Denúncias de Snowden estimula debate global sobre Internet
As denúncias de espionagem dos EUA a vários países do mundo pode ser o estopim para impulsionar a discussão sobre uma nova governança da Internet, algo que tinha a oposição de muitos do principais países do mundo. A opinião é do conselheiro da Anatel e membro do Comitê Gestor da Internet (CGI) Marcelo Bechara, que participou, ao lado do ministro Paulo Bernardo e outros representante do governo, do Internet Governance Forum (IGF), realizado em Bali, na Indonésia, na semana passada.
Publicado 29/10/2013 17:09
"Eu acho difícil ficar do jeito que está", afirma Bechara em relação ao modelo atual de governança da Internet. Isso porque a espionagem estadunidense não foi um fato isolado, mas atingiu diversos países do mundo, como Alemanha, França, México e Espanha. Durante o IGF, o Brasil convidou os países a discutir o assunto em evento a ser realizado no primeiro semestre do ano que vem, provavelmente no Rio de Janeiro. Segundo Bechara, o convite brasileiro foi bem recebido pelos representantes dos países que estiveram no IGF. "O Brasil goza de credibilidade. Primeiro porque foi vítima (da espionagem) e segundo porque somos um país totalmente democrático”, afirma ele.
Bechara explica que a ideia é fazer um evento com uma agenda própria, capaz de gerar resultados futuros. "O IGF é da ONU. A gente quer uma coisa mais pragmática, um ambiente mais conclusivo. Um evento com a sua própria agenda e que não vai atropelar nenhum outro", afirma ele, explicando por que não discutir a questão no âmbito do próprio IGF, cujo próximo encontro deverá acontecer na Turquia. O Brasil, contudo, já apresentou sua candidatura para o IGF 2015.
Embora vários países indiquem concordar com a proposta brasileira – baseada em cinco princípios do decálogo do CGI –, Bechara explica que há diferentes nuances de entendimento do que seria o modelo multistakeholder. Para uns seria algo como "multigovernos", ou seja, uma governança efetuada pelos governos dos países. No outro extremo há aqueles que acreditam que o ideal seria um modelo sem governo, só com a participação da sociedade civil. E ainda outros, segmento que é protagonizado pelo Brasil, acreditam em um modelo com representação do governo e da sociedade civil. "A Internet teve sua confiança abalada. Precisamos reestabelecer essa confiança", analisa.
De qualquer forma, inevitavelmente o papel da Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (ICANN), por exemplo, seria discutido. "O próprio presidente da ICANN disse à presidenta Dilma que a ICANN precisa ser internacionalizada", afirma Bechara.
Fonte: Teletime