Maria Thereza Goulart: Lembranças de 1964

O que o golpe militar mudou em minha vida? É muito difícil ter as respostas certas para essa pergunta. Até hoje, 50 anos depois, eu me questiono para conseguir entender o porquê daqueles momentos tão assustadores que de repente mudaram o rumo de nossas vidas, de nossa pátria e de nosso povo.

Por Maria Thereza Goulart*

As mudanças foram infinitas.

Perdi pessoas que eu amava sem poder dizer adeus.

Perdi amigos, perdi meu lar e perdi minha pátria.

Fiquei sem meus sonhos, vivendo uma realidade de incertezas e desafetos.

Tive medo sim e pensei que aqueles momentos eram de uma perseguição coletiva que acabaria envolvendo nosso futuro.

Esse medo tornou-se um grande inimigo capaz de me confundir entre o ódio e o perdão.

Eram muitas perguntas sem respostas, que me faziam pensar algumas vezes que nós éramos os responsáveis por todos aqueles acontecimentos.

O tempo foi passando e os desafios foram diários.

Esquecer não foi fácil e eu aprendi muito com o sofrimento

Aconteceram novas mudanças, meus filhos cresceram, voltamos para a nossa pátria, para uma nova vida e novos amigos em um tempo de esperança.

Nossas vidas, no entanto, ficaram com um grande espaço vazio sem a presença de nosso melhor amigo, pai e companheiro.

Hoje sinto meu coração comprometido com o passado e em vários momentos de melancolia olho para o céu azul e me encontro de volta para o Uruguai, mudando os rumos de meus pensamentos neste tempo de espera para outros caminhos.

Sei que minha vida mudou. Continuo meu destino, até quando não sei.

*Maria Thereza Goulart é viúva do presidente Jango e presidente de Honra do Instituto João Goulart.

Fonte: Agência Sindical