Bruno Peron: Avaliação do Ensino Secundário

Realizou-se, no fim de semana de 26 e 27 de outubro de 2013, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O Enem surgiu em 1998 como proposta do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) para avaliação anual dos conhecimentos gerais de estudantes concluintes e egressados do Ensino Secundário no Brasil. Os resultados do Enem oferecem informação estatística importante para melhorar a eficiência de políticas públicas educacionais.

Por Bruno Peron*

O Ensino Básico e o Secundário são pontos fracos no Brasil porque não se têm formado bons cidadãos. Por isso o sucesso do Enem é extremamente relevante na aferição da qualidade da educação no país. A expectativa é de que estudantes cheguem à universidade com o nível necessário de conhecimentos gerais a fim de que sua formação siga da melhor forma possível.

O controle sobre o procedimento de impressão e distribuição das provas do Enem está cada vez mais rigoroso. Ele envolve uma cadeia complexa de segurança. As provas de 2013 foram guardadas num armazém do Exército em São Paulo antes de que fossem transportadas aos demais estados. Aloízio Mercadante, Ministro da Educação, alertou que várias instituições de segurança pública garantem a credibilidade neste procedimento. Ele referiu-se às Forças Armadas, Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.

Os organizadores do Enem de 2013 preocuparam-se com as redes sociais da Internet através da vigilância do acesso de estudantes que fizeram a prova. Os candidatos proibiram-se de publicar mensagens e fotos nelas durante a prova; uma comissão vasculhou as redes sociais pelos nomes dos candidatos em busca de conteúdo que os elimine pelas regras de segurança. Seus pertences ficaram lacrados embaixo da mesa durante a realização da prova. Assim, evitou-se o uso da tecnologia a serviço da trapaça para que os honestos não se prejudicassem.

Rigor maior aplica-se em todo o procedimento de realização do Enem. Isto ocorre depois da denúncia de que o caderno de questões havia sido roubado de uma gráfica, o tema de redação havia vazado e números das questões haviam sido trocados no gabarito em anos anteriores. Os esforços na garantia de segurança do procedimento do ENEM aumentaram depois que se decidiu que o resultado desta prova poderia substituir o vestibular no acesso a várias universidades públicas e na adição de pontos ao resultado final dos exames vestibulares.

O Enem é um exame abrangente e muito bem preparado. Os candidatos a vagas em universidades públicas empenham-se em fazê-lo porque trata-se de uma avaliação mais analítica e menos funcional que a que se aplica pelos principais vestibulares no país. Contudo, a atenção desvia-se ao incremento da segurança em vez de focar no aumento e na melhoria das vagas nas universidades, já que tantos brasileiros buscam inserção no Ensino Superior.

Vestibular é um momento de concorrência, disputa e tensão, porém o Enem é uma proposta examinadora distinta dos vestibulares tradicionais. O desejável e também o inesperado podem acontecer a despeito de anos de estudos. Candidatos menos propensos ao estudo tendem a confundir obtenção de conhecimento com acúmulo de informações que só servirá para reduzir ainda mais o gosto pelas artes e as ciências. Sendo assim, o Enem disfarça este déficit educacional no país (de vagas nas universidades) com uma prova menos entediante.

O “exercício da cidadania” continua sendo um lema cujo significado se enfatiza num país ávido de progresso. É uma expressão que se reproduz com frequência por instituições públicas, mas que se entende pouco devido ao nosso despreparo em ser bons cidadãos.

Estudantes que trapaceiam em exames enganam-se a si mesmos e não aos outros. Numa sociedade justa, não só haveria vagas na universidade para todos os que queiram cursá-la mas também senso de justiça entre cidadãos. Estes se esforçariam para melhorar seu desempenho sem trapacear outros candidatos (com uso de “colas” em canetas, escutas telefônicas e artifícios alternativos que fazem mal uso da tecnologia), e entenderiam que o bom preparo para este exame não só garantiria acesso a uma universidade mas prepará-los-ia para a vida.

*Bruno Peron é colaborador do Vermelho. Bacharel em Relações Internacionais, mestrado em Estudos Latino-americanos pela Universidade Nacional Autónoma do México (UNAM) e doutorando em Administração Cultural em Birkbeck College, Universidade de Londres.