Irlanda deixa programa de arrocho imposto por credores

A Irlanda deixou, neste domingo (15), o programa de assistência financeira concedido há três anos pela União Europeia (UE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), e que mantém os que dependem destes pacotes sob uma pressão grave de arrocho, prolongando a recessão. Ao contrário de exemplos como Portugal, Espanha e Grécia, ainda subjugados pelos seus governos às condicionalidades dos credores, a Irlanda libera-se das imposições de "austeridade".

Credores da troika - Picture-Alliance/DPA

Ao todo, os irlandeses receberam um crédito no valor de 67,5 bilhões de euros. O primeiro europeu a sair do pacote de ajuda financeira conta com uma reserva de 25 bilhões de euros e juros abaixo dos 3,5%.

Após uma forte austeridade nas contas do governo, o país retorna aos poucos, sem ajuda, ao mercado internacional de crédito – enquanto outros membros da zona do euro, como Grécia, Portugal e Chipre, permanecem presos ao chamado "programa de resgate".

O empobrecimento dos trabalhadores e aposentados e a fuga populacional têm sido a marca profunda deixada nestes países pelo programa da chamada troika de credores: Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia.

O FMI, que ao todo repassou 22,5 bilhões à Irlanda, vinha cobrando uma dura disciplina por parte do governo em Dublin. Para o fundo, os bancos demoraram muito a reagir diante dos empréstimos sem garantia, ou "resgates", e o alto endividamento das famílias era um risco para a estabilidade financeira do país.

Segundo a instituição, porém, nos últimos três anos os irlandeses teriam consolidado o orçamento público com uma firme "política de austeridade", afirma a revista alemã Deutsche Welle.

Embora o exemplo generalizado dos resultados da sua política de arrocho tenha sido o empobrecimento, o cerceamento da democracia e o retrocesso estrutural das conquistas sociais conquistadas ao longo da história, em diversos países, o FMI tem abordado o caso irlandês como um sucesso do seu programa de "austeridade".

"A implementação sem falhas das reformas por parte das autoridades irlandesas permitiu alcançar os principais objetivos do programa: estabilizar o setor financeiro, melhorar significativamente a situação orçamental e recuperar o acesso aos mercados", disse a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, em um comunicado da instituição divulgado na última sexta-feira (13). Neste dia, a organização aprovou o 12ª relatório sobre a situação irlandesa, autorizando o pagamento de 890 milhões de euros.

O ministro irlandês de Transporte e Turismo, Leo Varadkar, afirmou neste domingo (15) que o país está "de volta aos trilhos" e agradeceu "o sacrifício e a flexibilidade da população".

"Se vocês pensarem bem, há dois anos e meio, quando esse governo tomou posse, era normal as pessoas conversarem sobre o problema do euro, ou falarem sobre um calote do país", disse Varadkar à rádio RTE.

"Estamos em uma posição bem melhor agora do que qualquer outro país europeu que tenha entrado no pacote de ajuda ou até mesmo de muitos que estão fora dele", ressaltou o ministro, lembrando algumas "vulnerabilidades" que ainda existem: o alto índice de desemprego e as altas dívidas.

Segundo o ministro irlandês das Finanças, Michael Noonan, o endividamento total do país chegou a 124% do PIB neste ano, atingindo seu ápice. Ele anunciou em Dublin uma política sustentável que deverá ajudar a reduzir a montanha de débitos para 60%, índice permitido pela UE.

A taxa de desemprego na Irlanda em novembro era de 12,5%, inferior ao pico de 14,7% registrado no ano passado. A meta é alcançar 4,2% em 2020.

Da redação do Vermelho,
Com informações da Deutsche Welle