O inquietante avanço da extrema direita na França

A ultra-direita francesa, representada pela Frente Nacional (FN), registra durante os últimos anos uma ascensão perigosa que alguns analistas atribuem à crise econômica e outros a uma mudança de imagem do partido.

A FN, qualificada como ideologia neofascista, foi fundado em 1972 por Jean-Marie Le Pen, veterano das guerras da Indochina e Argélia.

Le Pen conseguiu chegar com seu partido em 2002 até o segundo turno das eleições presidenciais, tendo sido derrotado estrondosamente por Jacques Chirac, por 82% de votos contra 17%.

Este tipo de organização política, que durante a última década teve um avanço na Europa, é caracterizado por seu discurso nacionalista, xenófobo e principalmente contra os migrantes, a quem culpam pelo desemprego e a insegurança.

O polêmico fundador do FN foi condenado em 2008 pelo tribunal correcional de Paris a três meses de prisão condicional e uma multa de 10 mil euros por apologia de crimes de guerra.

Jean-Marie Le Pen disse que "a ocupação nazista da França não foi particularmente desumana, apesar de que teve alguns atropelos, inevitáveis em um país de 550 mil quilômetros quadrados".

Le Pen tinha sido penalizado em três ocasiões por atacar migrantes, defender a desigualdade de raças e por declarar que as câmaras de gás só foram "um detalhe na história" durante a Segunda Guerra Mundial.

Em janeiro de 2011 o criador do FN foi substituído por sua filha, Marine Le Pen, jovem e divorciada, que tratou de mudar a estratégia da organização, abandonando as ideias mais polêmicas para "santificar" a frente e se converter em um partido que pretende governar.

A maquiagem do discurso, junto à contratação de especialistas e profissionais assim como outros fatores sociais, permitiu que a organização ficasse em terceiro lugar no primeiro turno das eleições presidenciais de 2012.

Em junho deste ano a eleição parcial na comuna de Villeneuve-sur-Lot para designar o prefeito fez soar o alarme, quando o candidato da Frente Nacional ocupou o segundo lugar e disputou o turno decisivo.

Para impedir o triunfo do FN, a esquerda chegou a pedir votos para a conservadora União por um Movimento Popular (UMP), que saiu vitoriosa, ainda que o representante da ultra-direita tenha obtido 46% de votos.

Agora, nas eleições em Brignoles, o candidato do FN teve mais apoio que a UMP e ambos deverão disputar o segundo turno no próximo domingo.

Uma pesquisa recém publicada em Paris indica que a Frente Nacional estará adiante na intenção de voto para as eleições ao Parlamento Europeu, que acontecerão em maio do próximo ano.

A pesquisa aponta 24% da intenção de votos na FN, acima da UMP, com 22%, e do social-democrata, no governo, Partido Socialista, com 19%.

Marine Le Pen e o FN chegaram a posições tão elevadas cavalgando sobre a crise econômica, o desemprego, a insegurança e outros problemas que causam mal-estar na sociedade.

Desde o início das turbulências econômicas, em 2008, o desemprego mantém uma curva ascendente e já afeta mais de 3,2 milhões de pessoas. Se forem considerados também aqueles que têm trabalho a tempo parcial, a cifra se eleva a 4,8 milhões.

O constante fechamento de fábricas, a continuação das políticas de austeridade e o aumento dos impostos são outros dos problemas que não foram resolvidos durante a administração de François Hollande, do Partido Socialista.

"A história da Europa nos mostra como no passado as crises se resolveram com a guerra e com o fascismo", segundo declarou recentemente o dirigente da Frente de Esquerda, François Delapierre.

É nestes momentos que a Frente Nacional encontra terreno fértil para seu discurso com propostas como sair do euro e voltar à moeda nacional, frear a imigração e aplicar a tolerância zero contra a delinquência.

Questionado neste quinta-feira (10) sobre as causas do crescimento da ultra-direita, o ministro francês de Agricultura, Stéphane Le Foll, atribuiu esse crescimento à crise econômica.

Para a Frente de Esquerda e o Partido Comunista, no entanto, a origem do fenômeno está no fracasso das políticas levadas a cabo pelos últimos governos.

Fonte: Prensa Latina