Direita quer mais arrocho fiscal, recessão e desemprego

Com forte apoio da mídia burguesa, a oposição neoliberal ao governo Dilma, liderada pelo PSDB, decidiu deflagrar o que o secretário do Tesouro, Arno Augustin, denunciou na terça-feira, 5, como um “ataque especulativo” contra a economia com base em notícias sensacionalistas que dão conta de um suposto (e na verdade falso) descalabro das contas públicas.

Por Adílson Araújo*, no Portal CTB 

Augustin colocou o dedo na ferida ao apontar o monopólio midiático, exercido por meia dúzia de famílias capitalistas, como principal veículo da ofensiva neoliberal. Não é difícil verificar que ele está coberto de razão. Verifiquem o título da manchete estampada na capa da Folha de São Paulo desta quarta-feira (6), “Desconfiança no governo Dilma faz dólar ter forte alta”, ou do principal editorial do Estadão, do mesmo dia, “O alucinante fiasco fiscal”, inumeráveis artigos com conteúdo parecido. 

Trata-se de uma campanha bem orquestrada pela direita neoliberal, que compreende também as recentes críticas do FMI à política fiscal e da ex-senadora Marina Silva, que reclamou do suposto abandono do tripé legado por FHC e consagrado na Carta aos Brasileiros, de junho de 2002, que estabelece um conjunto de compromissos com a oligarquia financeira e amarra a política econômica ao tripé neoliberal dos juros altos, câmbio flutuante e superávit primário.

As forças conservadoras parecem perseguir dois objetivos nesta ofensiva: pressionar por novas elevações das taxas de juros, tendo em vista a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), marcada para os dias 26 e 27 de janeiro, bem como por mais cortes nos gastos e investimentos públicos; desgastar o governo Dilma, criar um clima de instabilidade econômica e desestabilização política e dotar a combalida oposição de alguma bandeira.

A receita recessiva que os neoliberais insistem em impor, indiferentes às lições da crise, é o oposto do que reclamam os movimentos sociais e o povo brasileiro e as divergências neste terreno na realidade refletem as contradições e os choques entre os interesses antagônicos das classes sociais.

Os credores da dívida pública, em geral grandes capitalistas, querem garantir a valorização dos seus capitais, o crescimento de suas escandalosas fortunas, mas para que isto ocorra é necessário cortar na carne dos trabalhadores, sacrificando investimentos na saúde, educação, previdência, funcionalismo, infraestrutura e outros. Demandas sociais, como o fim do fator previdenciário e as reivindicações das jornadas de junho, esbarram na política de austeridade fiscal.

Remando noutra direção, e contra a maré, as centrais sindicais querem a mudança da política econômica, mas em sentido oposto. Reclamam a redução das taxas de juros, o fim do superávit primário, o controle do câmbio e do fluxo de capitais, a taxação das remessas de lucros e o imposto sobre grandes fortunas.

*Adílson Araújo, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasi (CTB).