Senadores criticam avaliação do FED sobre o Brasil 

A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) anunciou, nesta terça-feira (18), que apresentará no Plenário do Senado voto de censura a avaliação do Federal Reserve (FED), banco central americano, que classifica a economia brasileira como a segunda mais vulnerável de uma lista de 15 países emergentes, à frente apenas da Turquia. O anúncio da senadora foi feito na reunião da Comissão de Assuntos Econômicos. Outros senadores criticaram o FED, enquanto a oposição aproveitou para apoiar os Estados Unidos. 

 Gleisi Hoffmann acusou o FED de ter extrapolado "seu mandato", argumentando que "o banco central de um país não pode fazer, oficialmente, avaliação da situação econômica de outro". Segundo a parlamentar, foi uma ação tendente a interferir nos mercados, "uma vez que os investidores, com base nas conclusões do FED, poderão alterar suas decisões de futuros investimentos".

O fato é que a divulgação do relatório derrubou o Ibovespa, indicador de desempenho médio das ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, e provocou elevação da cotação do dólar.

A senadora classificou o índice de vulnerabilidade como uma variável calculada pelos técnicos do FED sem nenhuma transparência. Segundo ela, não há demonstração matemática ou nota metodológica de como se chegou à classificação de cada um dos países. Gleisi Hoffmann citou declarações de economistas como Murilo Portugal e o ex-ministro Delfim Netto que consideram pequena a vulnerabilidade do Brasil.

Sem competência

O senador José Pimentel (PT-CE) apoiou a decisão de Gleisi Hoffmann de colocar o assunto em discussão no Senado e afirmou que, se o FED fosse competente como se alardeia, não teria deixado o sistema financeiro dos Estados Unidos quebrar em 2008. Pimentel acusou o FED de "estender a sua crise", contaminando a economia internacional.

“De lá para cá, o mundo tem pagado um preço muito grande por conta dessa irresponsabilidade do Banco Central norte-americano, e, hoje, como eles (EUA) não conseguiram dar conta da sua demanda, têm um endividamento público superior a 100% do seu Produto Interno Bruto, têm um dos principais déficits em contas correntes e também no superávit primário. E aí resolvem transferir para outros aquilo que eles não fazem.

O senador Armando Monteiro (PTB-PE) disse que o FED não é uma entidade infalível. No entendimento do parlamentar, a análise pode ter sido contaminada por certos fatores conjunturais, porque, estruturalmente, o Brasil não se encontra em posição de tamanha vulnerabilidade, a ponto de ser comparado com a Turquia.

O senador Cristovam Buarque aconselhou Gleisi Hoffmann a retirar o requerimento de voto de censura, porque tanto sua aprovação como sua rejeição poderiam gerar resultados negativos. A eventual rejeição do voto, acrescentou, seria interpretada como apoio ao FED, enquanto sua aprovação significaria "a politização de um assunto que deve ser analisado tecnicamente".

Os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Cristovam Buarque (PDT-DF) chegaram a apresentar requerimentos com convite ao presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, para debater o relatório do FED. No final, o vice-presidente da CAE, senador Luiz Henrique (PMDB-SC), anunciou que o assunto poderá ser abordado na próxima audiência pública trimestral com Tombini, sobre os fundamentos e a execução da política monetária, agendada para 18 de março.

Da Redação em Brasília
Com Agência Senado