Canese: América Latina não tem o que ganhar em acordo com UE

O deputado paraguaio da Frente Guasu, Ricardo Canese critica a relação bilateral entre blocos econômicos, principalmente entre o Mercosul e União Europeia. Segundo ele, a América Latina não tem o que ganhar em uma negociação assim com a Europa. Em entrevista exclusiva ao Portal Vermelho, realizada durante o Seminário Mercosul, Integração, Soberania e Desenvolvimento ele fala sobre esta e outras questões relacionadas ao Mercosul e as perspectivas do bloco.

Por Mariana Serafini, do Portal Vermelho

Ricardo Canese

O Seminário debateu o desenvolvimento do bloco econômico com a preocupação em fortalecer a soberania, a integração e a participação cidadã dos povos latino-americanos. Canese defende que o Focem – Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul – é uma das políticas mais acertadas e que merece ser ampliando. “A análise que fizemos do Mercosul aponta para isso: buscar um desenvolvimento real das forças produtivas, da indústria e dos serviços”, defendeu.

Ele destacou a importância de os interesses dos países menores, como o próprio Paraguai e o Uruguai, por exemplo, serem defendidos com mais afinco dentro do bloco “precisamos superar nossas assimetrias”, pontuou.

Questionado sobre a possível relação do Mercosul com a União Europeia, Canese criticou a aliança e disse que a América Latina não tem a ganhar numa negociação desse porte. “Eu tenho uma visão bastante crítica no caso de um eventual acordo entre Mercosul e União Europeia, temos que levar em conta as assimetrias”.

“A Europa estaria disposta que a agricultura latino-americana entrasse com peso num acordo entre os dois blocos? Eu acredito que não. A Europa tem muito mais a ganhar com inversões, tecnologia, patentes, indústria…”, criticou o deputado.

Em sua visão, se a agricultura e a pecuária não fossem os grandes destaques do Mercosul no possível acordo, então não haveria motivos para seguir em frente com essa negociação. Defendeu ainda que seria vantajoso se a Europa colaborasse com o Mercosul como colaborou com seus países menores, como Espanha e Itália. “Se a Europa estivesse disposta a ceder nos aspectos que a América Latina leva vantagem aí quiçá se poderia começar a conversar sobre o assunto. Caso contrário, esta aliança é uma perda de tempo”.

Integração popular dos países do Mercosul

Canse acredita que a participação cidadã é importante para os avanços no processo de integração dos países que compõem o Mercosul. Para ele, o Parlasul é um grande avanço, mas ainda é muito falho no sentido de que até agora só se apresenta uma integração marcada e planificada pelos governos. É necessário cada vez mais a participação cidadã neste processo, defendeu. O Paraguai é o único país do Mercosul a eleger os parlamentares do Parlasul, os demais países ainda tem membros indicados.

“Há um longo caminho a ser percorrido, mas creio que estamos no rumo certo onde a cidadania tem um peso maior e o Parlasul representa isso. É necessário também que o Parlasul tenha mais atribuições”, explicou.

Quanto ao desenvolvimento do Mercosul, Canese não vê outro caminho a não ser diminuindo as assimetrias entre os países, e até mesmo entre as regiões do Brasil. “Existe uma grande assimetria entre o Nordeste e São Paulo, por exemplo, e isso precisa ser corrigido. O Paraguai poderia ir se aproximando do que é São Paulo na questão industrial, em tecnologia, esse deve ser um objetivo”, aponta.

Canese é incisivo ao afirmar que o Mercosul não tem condições de competitividade se antes não vencer seus conflitos internos. Ele comparou o bloco com a China, segundo ele, temos o dobro de território e a metade da população, isso dá uma margem de desenvolvimento grande para a América Latina. Mas o desenvolvimento deve ser em todos os âmbitos, sempre buscando diminuir as assimetrias entre os países, para isso é necessário levar em consideração as necessidades dos menores, para que não sejam “engolidos pelas grandes economias”.

Seminário Mercosul, Integração, Soberania e Desenvolvimento

A atividade é uma iniciativa da Frente Guasu – coalizão dos partidos de esquerda do Paraguai – realizada em Assunção nesta quarta-feira (11). Contou com a participação de políticos e intelectuais dos países que compõem o bloco, Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela.