Comércio de drones e militarismo são "oportunidades de negócios"

A capital espanhola, Madri, recebeu nesta semana a terceira edição do Congresso sobre Veículos Não Tripulados Aéreos (drones), Terrestres e Navais, a UNVEX 2014, organizado pela IDS Eventos, um “departamento especializado em eventos do maior provedor de conteúdos em espanhol do setor de Defesa e de Segurança.” M. Grabiela Serra, pesquisadora do Centro de Estudos para a Paz J. M. Delàs, de Barcelona, em artigo para o jornal El País, fala do crescimento do “negócio de drones”.

Drone dos EUA - General Atomics / Divulgação

O evento organizado pela IDS foi dirigido a organismos, instituições e empresas interessadas na troca de informações e na demonstração de interesse nos sistemas não tripulados. “As sucessivas edições da UNVEX vão adquirindo cada vez maior relevância, já que o mercado mundial dos drones é um setor em crescimento que, nos últimos anos, foi capaz de prover esses artefatos a 50 países,” escreve a pesquisadora.

Entre estes países, os Estados Unidos representam 58% do mercado total, segundo dados da própria UNVEX, seguido por Israel, líder nesta tecnologia, com empresas e indústrias militares de grande peso. Segundo John Keller, pesquisador da consultoria internacional Teal Groups, nos próximos 10 anos, o investimento no mercado global de veículos aéreos não tripulados alcançará US$ 12 bilhões. Em 2013, o investimento era de US$ 6 bilhões.

“Assim, é óbvio que investir no setor de veículos não tripulados é verificado como lucrativo. É assim que, há alguns meses, o [portal] InfoDefesa informava que ‘a França e o Reino Unido representam ¾ do negócio na União Europeia, mas as previsões apontam para uma boa posição da Espanha, com oportunidades de negócio muito importantes’,” ressalta Gabriela.

A pesquisadora lembra que o objetivo da UNVEX é “ajudar a promover o negócio através do intercâmbio de informação, estimulando uma orientação em direção ao mercado nova, diferente, baseada na relação profissional e empresarial,” mas os usos dos veículos não tripulados tem significância direta no setor de Defesa e Segurança, enquanto o uso civil é frequentemente usado para “tentar fazer o contraponto sobre o pérfido uso [militar],” também omitindo os riscos do emprego dos drones na área civil.

Ao visitar a página da UNVEX, Gabriela explica que, entre os 10 usos listados para os veículos não tripulados, o primeiro dos tópicos é o da Defesa, onde os drones são empregados “em múltiplas operações aéreas, terrestres e marítimas. É a aplicação mais desenvolvida e a origem desses sistemas.” Já no tópico Segurança, a explicação é: “vigilância de fronteiras, luta contra grupos organizados e segurança cidadã”, com aplicações estritamente civis, “a gestão de riscos e desastres naturais, topografia, agricultura e cultivos.”

A UNVEX, continua a pesquisadora, é “um excelente encontró para o Instituto Nacional de Técnica Aeroespacial (Inta) español que, em suas instalações próximas à base aérea de Torrejon de Ardoz, há mais de uma década, conduz pesquisas e desenvolve tecnologias do setor não tripulado. Talvez, dentro da opordunidade de negocios promovida pelos organizadores, o Inta terá a oportunidade, entre outras, de prmover seu último modelo de drone, o Milano, do mesmo tipo dos controversos Reaper e Predador dos EUA.”

Os modelos de drones citados têm mil quilos e podem transportar até 200 quilos, o que o permite, inclusive ser armado com mísseis. O Inta já chegou a vender outro modelo, Diana, que serve como alvo para exercícios aéreos, às Forças Armadas da França.

“A Espanha conta com um produto, o setor de drones está em alta, a UNVEX expõe a mercadoria e a oportunidade de negócios está servida. Quem compra?”, indaga a pesquisadora do centro espanhol que investiga e elabora relatórios diversos sobre os gastos militares da Espanha, da União Europeia e no mundo, com a ênfase para o envolvimento das empresas privadas no setor público de Defesa e no “negócio” do militarismo global.

Por Moara Crivelente, da redação do Vermelho