Ismael Cardoso: O congresso da UJS e as drogas – Parte 1

Nos marcos do 17 congresso da UJS precisamos dar um passo fundamental para a melhoria da vida da juventude. Pretendo em três artigos discutir a necessidade de regulamentar e controlar a produção das drogas, sim meus amigos e minhas amigas, falo no plural, pois, defendo a regulamentação de todas as drogas. 

Por Ismael Cardoso*, no Portal da UJS

Entretanto, antes de chegarmos aos dias atuais, precisamos voltar muito na história para entender a relação do homem com as drogas.

As drogas e as sociedades antigas

O homem, em toda a história, relacionou-se com substâncias que alteram sua consciência, e a compreensão sobre tais substâncias variou de acordo com o tempo. É uma questão cultural e moral.

Nos primórdio da humanidade, no período paleolítico, por volta de 40.000 a.c, é possível verificar elementos na natureza que nos dão indícios de utilização de alucinógenos, sobretudo os cogumelos, que tem em sua composição a Psilocibina, componente que causa alucinações.

Representação rupestre de cogumelos
 

A utilização de alucinógenos serviam as sociedades antigas como forma de relacionar-se com a natureza, de mediação entre os homens e seus deuses.

O Egito antigo era conhecido como o “armarinho do mundo”. Muitos remédios psicoativos foram desenvolvidos neste período. Por exemplo, o ópio era utilizado para acalmar os bebês.

Quando alguém morria, não se dizia “vá em paz”, mas, escreviam nos túmulos: “que você tenha pão e cerveja”. Estes elementos eram depositados nos túmulos.

Sociedade Maia

Em nosso continente as coisas também não eram diferentes. Os Maias também utilizavam drogas encontradas na natureza para relacionar-se com seus deuses. A utilização de tais drogas acontecia em rituais coletivos. O tabaco era aplicado no ânus (Enema) para causar grandes alucinações.

Havia também, e ainda há, uma bebida alucinógena feita a partir de uma planta chamada Ayahuasca, mais conhecida como “santo daime”.

Os Maias usavam cogumelos também, e ia além, depois de ingerido o cogumelo eles jogavam uma espécie de “altinha”, onde a bola representaria o sol, se a bola caísse no chão as forças malignas poderiam ser despertadas e a pessoa que deixou a bola cair poderia ser sacrificada.

Vocês que dizem: “Imagina na copa?”. Eu digo, imagina na sociedade Maia? Afinal, estes jogos eram assistidos por toda a tribo, ou seja, pressão da torcida, cogumelos na mente e a morte na frente.

E a Grécia?

A nossa maior referencia de cultura e filosofia, o berço da democracia, da qual até hoje aprendemos, também tinha seus “bons drinks”. Sócrates, Platão e cia, de acordo com os pesquisadores, utilizavam dois tipos de substâncias alucinógenas, os cogumelos, os quais já citamos neste artigo, e a “Cravagem”.

A cravagem é uma espécie de fungo que ingerido aumenta o nível de serotonina no cérebro, causando grandes alterações de consciência. A partir de 1930, a cravagem é utilizada para sintetizar a droga mais devastadora já conhecida, dietilamida do ácido lisérgico, LSD!

Nesta passagem muito rápida pela história podemos observar que as drogas sempre estiveram presentes e nunca foram tratadas no campo da moral ou da saúde, ao contrario, eram encaradas como elementos importantes da natureza, na maioria dos casos, como elementos divinos ou capazes de elevar o espírito do homem até suas divindades.

O cristianismo e as drogas

A santa ceia
 

Antes que me acusem de herege, ou algo do tipo, não quero entrar em debates sobre a existência de deus, muito menos ofender qualquer religião. Quero apenas debater a interpretação do homem sobre a bíblia e suas consequências para a humanidade neste debate das drogas.

Está em João 14:5, “Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; como então podemos saber o caminho?” e Jesus lhe respondeu em João 14:6, “Eu sou o caminho a verdade e a vida. Ninguém vem ao pai, a não ser por mim”.

Ora, se todas as sociedades até então entendiam as drogas como caminho para deus, no momento em que o cristianismo afirma que o caminho para o “pai” é jesus, e somente ele, a fé nas drogas tonava-se um problema, uma heresia a ser combatida.

Foi assim, por exemplo, que os romanos ao se converterem ao cristianismo profanaram o templo de Elêuses na Grécia, pois, este era o símbolo da heresia, onde os gregos consumiam a cravagem e os cogumelos.

A partir do século IV os imperadores cristão aplicam as primeiras leis antidrogas. Concretamente, entra em campo a questão moral sobre as drogas.

No próximo artigo trataremos sobre o comércio das drogas ainda legalizado , sua proibição posterior e suas consequências para nossa contemporaneidade. Inté!

*Ismael Cardoso é diretor de comunicação e solidariedade internacional da UJS e estudante de Ciências da Natureza na USP.