Migrantes africanos em Israel suspendem protestos por ameaça

Os líderes do protesto de migrantes africanos em Israel anunciaram, na noite deste domingo (12), que a sua greve terminaria nesta segunda-feira (13), com a maioria dos africanos que vivem em Israel retornando ao trabalho. A decisão foi tomada pelos receios de perda dos meios de sustentar suas famílias, mas os protestos por reconhecimento e pelo fim da criminalização devem ser retomados na quarta (15).

Migrantes africanos em Israel - David Bachar / Haaretz

Dezenas de milhares de migrantes africanos participaram na greve que começou no domingo retrasado, em protesto contra as políticas do governo. Os grevistas reivindicavam que a nova adição à “Lei Anti-Infiltração” fosse anulada, que a polícia parasse de prender imigrantes, que aqueles já detidos sob a nova lei fossem libertados, e que o governo reexaminasse os pedidos de asilo feitos por migrantes da Eritréia e do Sudão, refugiados. A greve afetou drasticamente muitos comércios, principalmente restaurantes, cafés, hotéis e serviços de limpeza.

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“Finalizamos a greve, mas a luta continua”, disse um sudanês líder do protesto, Mutasim Ali, neste domingo à noite. “Estamos cooperando com os negócios. Eles disseram ‘nós os apoiamos, mas ajudem-nos também’. Então dissemos que, aqueles que quiserem, deveriam voltar ao trabalho e cooperar.”

Ali disse que a decisão foi feira para congelar as atividades de protesto por alguns dias, em respeito à morte do ex-premiê Ariel Sharon, no sábado (11). Uma grande manifestação de mulheres africanas e israelenses, com seus filhos, foi adiada para quarta-feira. As mulheres devem marchar do Parque Levinsky, próximo ao terminal rodoviário da litorânea Tel-Aviv, até a casa do ministro do Interior, Gideon Sa’ar.

Nesta segunda (13), coordenadores começaram a circular formulários de pedido de asilo, mas ainda deve ser decidido quais formulários serão submetidos ao Ministério do Interior ou ao escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) para os refugiados.

A organização Linha Direta dos Trabalhadores recebeu dúzias de reclamações no domingo de trabalhadores africanos cujos empregadores recusaram-se a recebê-los de volta depois da greve, assim como trabalhadores cuja condição de empregado foi prejudicada.

“Um grupo de trabalhadores veio aos nossos escritórios, e nós recebemos chamadas telefônicas de outro grupo em Eilat, que foram informados de que não voltariam ao trabalho, já que a sua greve era vista como uma demissão sem notificação. Houve dois relatos de trabalhadores que receberam ultimatos – seja para concordarem com a mudança das suas condições de emprego para pior, ou para se demitirem sem acerto ou notificação”, disse Noah Kaufman, coordenador para os requerentes de asilo ou do estatuto de refugiados na organização.

“Nós vamos tentar negociar com esses empregadores, para recebê-los de volta ao trabalho. Essas pessoas não querem deixar seus empregos, fizeram uma greve”, disse Kaufman.

O advogado Michal Tadjer, conselheiro legal da Linha Direta dos Trabalhadores, disse que a organização está considerando uma ação legal para combater os despedimentos. “Os empregadores não podem explorar o sofrimento dos requerentes de asilo para piorar os seus termos empregatícios. Eles estão usando isso como uma forma de ameaçar seus funcionários. Em essência, estão dizendo: ‘Podemos despedi-los, então ou se demitem ou retiramos seus cargos, pioramos suas condições’, ou várias outras coisas. Os empregadores estão usando isso para a exploração.”

De acordo com o advogado, “a questão legal é quanto essa greve é protegida. Embora eles sejam trabalhadores não organizados, há uma organização abrangente que declarou esta greve, e houve precedentes na Europa em que esses setores da população fez greve em protesto contra o governo, quando as políticas prejudicaram indivíduos diretamente. Esta greve é política, e pode ser apoiada pela lei, mas ainda não foi posta sob a avaliação legal. Acreditamos que demitir os trabalhadores após uma greve de uma semana contra uma lei que atinge a coisa mais básica – a sua liberdade e habilidade de trabalhar – é um ato cometido em má fé.”

No domingo, havia uma longa fila do lado de fora dos escritórios do governo, em Tel Aviv, onde migrantes africanos devem renovar suas permissões temporárias de residência. Emanuel, um cidadão da Eritréia e um dos líderes da greve, estava na fila pela terceira vez para renovar a sua documentação, que expirou há três semanas. Até o momento, ele não conseguiu chegar ao escritório.

“Eu tinha uma hora marcada, e o primeiro guarda me deixou passar. O segundo disse: ‘você está liderando todos esses protestos e greves, foi entrevistado pelo Canal 2, vou te mostrar’, e cortou a faixa, me mandando ir para casa, gritando comigo.”

Emanuel, 34, esteve vivendo em Israel por seis anos, e estava esperando na fila com a sua esposa e sua filha. Depois de a mídia ter questionado as autoridades da Imigração e População sobre o seu caso, um representante ofereceu-lhe um agendamento para a próxima semana, mas ele recusou-se a aceitar o pedaço de papel.

“Eu me vi na Eritréia, hoje”, disse Emanuel ao Ha’aretz. “Se eles começaram a me ameaçar, por que eu deveria pegar o número? Eu disse que não vou pegar um número pela quarta vez. Eu fugi da Eritréia porque eles me diziam essas coisas – você não vai falar contra o governo, não vai fazer perguntas. E aqui, estão começando a me dizer para não falar com a televisão, não liderar greves, ou protestar? Estou lutando contra a nova lei do governo, e não vou parar. O que tiver que ser, será.”

A Autoridade da Imigração e População declarou, em resposta, que o guarda que lidou com Emanuel não era um funcionário do setor, mas um guarda de segurança empregado pelo complexo de escritórios do governo.

“Emanuel foi ao escritório em Tel-Aviv para renovar a sua permissão de residência assim como muitos outros infiltradores que estão correndo para renovar seus documentos agora, porque falharam em fazê-lo nos últimos meses, como foram requisitados a fazer. Para lidar com o grande número de pessoas tentando renovar suas permissões, Emanuel foi informado de que poderia voltar no próximo domingo. Ele recusou-se a aceitar a notificação com uma hora marcada para a próxima semana, que incluía uma notificação que lhe permitia residir em Israel sem uma permissão até aquela data,” disseram as autoridades.

A administração do complexo do governo negou que empregava o guarda de segurança que confrontou Emanuel, dizendo que o homem é empregado pela Autoridade de Imigração e População.

Fonte: Ha'aretz
Tradução de Moara Crivelente, da redação do Vermelho