Crenças e tradições na África
A variedade de mitos e lendas da África Subsaariana deve-se à multiplicidade de grupos étnicos que a habitam que tinham em grande estima tudo o que se relaciona com seus ancestrais e mostram uma poderosa riqueza imaginativa.
Publicado 10/01/2014 11:04
Em qualquer país da região convivem cerca de uma dezena de etnias como média, que guardam os mitos e crenças herdados de antigas gerações, cujas origens se perdem no tempo.
Ainda quando o território foi invadido pelos colonialistas europeus, os quais desde o século 15 implantaram um bárbaro sistema escravista causando graves danos às populações autóctones, estas nunca deixaram que seus mitos e ritos desaparecessem.
Suas crenças e a força de seus mitos não perderam espaço ante as ideias e costumes diferentes que os estrangeiros trataram de impor e seguiram adorando os espíritos e gênios que moravam na natureza.
Segundo essas crenças, aos espíritos fazia-se necessário aplacar e manter contentes, para que as colheitas não se esgotassem e para que a pesca fosse abundante. Ambas constituíam os meios fundamentais de subsistência devido ao escasso desenvolvimento produtivo da sociedade.
O ar, a terra e o rio estavam repletos de espíritos, o que implica o conceito animista que tinham da natureza as populações subsaarianas, aos quais se ia e se invocava quando se fazia necessária a ajuda de um ser superior para melhorar ou incrementar a colheita ou a pesca.
Havia também certas lendas nas quais aparecia o onívoro gigante, Markaque. Para satisfazer seu voraz apetite precisava devorar animais tão grandes como os hipopótamos e quando se dispunha a saciar sua sede, alguns dos lagos próximos se viam seriamente minguados.
Mitos da criação
Muitos povos africanos contam também com numerosas lendas para explicar a origem da espécie e, ao mesmo tempo, elaboraram curiosos mitos sobre a criação do primeiro homem e a primeira mulher. A narração dos fatos aparece repleta de inventividade e fantasia.
Segundo contam, havia um tempo em que o ser superior Muluku, deidade suprema que nas populações centro-africanas era conhecida pelo nome de Woka, se propôs fazer brotar da própria terra o primeiro casal do qual todos descendemos.
Muluku que dominava o ofício da semeadura, ou melhor, era um semeador por excelência, fez dois buracos no solo: de um surgiu uma mulher e do outro surgiu um homem.
Ambos gozavam das simpatias e o carinho de seu criador que decidiu lhes ensinar tudo o que era relativo à terra e seu cultivo. Proveu-lhes as ferramentas para cavar e preparar o solo e para cortar ou podar árvores secas e para fincar estacas. Pôs em suas mãos sementes de milho para semear na terra e mostrou-lhes a maneira de viver por si mesmos sem depender de outras pessoas.
No entanto, conta a lenda que o primeiro casal de nossa espécie desobedeceu a todos os conselhos que a deidade lhe tinha dado e que abandonou as terras, que terminaram se convertendo em areais e campos ermos.
E assim, o primeiro casal consumou sua desobediência, pela qual seu criador os transformou em macacos. O mito ou a fábula conta que Muluku ficou encolerizado e arrancou a cauda dos macacos para pôr nos humanos e nos humanos que fossem macacos.
Muluku depositou nos macacos sua confiança, enquanto retirava-a dos humanos e disse aos macacos:
Sejam humanos, e aos humanos, sejam macacos. Uma lenda formosa em sua singela fantasia que correu de boca em boca por toda a região.
Duas luminárias
Dentre as numerosas lendas destacam-se as das etnias do Senegal sobre o sol e a lua. Suas fábulas mostram que as duas luminárias, isto é, tanto o sol como a lua estavam já considerados como superiores aos demais astros. Os dois sempre representavam grandes mistérios para o homem desde a antiguidade.
O mito pretendia estabelecer as diferenças entre os dois corpos astrais e se propunha explicá-los de maneira muito simples ainda que carregada de conotações míticas e emblemáticas.
O brilho, o calor e a luz que se desprendem do astro rei impedem que sejamos capazes de olhá-lo fixamente; em contraposição, pode-se contemplar a lua com insistência sem que nossos olhos sofram dano algum. Isso é assim porque em certa ocasião estavam se banhando nuas as mães de ambas as luminárias.
Enquanto o sol manteve uma atitude carregada de pudor, e não dirigiu seu olhar um instante para a nudez de sua progenitora; a lua, em contrapartida, não teve problemas para observar a nudez de sua antecessora.
Depois de sair do banho, foi dito ao sol: filho meu, sempre me respeitou e desejo que a única e poderosa deidade abençoe você. Seus olhos – continuou – apartaram-se de mim enquanto me banhava nua e por isso quero que desde agora nenhum ser vivo possa olhá-lo sem que a vista fique danificada, nem se cansem seus olhos.
Os primeiros africanos "homens e mulheres" levaram aos territórios da América e do Caribe, onde foram escravizados, algumas dessas lendas; no continente africano essas fantasias do imaginário popular fazem parte de uma cultura ancestral que prevaleceu apesar da barbárie escravista e seu sucessor, o não menos bárbaro regime colonialista.
Prensa Latina