Em congresso, PT faz debate sobre projeto democrático e popular
Delegações presentes no 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores debateram na sexta-feira (13) sobre o "Legado e Futuro do Projeto Democrático e Popular". Coordenada por Selma Rocha, da Escola Nacional de Formação do PT, a mesa contou com a participação de Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, o economista João Sicsú, João Paulo Rodrigues, do MST, Virginia Barros, presidenta da UNE, Sonia Fleury, professora da Fundação Getúlio Vargas, além do presidente da CUT, Vagner Freitas.
Publicado 14/12/2013 18:24
Pochmann falou sobre a estrutura de classe do capitalismo industrial em transição e destacou que esta “é uma estrutura em movimento”. Pochmann iniciou sua apresentação retomando momentos históricos importantes na formatação do capitalismo mundial, que “atuou a partir da relação com os impérios, como o português, o inglês e depois os Estados Unidos. As duas guerras mundiais tiveram relação com as alterações nas hierarquias do capitalismo”.
Segundo Pochmann, a situação do Brasil se alterou desde o início do primeiro governo Lula, que patrocinou mudanças profundas, seja na mobilidade social ou na distribuição de renda. Além destes aspectos, a imagem do país no mundo mudou, mas o país não fez as grandes reformas necessárias, afirmou Pochmann. Por isso, acrescentou o presidente da FPA, “vemos que no capitalismo todos se movem, mas uns sobem de elevador, e os pobres vão de escada”.
As políticas públicas do governo Lula inverteram a lógica de que era preciso crescer para depois distribuir. E o Estado mínimo, até então defendido com unhas e dentes pelo capitalismo, “tinha o monopólio da violência, da moeda e da arrecadação. Mas o Estado foi obrigado a assumir responsabilidades”, lembrou Pochmann.
O capitalismo hoje está com força no setor terciário e “a sociedade que emergiu não vem da indústria, mas dos serviços”. Para Pochmann, o método de políticas públicas não resolve todos os problemas: “é preciso repensar a maneira como fazemos, e precisamos de políticas com visão universal dos indivíduos e nosso orçamento por rubrica é uma política mal feita”, explicou. Ele também defendeu a importância de um grande processo de politização da sociedade brasileira: "Temos novos trabalhadores, novos estudantes. Quantos se filiaram a alguma entidade sindical ou de jovens? É um desafio promover a politização".
O economista João Sicsú, autor do livro "Dez Anos que Abalaram o Brasil" (Geração Editorial), que aborda os dez anos de governos Lula e Dilma, apresentou uma série de dados sobre a economia brasileira e afirmou que a primeira política que fez mudar a economia do país foi o reajuste do salário mínimo promovido a partir do primeiro governo Lula. Também apresentou o alcance do programa Bolsa Família como um fator que foi muito importante, "porque ativa a economia, as famílias precisam de saúde, renda e crédito baixo", disse.
"Nós temos que combater a taxa de juros no crédito. Não o crédito". O que houve no Brasil foi ampliação da classe trabalhadora, não da classe média, que segundo o economista, "é outra coisa". Houve aumento de renda e crédito, fazendo o Brasil crescer.
A professora Sonia Fleury, da FGV, questiona qual será a narrativa a ser adotada. "Tiramos as pessoas da pobreza, mas ainda assim elas não são iguais aos que já possuíam renda. Fala-se pouco do modelo. E os sistemas universais constitucionais igualitários" ainda precisam ser alcançados.
Para João Paulo Rodrigues, tanto o MST quanto outros movimentos sociais "não podem perder a perspectiva da luta e da formação de consciências". "Na nossa avaliação, o governo fez a escolha de dar prioridade ao agronegócio", disse, relatando que não concordam com vários aspectos, como concessões e acordos com grandes empresas. Também falou sobre a importância do plesbicito popular sobre a reforma política, lembrando a experiência de mobilização que conseguiu barrar a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
A presidenta da UNE, Virgínia Barros, defendeu reformas prioritárias, como a universitária, um plano nacional de educação e a democratização da comunicação. "Precisamos de novas conquistas e mais ousadia e conquistar a consciência da juventude é fundamental para avançar nas mudanças", falou.
O grande legado dos últimos doze anos é que antes havia luta por direitos e agora é por avanços destes direitos. Assim definiu Vagner Freitas, presidente da CUT, o tema da mesa. "Não tenho nenhuma saudade dos governos FHC. Nenhuma", disse antes de explicar que há críticas no meio sindical, mas que retrocessos não serão aceitos. Freitas fez coro na exigência da democratização dos meios de comunicação: "o movimento de classe não tem a benevolência da mídia" e afirmou que dado o monopólio que há no Brasil, vivemos uma ditadura da imprensa. A CUT também defende a mudança do fator previdenciário e redução da jornada de trabalho como pontos importantes para avançar.
Com informações da página do PT