Poema para Eduardo Galeano

Por Paulo Fonteles Filho.

Eduardo Galeano
Releio, depois dos anos, 
As Caras e as Máscaras de Galeano. 
A memória do fogo me vem, 
salta pelos poros 
e depois reentranha-se nas hospedarias 
da imensa madrugada. 
Aqui estamos, 
aos teus pés, América! 
Quem tocará 
a índole do condor?
Romperá o tigre azul, 
entre céus andinos, 
por toda a cordilheira?
Qual dos teus pais, filhos da terra malsã, 
te acolherá quando a zombaria 
arrancar de teus braços 
a tenra idade e o ouro, 
depois de te condenar à sífilis e à fome, 
quem nascerá com espadas nas mãos?
Vento em ti, canto de flechas,
rios do centro do mundo, irmãos da igualdade, 
perdão e castigo.
Vento em ti, capitães do medo, 
ataúdes e os sudários das mãos infantis, 
dores em quatro ventos 
e as selvas aquecidas por árvores gigantes.
Crescerá em teu ventre os mares revoltosos, o cais, 
o sangue e o destino.
Em noites puras, 
o sol será trazido pelo mais velho dos pássaros.