Morre Eduardo Coutinho, ícone do cinema brasileiro

Um dos mais importantes documentaristas brasileiros dos últimos tempos, Eduardo Coutinho, foi assassinado na manhã deste domingo (2) em seu apartamento na Zona Sul do Rio de Janeiro. Segundo a polícia, o filho do cineasta, Daniel Coutinho (42), foi o autor do crime. Em um surto de esquizofrenia atacou o pai e a mãe, Maria das Dores Coutinho (62), a facadas e depois tentou suicídio. Eduardo morreu na hora, já a mãe continua internada em estado grave.

Por Mariana Serafini, do Portal Vermelho

Eduardo Coutinho

Segundo um vizinho do casal, houve gritos e em seguida, ferido, Daniel bateu à porta pedindo ajuda. “Ele disse ‘eu libertei meu pai, tentei libertar minha mãe, mas não consegui’, e pediu pra eu chamar o porteiro.” Daniel também está internado em estado grave sob custódia policial. O velório de Eduardo Coutinho acontece na manhã desta segunda-feira (4) na Capela 3 do Cemitério São João Batista, no Rio, o enterro está previsto para as 16h.

Trajetória de Eduardo Coutinho

Foi um dos mais importantes documentaristas brasileiros de seu tempo. Aos 80 anos, Coutinho continuava trabalhando. Seu último filme foi lançado em 2011, As Canções, trata da ligação de pessoas comuns com a música. Na verdade, tratar de pessoas comuns era uma de suas especialidades. O cineasta sempre colocou em foco o desconhecido.

Uma de suas maiores obras, Cabra Marcado Para Morrer, foi premiada 12 vezes em festivais internacionais no Brasil, Cuba, Paris, Alemanha, e outros países. O documentário que começou a ser gravado na década de 1960 foi interrompido pelo golpe de 1964 só ficou pronto 20 anos depois, quando Coutinho reencontrou os negativos escondidos por ele para não serem levados pela polícia. Uma ficção baseada em fatos reais, Cabra Marcado Para Morrer narra a história de camponeses e o que se passou na sociedade brasileira o longo do período da ditadura militar.

Sempre político e politizado, logo depois da primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Coutinho lança o documentário Peões, que conta a trajetória da classe operária do ABC paulista.

Com sua mestria em colocar o desconhecido em evidência, em 2002 lançou o documentário Edifício Master que não tem um, mas vários personagens principais. São os moradores de um condomínio de classe baixa em plena Copacabana. Para a gravação, Eduardo e sua equipe moraram do prédio por quase um mês para manter a naturalidade do cotidiano dos moradores.

Entre outras obras que se destacam, está o genial Jogo de Cena, o documentário conta a história de mulheres que se interessaram em participar do projeto depois de lerem um anúncio no jornal. Foram 83 inscritas e 23 selecionadas que contaram suas vidas em frente às câmeras de Coutinho e depois tiveram suas histórias interpretadas por atrizes como Marília Pêra e Fernanda Torres.

A obra de Eduardo Coutinho foi premiada em diversos países e sem dúvida é das maiores referências para documentaristas brasileiros. Sua genialidade em colocar em foco o desconhecido sem perder de vista a realidade cotidiana fez de seus documentários verdadeiras ficções da vida real.

Com informações de agências