Subcomandante Marcos critica moderninhos e esquerda bem-comportada

No informe intitulado "Más e não tão más notícias", subcomandante Marcos se posiciona diante da ofensiva “anti-anarquista que levantam as boas consciências e a 'esquerda bem-comportada', unidas na santa cruzada com a direita ancestral para acusar jovens e velh@s anarquistas".

Por Marcelo Netto Rodrigues, no Brasil de Fato

Professora da EscolinhaZapatista/ Foto: Moysés Zúñiga Santiago

Em comunicado divulgado no dia 3 de novembro, o subcomandante Marcos defendeu anarquistas e black blocs e mandou um recado para os “moderninhos”, com os seus “ismos”, e para a esquerda “bem-comportada”.

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No informe intitulado “Más e não tão más notícias”, Marcos se posiciona frente à ofensiva “anti-anarquista que levantam as boas consciências e a 'esquerda bem-comportada', unidas na santa cruzada com a direita ancestral para acusar jovens e velh@s anarquistas por desafiarem o sistema (como se o anarquismo tivesse outra opção)”.

Entre detalhes operacionais de quanto custou a primeira etapa da Escuelita Zapatista, realizada em agosto com 1.281 pessoas de todo o mundo, e ataques às “reformas estruturais” de fachada prometidas pelo governo mexicano, o porta-voz zapatista refez o convite para que outros venham participar da segunda etapa da escuelita, prevista para acontecer no final de dezembro deste ano. Com um detalhe:

“Venham, mas venham para escutar e aprender, porque houve quem veio [na primeira etapa da escuelita] para querer dar aulas de feminismo, vegetarianismo, marxismo e outros 'ismos'. E agora estão desgostosos porque os zapatistas não obedecemos o que nos vieram ensinar: que devemos mudar a lei revolucionária de mulheres como elas dizem e não como decidam as zapatistas; que não entendemos as vantagens da maconha; que não façamos nossas casas de cimento porque é melhor com adobe e palha; que não usemos calçados porque ao andar descalço estaríamos mais em contato com a mãe-Terra. Enfim, que obedeçamos o que nos vem a ordenar… ou seja, que não sejamos zapatistas.”

Quanto à ofensiva contra os anarquistas, a quem acusam “de serem os responsáveis por tudo o que está acontecendo”, Marcos os convidou a escreverem, no momento da inscrição para a segunda escuelita, ao menos uma folha de papel, ou uma palavra, sobre as acusações que lhes estão sendo impostas.

“Compas anarquistas: nós, @s zapatistas, não vamos culpabilizá-los por nossas deficiências […], nem vamos lhes fazer responsáveis pelos nossos erros, nem muito menos, vamos persegui-los por serem quem são. Mais ainda, lhes conto que vários convidados em agosto cancelaram sua vinda porque disseram que não podiam compartilhar a aula com “jovens anarquistas, esfarrapados, punks, cheios de brincos e tatuagens”, que esperavam (os que não são jovens, nem anarquistas, nem esfarrapados, nem punks, nem cheios de brincos e tatuagens) uma desculpa e que se aperfeiçoasse a inscrição. Seguem esperando inutilmente.

O que queremos lhes pedir é que, no momento da inscrição, entreguem um texto, no máximo de uma folha de papel, onde respondam às críticas e acusações que lhes têm feito os meios de comunicação pagos. Este texto será publicado numa seção especial de nossa página eletrônica e em uma revista-fanzine-como-se-diga que está prestes a aparecer no mundo, dirigida e escrita por indígenas zapatistas. Será uma honra para nós que em nosso primeiro número esteja sua palavra junto a nossa.

Vale uma folha só com uma palavra que abarque todo o espaço: algo como “Mentem!”. Ou algo mais extenso como “Eu lhes explicaria o que é o anarquismo se pensasse que iam entender”; ou “O anarquismo é incompreensível para os anões do pensamento”; ou “As transformações reais primeiro aparecem na nota vermelha”; ou “Tô cagando com o policiamento do pensamento”; ou a seguinte citação do livro “Golpes e contra-golpes”, de Miguel Amorós: “Todo mundo deveria saber que o Black Bloc não é uma organização, sim uma tática de luta de rua similar à 'kale borroka', que uma constelação de grupos libertários, “autônomos” ou alternativos vinha praticando desde as lutas dos squats (“okupações”) nos anos 1980 em várias cidades alemãs' e agregar algo como 'se vão criticar algo, primeiro investiguem bem. A ignorância bem redigida é como uma idiotice bem pronunciada: inútil igual.”