Wadson: Precisamos impor a derrota de Aécio em Minas e no Brasil
Minas Gerais será palco privilegiado das disputas eleitorais de 2014. Principal tema da agenda política brasileira, as eleições irão impor às forças progressistas mineiras o desafio de assegurar a reeleição da presidenta Dilma Rousseff e a derrota do ciclo tucano de mais de duas décadas à frente do governo estadual. Reduto eleitoral do candidato das forças conservadoras brasileiras, Aécio Neves, Minas tem um papel estratégico para o PSDB.
Por Mariana Viel, da Redação do Vermelho-Minas
Publicado 14/01/2014 16:12 | Editado 04/03/2020 16:49
Segundo o presidente do PCdoB-Minas, Wadson Ribeiro, os comunistas mineiros se somam “às forças que apoiam a presidenta Dilma para derrotar esse pensamento, essa política e esse ideário representado por Aécio”. Em entrevista ao Portal Vermelho-Minas, ele afirmou que o modelo tucano no estado mostra sinais de esgotamento, o que é observado através do crescimento econômico inferior ao índice nacional e da ausência de políticas públicas capazes de induzir o desenvolvimento e retirar mais pessoas da linha da miséria através da inclusão social dos cidadãos mineiros.
Neste sentido, o PCdoB-Minas tem realizado uma série de debates com amplos setores da sociedade e partidos políticos. No final de 2013, os comunistas mineiros apresentaram a pré-cadidatura da deputada federal Jô Moraes ao governo do estado com o objetivo de “forçar um debate programático sobre os destinos de Minas”.
Ex-secretário geral do Ministério do Esporte, ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União da Juventude Socialista (UJS), Wadson Ribeiro falou ainda sobre a realização da Copa do Mundo deste ano no Brasil e da inclusão de milhares de brasileiros através de programas sociais como o Segundo Tempo. Leia abaixo a íntegra da entrevista:
Vermelho-Minas: Qual é a principal tarefa do PCdoB-Minas nas eleições de 2014?
Wadson Ribeiro: A tarefa primordial do PCdoB em 2014 é se inserir no grande desafio do país que é a quarta vitória das foças democráticas e populares com a reeleição da presidenta Dilma. Temos o desafio de, pela primeira vez na história do nosso estado, ter um governo democrático e progressista alinhado com o projeto liderado pelo ex-presidente Lula e pela presidenta Dilma – focado no desenvolvimento e na inclusão social. O PCdoB tem ainda o desafio de dobrar a nossa bancada de deputados federais e estaduais. Nas últimas eleições elegemos uma deputada federal [Jô Moraes] e dois estaduais [Celinho do Sinttrocel e Mario Henrique Caixa]. Queremos em 2014 assegurar duas cadeiras na Câmara e quatro na Assembleia Legislativa.
São desafios do campo político que se somam à forte presença do Partido em um conjunto de municípios em nosso estado nos quais o PCdoB tem vivenciado a experiência de governar. O maior exemplo disso é o governo do prefeito Carlin Moura em Contagem. Também ganhamos as prefeituras de Cataguases, Arcos, Francisco Sá, Lassance, Pintópolis. Integramos ainda importantes administrações em todo o estado através do nosso trabalho à frente de dezenas de Secretarias Municipais. O Partido continuará focado na consolidação de nossa presença nos movimentos sociais como, por exemplo, os movimentos de luta pela moradia, estudantil, sindical.
Minas centralizará de forma estratégica a disputa eleitoral nacional. Como fazer no estado o contraponto ao projeto encabeçado pelo senador Aécio Neves e o tucanato brasileiro?
Temos hoje em Minas uma pré-candidatura posta ao governo do estado representada pela nossa deputada federal Jô Moraes. Achamos que o ciclo do PSDB no governo mineiro – iniciado em 1994 com a eleição de Eduardo Azeredo e que se mantém através do atual mandato de Antônio Anastasia – está esgotado. Isso tem sido demonstrado através da baixa capacidade do estado de atrair investimentos, do crescimento econômico inferior ao índice nacional, do aumento da violência nas grandes cidades e da ausência de políticas públicas.
Aquilo que o ex-governador Aécio Neves chamou de choque de gestão, de austeridade e de ‘boas práticas de administração pública’ foi, na verdade, um grande engodo e significou a ausência do Estado como um fator fundamental de indução do desenvolvimento de Minas Gerais e como promotor de políticas públicas capazes de retirar mais pessoas da linha da miséria e incluir socialmente mais cidadãos mineiros. Significou na verdade uma política neoliberal, em que não cabe ao Estado ser um agente presente na vida das pessoas e indutor do crescimento. Este modelo concebe um Estado com características de empresas e de retirada de investimentos. Um exemplo disso foi a fusão, no final do ano passado, de muitas secretarias do governo do estado, prioritariamente com o objetivo de economizar gastos. Mas o que verificamos foi uma concepção de Estado Mínimo, que não tem qualquer outro papel além de servir aos interesses de uma pequena elite e dos líderes políticos deste condomínio de forças que está no governo.
Derrotar Aécio Neves Minas pode assegurar uma derrota tucana nacional?
A eleição de 2014 é importante para o PCdoB de Minas porque vamos somar esforços no sentido de desmascarar o que significou esse longo ciclo dos tucanos à frente do governo do estado. Precisamos impor uma grande derrota ao Aécio Neves em Minas Gerais. Uma derrota de seu partido, o PSDB, no governo do estado e uma derrota no que diz respeito ao seu número de votos em relação à presidenta Dilma. O que os mineiros querem é fazer com que o nosso estado possa estar em sintonia com o governo federal e virar essa página de 20 anos que tem significado perdas importantes para Minas. Qual é a grande obra e o relevante programa social do governo de Minas Gerais em curso hoje? O que está em curso em Minas é um estado altamente endividado, com pouquíssima capacidade de investimento e que inclusive vai trazer para o próximo governador muitas dificuldades.
O PCdoB se soma às forças que apoiam a presidenta Dilma para derrotar esse pensamento, essa política e esse ideário representado por Aécio – tanto na disputa do governo do estado, quanto na disputa para a Presidência da República.
No final de 2013 o PCdoB-Minas apresentou a pré-candidatura da deputada federal Jô Moraes ao governo do estado. Qual é a importância e como uma candidatura comunista em Minas pode contribuir para o debate eleitoral deste ano?
Acho que não é razoável olharmos para o Rio de Janeiro e São Paulo e termos mais de cinco pré-candidaturas colocadas para o governo do estado e ao olharmos para Minas Gerais termos apenas as candidaturas do PSDB e do PT. Achamos que isso é ruim para a democracia e procuramos vários partidos e lideranças políticas no sentido de forçar um debate programático sobre os destinos de Minas, o seu desenvolvimento econômico e os principais gargalos que o nosso estado tem. É neste contexto que se insere a candidatura da Jô Moraes. Queremos ir para o segundo turno e ter o apoio de todas as forças que estão com a presidenta Dilma e que acreditam nesse projeto. Se por acaso não estivermos no 2º turno apoiaremos uma candidatura que tenha características antineoliberais e em sintonia com o projeto em curso no governo federal.
Temos conversado com partidos como o PMDB, o PSD, o PSB, o PDT, o PT, enfim, um conjunto de partidos que achamos que podem ser aliados na construção de um projeto para Minas Gerais. O nome que no futuro unificará esse projeto ainda será discutido. O importante agora é não despolitizar ou não tornar binária as eleições no estado com apenas duas candidaturas. Minas tem 20 anos de um mesmo condomínio de poder à frente do estado e não pode ter apenas duas candidaturas. Precisamos pulverizar mais essas ideias. Acho que isso é dialogar com as manifestações de junho de 2013, com o anseio das ruas por mudanças e por melhorias nos serviços públicos. Se tivermos um número de candidaturas maior, possibilitaremos o embate de ideias e projetos. Isso enriquece o debate eleitoral e não torna as eleições uma discussão entre bem ou mal e apenas entre votar em A ou em B.
É preciso um campo político amplo para discutir um projeto claro de desenvolvimento para Minas Gerais, com a inclusão das pessoas e com políticas públicas que possam combater, no caso da juventude, o genocídio ligado ao tráfico e ao crack, que possam gerar emprego com maior qualidade e melhores salários, que possam discutir um sistema de universidades públicas do estado de Minas, que possam discutir a questão do transporte e da moradia nas grandes cidades e que possam retomar o protagonismo do estado. A falta de crescimento econômico e políticas públicas acabaram tornando o estado um lugar pior para se viver. Precisamos discutir um programa que tire Minas dessa herança perversa que os tucanos nos deixaram.
Qual o legado que a atuação do PCdoB e a sua atuação enquanto secretário executivo do Ministério do Esporte deixam para o Brasil?
Algumas coisas no Brasil demoraram muito. As primeiras universidades públicas da América Latina são do século 15. O Brasil só veio ter a sua primeira universidade pública no século 20. Com a política pública de esporte não é diferente. O Brasil só veio ter o Ministério do Esporte em 2003, no governo do ex-presidente Lula. Antes disso o tema esporte era vinculado a outras pastas. Quando o Ministério do Esporte foi criado e o PCdoB assumiu esse trabalho e o primeiro desafio foi colocar de pé uma política que pudesse, no bojo e no esforço que o presidente Lula fazia de incluir socialmente os brasileiros, fazer isso no âmbito do esporte. Isso se deu através da construção de programas sociais como o Segundo Tempo, o Esporte e Lazer na Cidade, o Vida Saudável, o Pintando a Liberdade – são todos programas que ficam para a sociedade brasileira. O PCdoB também teve o grande desafio de coordenar as conquistas dos dois maiores eventos mundiais para o país que foram a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Isso induziu no Brasil um processo acelerado de investimento. Se não fossem esses eventos talvez não tivéssemos hoje tantas intervenções em aeroportos, em vias públicas e em infraestrutura. Eles propiciam também um crescimento econômico para o Brasil à medida que geram emprego e que seus impactos vão para depois desses eventos.
A presença do PCdoB, a minha presença como secretário executivo e presença do ex-ministro Orlando Silva colocou de pé um Ministério que não existia. O Ministério que era visto como o ‘patinho feio’ da Esplanada passou a ser uma das pastas mais respeitadas e que recebia o maior número de emendas parlamentares. Passou a ser o Ministério que conduzia um dos maiores eventos do Brasil e alguns dos mais importantes programas sociais do país. O Segundo Tempo foi por muitos anos o programa que mais empregou profissionais da área de Educação Física, ajudou no combate ao uso de drogas, incentivou a prática esportiva na terceira idade. Esse trabalho deixa um legado esportivo na cultura da sociedade brasileira muito importante.
Alguns setores da mídia e da sociedade conservadora brasileira tentaram despolitizar as manifestações de junho de 2013, tratando a Copa do Mundo de 2014 como principal foco dos protestos. Você acredita que o mote das manifestações que ganharam as ruas das principais cidades do país no ano passado era este?
As manifestações em sua essência não eram contra a Copa do Mundo. Também não acho que a maior parte da sociedade brasileira seja contra a Copa. Onde tem manifestação de caráter progressista, democrático e avançado tem PCdoB. Sempre apoiamos as manifestações. Penso que alguns setores da grande mídia e da elite brasileira tentaram confundir o debate das manifestações. O PCdoB tem 100% de acordo com as reivindicações de junho de 2013. Achamos que os serviços precisam melhorar, que o transporte público é ruim, que a saúde precisa de mais investimentos. Todas essas bandeiras levantadas nós defendemos e estamos nas ruas por elas desde março de 1922. O problema é que existe um setor minoritário, e é bom que se frise isso, que detém o poder econômico e a mídia e que tenta instrumentalizar um sentimento sincero de luta contra a presidenta Dilma. Esses setores não conseguem vencer as eleições e tentam transformar um evento aclamado pela sociedade brasileira em uma ofensiva contra o governo federal.
Qual é a experiência que você traz da UNE e UJS para a presidência estadual do PCdoB em Minas?
A UNE é uma grande escola de política. Passaram pelo movimento estudantil e pela UNE os principais agentes da política hoje no plano nacional – independente de suas atuais convicções ideológicas e partidos políticos. A minha experiência à frente do movimento estudantil na verdade reforça o desafio que é fazer com que cada vez mais o PCdoB seja o partido da juventude brasileira. O PCdoB é um partido que na sua genética representa a classe trabalhadora, a luta das mulheres, as reivindicações do movimento negro, e contra a homofobia… Acho que precisamos, à frente do Partido, ter essa energia da juventude para descortinar o futuro.
A minha geração, que começou na política nos anos de 1990 com o Fora Collor, e que se forjou a partir dessa experiência, traz um jeito novo, mobilizado e combativo de fazer política. Trazemos uma concepção da necessidade de dialogar com muitos setores e de nos inserir nos variados espaços de luta da sociedade brasileira. O PCdoB sabe aonde quer chegar e qual é a sociedade que ele quer construir. Precisamos compreender quais são as formas de luta hoje. Qual é o papel da acumulação institucional, a importância de eleger deputados e prefeitos, o fortalecimento da nossa ação junto aos trabalhadores e nos movimentos sociais.
Cada espaço de luta desses deve guardar um sentido estratégico com aquilo que o PCdoB defende: que é a construção do socialismo. Não é um socialismo moldado em experiências de outros países ou estranho à nossa realidade. Mas construir um socialismo à medida que você ajuda a construir um nível de educação melhor para a população, uma sociedade sem fome, com mais direitos e mais democrática. Se achássemos que da miséria brota a consciência talvez muitos países pobres já teriam construído as suas revoluções e já vivenciariam outros regimes. O problema é que da miséria brota a desesperança, o individualismo e a violência. A consciência mais avançada só é possível em um cenário de maior prosperidade, de mais luz, de esclarecimento e de oportunidades para as pessoas.
Essa experiência à frente do movimento estudantil traz para a Presidência do Partido em Minas a ideia de não acreditar em coisas, mas em causas. E a nossa grande causa é a construção de uma sociedade diferente, uma sociedade socialista. Essa interlocução com variados setores e a experiência de unir uma grande parcela da população em torno de objetivos fundamentais é importante neste momento para a condução do Partido.
Quais são as linhas de atuação dos mandatos comunistas na Assembleia mineira e na Câmara Federal?
O mandato da deputada federal Jô Moraes é muito referendado em nosso estado. Ela é a única mulher eleita em Minas Gerais, em um total de 53 deputados. A Jô tem se notabilizado na Câmara por seu trabalho em torno da defesa dos direitos das mulheres e preside a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) na Câmara destinada a investigar as razões e propor soluções para o recrudescimento da violência contra a mulher no país. É um mandato referência em Minas pela sua tradição de luta e seu papel na história do Partido.
Na Assembleia mineira tivemos uma grata surpresa com o desempenho dos nossos dois deputados. O Celinho do Sinttrocel é um deputado com muita ligação com o movimento sindical. Ele é oriundo do Sindicato dos Rodoviários de Coronel Fabriciano e tem atuado na Assembleia através da defesa intransigente dos direitos dos trabalhadores. E também atua na Comissão de Trabalho e na Comissão de Transportes. É um mandato voltado de forma intensa à categoria dos rodoviários e ao Vale do Aço – que é a sua região. Ele tem sido referência na defesa de bandeiras importantes como a duplicação da Rodovia 381, uma das mais violentas do país.
O mandato do Caixa [Mario Henrique O Caixa] também é uma surpresa muito positiva para o PCdoB-Minas. Ele integra a Comissão do Esporte e a Comissão Especial da Copa. No que diz respeito ao esporte, o Caixa tem defendido bandeiras políticas do governo federal através dos programas sociais do Ministério do Esporte e de infraestrutura esportiva. No caso da Copa ele tem acompanhado as obras para o evento deste ano em Minas tanto no que diz respeito ao estádio do Mineirão, como em relação às intervenções de mobilidade urbana. Como é do Sul de Minas ele também tem um trabalho muito importante na defesa da nossa produção de café. Minas Gerais é o maior produtor de café do país e tem se notabilizado na questão do estímulo e no combate às crises do setor. Eu diria que nossos mandatos têm muita referência para a política mineira.
Qual é o papel que o PCdoB Minas joga atualmente no estado?
O Partido em Minas é muito mobilizado. Durante o nosso processo de conferência no ano passado atingimos quase 150 municípios e mobilizamos mais de cinco mil militantes em todo o estado. Realizamos uma conferência com a presença de muitos partidos e lideranças políticas e sindicais. Em 2012 conquistamos muitos mandatos de vereadores no interior do estado, e hoje participamos de muitos governos municipais, dirigimos prefeituras importantes e ampliamos nosso trabalho no movimento estudantil e sindical. O Partido em Minas está preparado para enfrentar as eleições de 2014 compreendendo que este será um ano complexo. Surge do nosso estado a principal candidatura contra a reeleição da presidenta Dilma. A arena mineira será um palco privilegiado da disputa eleitoral de 2014 e o PCdoB está mais fortalecido, enraizado e tem melhores condições para travar essa luta.