembrou que os islamitas ligados à Al-Qaida sequestram com frequência altos funcionários do Estado e políticos, e não apenas na Líbia.

"Muitos consideram que estes homens estão envolvidos também nos sequestros e assassinatos de primeiros-ministros. A primeira coisa que vem à memória é o Paquistão, onde se isto não é normal, é um fenômeno muito difundido. As medidas de segurança adotadas lá são excecionais e, aos poucos, começam a dar resultado. Pode-se lembrar a Argélia. Este instrumento para os islamitas é perfeitamente normal. Depois surge a negociação, onde não se exclui variedades de compensação política, material e até mesmo de carreira."

Vale a pena assinalar que os próprios sequestradores do primeiro-ministro líbio negam a relação do incidente com a recente operação especial dos EUA, em consequência da qual foi preso um dos comandantes de campo Abu Anas Al-Libi.

Ele é acusado de envolvimento nas explosões junto da embaixada dos EUA no Quênia e Tanzânia em 1998. Aliás, as autoridades líbias, por motivos desconhecidos, definiram as ações das forças especiais como sequestro e exigiram de Washington esclarecimentos.

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, aliás, avaliou altamente a operação especial na Líbia, como demonstração da fidelidade dos norte-americanos à causa do combate ao terror. Como se eles próprios não tivessem se tornado uma das causas de seu alastramento no Oriente Médio e Norte da África.

Fonte: Voz da Rússia