FMI mantém rumo de arrocho em Portugal apesar das consequências

O Fundo Monetário Internacional (FMI) mantém o objetivo de discutir a chamada “flexibilidade dos salários” em Portugal, durante a décima avaliação do memorando assinado com a troika credora FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia, que tem exercido forte pressão sobre os países que recebem seus pacotes de “resgate” pela imposição de medidas de arrocho ao setor público e social.

Portugal - PCP / Vídeo

Subir Lall, o representante do FMI que está em Portugal, disse nesta quarta-feira (11) que não estarão apenas os salários em discussão, mas também “questões mais abrangentes”.

O jornal português Público citou Lall sobre a reunião de avaliação, em que “todas as outras questões relacionados com o mercado de trabalho estão sendo discutidas”, no contexto do que as forças de esquerda, especialmente os comunistas portugueses, têm chamado de “pacto de agressão”.

As declarações de Lall geraram algumas dúvidas, segundo o Público. Mais tarde, uma fonte oficial do Fundo esclareceu que ele referia-se à redução do salário mínimo nacional (SMN), e não às restantes matérias laborais.

No relatório da oitava e nona avaliações, o FMI defendeu que, no setor privado, "a flexibilidade salarial continua sendo limitada", que o ajustamento dos salários se fez sobretudo no setor público e que na décima avaliação o órgão estaria “concentrado” nessa questão.

O tema dos salários foi posto sobre a mesa pelos sindicatos na reunião com a troika, que propuseram um aumento do SMN no próximo ano. Porém, a resposta que veio do outro lado da mesa deixou-os “perplexos”. “A troika disse que, se o salário mínimo fosse aumentado, haveria mais desemprego”, relatou a presidenta da União Geral de Trabalhadores, Lucinda Dâmaso.

No memorando assinado com o FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu (BCE), o descongelamento do salário mínimo é uma questão remetida para depois de junho de 2014.

De acordo com os relatos dos interlocutores sociais, Subir Lall reconheceu que o FMI errou quando calculou os efeitos da chamada “austeridade” no desemprego e no crescimento, subscrevendo as palavras da responsável da instituição, Christine Lagarde, mas disse que o rumo deve ser mantido.

A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) questionou a troika sobre as consequências desse erro de avaliação. A resposta, disse ao Público o presidente da CCP, João Vieira Lopes, “é que, apesar de tudo, estamos no bom caminho e o rumo é para ser mantido”, embora os movimentos sociais e partidos políticos de esquerda, sobretudo o Partido Comunista Português, denunciem reiteradamente o empobrecimento expressivo dos trabalhadores.

“Apesar de reconhecerem que a magnitude dos efeitos recessivos foi maior [do que esperado], não deram a ideia de que vão corrigir a trajetória, o que deixa um amargo na boca”, lamentou António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), à saída da reunião no Conselho Econômico e Social.

Os interlocutores sociais lamentam a distância entre o que o FMI diz e o que faz no terreno. “De solidariedade deste tipo estamos fartos”, resumiu o secretário-geral da UGT.

A posição assumida por Rasmus Ruffer, representante do Banco Central Europeu, deixou sindicatos e patrões apreensivos. Segundo o presidente da CCP, Ruffer reafirmou a tese de que o banco central “não deve emprestar dinheiro aos países, mas aos bancos, porque o risco de emprestar aos países é maior do que emprestar aos bancos”.

Da redação do Vermelho,
Com informações do Público