Amal Khalil: Hamas e Hezbolá ainda não planejam um encontro

Quando a notícia circulou, há alguns dias, sobre a vinda a Beirute [capital do Líbano] do chefe do birô político do Hamas [movimento de resistência islâmica da Palestina], Khaled Meshaal, para participar de uma conferência sobre Jerusalém, muitos interpretaram o passo como parte de uma melhoria das relações com o Hezbollah [partido da resistência libanesa], depois de a crise síria ter causado uma tensão entre os dois movimentos de resistência.

Por Amal Khalil*, no portal Al-Akhbar

Meshaal e Nasrallah - Ikhwan Web

Mas resultou que Meshaal falou através de um vídeo, desde a Turquia, onde estava conduzindo alguns negócios. O representante do Hamas no Líbano, Ali Baraka, explicou que este era o plano desde o começo, e que o líder palestino não tinha tencionado ir pessoalmente ao evento de Beirute.

Observadores próximos não detectaram nada fora do comum no discurso de Meshaal que pudesse sugerir uma mudança dramática no direcionamento político do movimento com relação à crise síria [em que o Hezbollah atua, em apoio ao governo de Bashar Al-Assad].

Em resposta às críticas sobre a situação de Jerusalém, hoje, pedir uma aparição física do líder palestino, Baraka disse que a reunião não era uma conferência oficial, mas uma série de oficinas que planejavam discutir o perigo crescente aos locais sagrados na cidade ocupada [por Israel] e aos residentes palestinos.

Críticos, entretanto, sugerem que Meshaal ainda não está pronto para comparecer em um país como o Líbano, onde o eixo da resistência (Hezbollah, Síria e Irã) tem presença forte, porque ele não quer contrariar seus novos patrocinadores do Golfo, do Catar e da Arábia Saudita.

Estranhamente, a emissora do Hezbollah, al-Manar, não transmitiu a sessão de abertura da conferência, quando o líder palestino falou, como seria comum em tais eventos.

Da sua parte, Meshaal convocou a união pela questão de Jerusalém, ressaltando a necessidade de estabelecer as capacidades militares necessárias que podem devolver Jerusalém aos árabes e aos muçulmanos.

Meshaal concluiu com uma referência à crise síria, sublinhando o “direito dos povos árabes e muçulmanos de lutarem pela sua liberdade, democracia e dignidade de forma pacífica, longe da violência e do sectarismo, e longe da interferência externa nos nossos países”.

*Amal Khalil é comentarista de assuntos do Oriente Médio e contribui regularmente para o portal libanês Al-Akhbar.

**Título original: "Hezbolá e Hamas ainda não estão prontos para encontrarem-se cara a cara"

Fonte: Al-Akhbar
Tradução: Moara Crivelente, da redação do Vermelho