Documentos revelam ligação de Clarín com a ditadura na Argentina

Dentre os 1,5 mil documentos da ditadura argentina, descobertos na semana passada e divulgados pelo governo argentino na terça-feira (5), diversos revelam que a junta militar nos anos 70 ajudou as empresas jornalísticas Clarín e La Nación a comprar parte da Papel Prensa, maior empresa de papel-jornal do país. 

Documentos revelam ligação de Clarín com a ditadura na Argentina - Pragmatismo Político

Alguns documentos tratam da detenção da família Graiver, dona da fábrica de papel de jornal Papel Prensa. O ministro da Defesa da Argentina, Agustín Rossi, anunciou a descoberta de registros relacionados à empresa, que tem como sócio majoritário o Clarín, com 49% das ações; o La Nación, que tem 22,5%; e o Estado, com 27,5%.

O ministro disse que, segundo os documentos, os donos das empresas jornalísticas teriam ligação com a ditadura e por isso conseguiram comprar a fábrica dos Graiver. A revelação foi feita em meio à disputa entre o governo argentino e o grupo Clarín (o maior conglomerado de mídia do país).

Leia também:
Mercedes Sosa é citada em documento inédito da ditadura argentina
Argentina: Acuado, Clarín diz que vai se adequar à Lei de Meios
Lei de Meios: Sanção é importante para democratizar comunicação


Em 2010, a presidente Cristina Kirchner afirmou que a venda da empresa foi ilegal. O governo chegou a apresentar um documento como prova de que a negociação teria ocorrido em meio a ameaças, torturas e prisões dos membros da família Graiver. O Estado entrou com ação na Justiça contra o Clarín e o La Nación por "crime contra a humanidade".

Segundo informações publicadas na época, os grupos Clarín e La Nación afirmam que a negociação foi feita de forma legal e antes de terem acontecidos as prisões e torturas.

O Supremo Tribunal acaba de declarar a constitucionalidade da Lei de Meios, aprovada em 2009, que limita a atuação dos grandes grupos de comunicação. O Grupo Clarín (principal voz opositora ao governo) recorreu à Justiça, alegando que a nova legislação feria os direitos adquiridos e censurava a informação. Com a decisão do Supremo, a empresa apresentou um plano de adequação (que inclui a venda de ativos) que será examinado pela Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual (Afsca), responsável pela aplicação da lei.

Descoberta

No total, são 1,5 mil documentos inéditos, 280 deles com as transcrições de gravações das reuniões da junta militar que governou o país entre 1976 e 1983. Os arquivos foram encontrados em uma “limpeza” pedida pelo chefe da Força Aérea, brigadeiro Mario Callejo.

"Encontramos seis pastas com atas secretas da junta militar”, disse o ministro da Defesa.

Até agora, a maior parte das informações sobre o chamado “processo de reorganização nacional”, surgiram de investigações feitas pela Justiça ou de denúncias de sobreviventes ou de parentes e amigos das vítimas. Mas os chefes das juntas militares, processados e julgados, nunca forneceram detalhes de como planejaram atuar.

Desaparecidos

Nos documentos verifica-se que os militares registraram pedidos de parentes e amigos de pessoas que haviam sumido nos porões da ditadura, mas davam instruções para evitar o uso da palavra “desaparecido”. Preferiam falar em “pessoas de paradeiro desconhecido”. Havia também uma lista negra com nomes de artistas e escritores famosos (como Mercedes Sosa e Julio Cortázar) e discussões sobre a disputa com o Chile pelo Canal de Beagle (que quase acabou em guerra).

Da redação do Vermelho,
Com informações da Agência Brasil e Prensa Latina