Novo filme brasileiro centra em suspense psicológico

Não é a primeira vez que um livro do quadrinista, escritor, ator e roteirista Lourenço Mutarelli é adaptado para o cinema. A Arte de Produzir Efeito Sem Causa é seu terceiro romance que vira longa-metragem. Quando Eu Era Vivo, dirigido por Marco Dutra, estreou nesta sexta-feira (31) em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília, Campinas, Ribeirão Preto, Porto Alegre, Curitiba, Recife e Fortaleza.

Assim como em O Cheiro do Ralo e Natimorto, ficam evidentes neste longa os estranhos universos que Mutarelli costuma explorar. O que ele desenha em seus quadrinhos e as imagens que evoca por meio das palavras é escuro, desajeitado, desajustado e incomunicável.

Quando Eu Era Vivo mostra a relação complexa entre Sênior – interpretado com esmero por Antonio Fagundes – e Júnior, vivido por Marat Descartes. Depois de um divórcio difícil, o filho abandona o trabalho e volta para a casa do pai, de quem sempre foi distante.

O estranhamento entre ambos é total e não há mais espaço para Júnior naquele apartamento. O quarto que antigamente dividia com o irmão Pedro (Kiko Bertholini) foi alugado para uma estudante de música (Sandy Leah) que veio do interior.

Assista ao trailer do filme:


Em vez do sofá, Júnior prefere se instalar no quartinho dos fundos, onde o pai trancava tudo o que o prendia ao passado. Lá, aos poucos, o filho começa a se desconectar do presente, obcecado pela história de sua família, especialmente da mãe, praticante de ocultismo, morta há alguns anos. Resgata objetos, histórias, fotos e gravações que trazem à tona um passado que deseja ser esquecido, principalmente pelo pai, um senhor que parece não aceitar a idade e se dedica obsessivamente à aparência. Não quer nem falar sobre o outro filho, internado numa clínica psiquiátrica.

A tensão entre estes opostos vai se apresentando aos poucos e está aí o trunfo do filme. Não chega a causar medo, mas o clima de suspense funciona bem e prende o espectador, sempre com o auxílio da trilha sonora.

O que o obstinado filho quer trazer à vida é um fato que viveu na infância e que o assombra até hoje. Vai fundo na história, abre a ferida e enlouquece. Assim como endoidou Jack Torrence, personagem de um dos melhores thrillers de todos os tempos, O Iluminado, livro de Stephen King que virou filme pelas mãos de Stanley Kubrick, com Jack Nicholson no papel principal. Aliás, qualquer semelhança entre os olhares loucos dos personagens de Marat e Nicholson não é mera coincidência. O ator afirma que Torrence foi sua principal referência para a criação de Júnior.

A atuação de Marat é impecável (assim como no último longa de Dutra, Trabalhar Cansa, de 2011, que tem co-direção de Juliana Rojas) e nem sua peruca desajeitada tira-lhe o brilho.

Talvez este falte um pouco a Sandy, atriz inexperiente que aceita o desafio de atuar ao lado do experimentado Fagundes e de Marat, que vem recebendo muitos louros da crítica especializada, apesar de ter começado no cinema há apenas quatro anos. Mas a cantora, pouco exigida por seu personagem, responde bem ao papel.

Inicialmente, a figura delicada de Sandy não parece se encaixar em nenhuma história criada por Lourenço Mutarelli. E pode estar aí a jogada do produtor Rodrigo Teixeira, da RT Features: levar às salas de cinema o público que gostou de O Cheiro do Ralo e de O Natimorto mas também os fãs da ex-Sandy & Junior.

Fonte: Rede Brasil Atual