Urariano Mota debate racismo e os novos escravos do Brasil
Direto de Olinda, em Pernambuco, o escritor e jornalista Urariano Mota reflete sobre o racismo, os novos escravos os Brasil. Durante sua reflexão, Urariano traça um paralelo entre o "12 anos de escravidão" e pensamento de Gilberto Freyre.
Da Rádio Vermelho em São Paulo
Publicado 06/03/2014 14:44
A partir de uma análise crítica, o colunista da Rádio Vermelho narra cena que presenciou na última sexta-feira (28), que antecedeu o carnaval. "Na fila do cinema aonde fui, não havia um só negro. Minto: havia só este mulato que agora escreve. Ao procurar outro na fila, recebi dos cidadãos de pele mais clara uns olhos envergonhados, que se baixavam até o chão. Tão Brasil. Tão brasileiro é o pudor educado para o que não se enfrenta. Mas o filme na tela nos pagaria. Lá, podemos ver o retrato da casa-grande: a indiferença de todos ante a tortura. Linda, a sinhá olha da varanda o negro ser torturado e nada vê, melhor, assiste ao espetáculo obsceno como uma liberalidade do senhor, o seu marido. Que aula. É um filme quase didático da infâmia, do que no Brasil está encoberto até hoje".
Urariano Mota: 12 Anos de Escravidão e o Brasil
Segundo ele, "a realidade no filme mostra um escravo na forca, pendurado por horas em uma árvore, enquanto a rotina da fazenda segue sem distúrbio, sem assaltos de horror ou de repulsa. Mas isso é tão Brasil, amigos. Hoje mesmo, aqui na minha cidade, na sua, jovens são amarrados em postes, os velhos pelourinhos. Os novos escravos são espancados, enquanto comunicadores na televisão aprovam e ganham dinheiro e fama por açular a massa para o linchamento".
Gilberto Freyre, em Casa e Senzala
Urariano lembrou que foi em Gilberto Freyre que a ideia de uma escravidão suave no Brasil ganhou sua expressão mais conhecida e influente. Já em sua tese de mestrado, apresentada em 1922 nos Estados Unidos, ele afirmava: "Na verdade, a escravidão no Brasil agrário-patriarcal pouco teve de cruel. O escravo brasileiro levava, nos meados do século XIX, quase vida de anjo, se compararmos sua sorte com a dos operários ingleses, ou mesmo com a dos operários do continente europeu, dos mesmos meados do século passado." (Freyre, 1964 [1922]:98).
"Para Freyre, teriam prosperado as atitudes benignas dos senhores em relação aos escravos. "Era demorando numa casa, numa fazenda ou numa estância, afeiçoando-se a uma família ou a um senhor, que o escravo se fazia gente da casa, pessoa da família." E demorando em velhas propriedades, que passavam solidamente de geração em geração, sem que seus proprietários desejassem ou buscassem grandes mudanças ou enriquecimento rápido", afirmou Urariano Mota.
Ouça a reflexão de Urariano Mota na Rádio Vermelho: