EUA criam “Twitter” para forjar primavera contra governo cubano

A informação de que os EUA, por meio da Usaid (Agência para o Desenvolvimento Internacional), implantaram programas similares ao Twitter em Cuba: o Zunzuneo e o Piramideo para fomentar o descontentamento com o regime e implantar uma revolução colorida no país, confirma as reiteradas denúncias feitas pelo governo cubano de que os vizinhos do norte não renunciaram aos planos subversivos contra a ilha e que a guerra no século 21 é cibernética.

Por Vanessa Martina Silva, no Portal Vermelho


De acordo com o jornalista Paulo Cannabrava Filho, este tipo de prática não é uma novidade: “o ciberespaço já é, faz tempo, o teatro da guerra que o império move contra Cuba. Há satélites de escuta permanente, transmissões radiais e televisivas; utilização de chamadas aos celulares com mensagens mobilizadoras; saturação das linhas”, escreveu em artigo sobre ciberguerra publicado no site Diálogos do Sul em 2011.

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Tanto o Zunzuneo, revelado na última semana pela Associated Press, quanto o Piramideo, denunciado nesta segunda-feira (7) pelo governo cubano, foram criados com a intenção de criar uma rede de comunicação capaz de mobilizar jovens contra a revolução cubana e implantar assim, uma possível revolução colorida, tal como as que ocorreram no Oriente Médio. Para isso, as redes coletaram dados dos usuários com a intenção de utilizá-los posteriormente com fins políticos.

O Zunzuneo começou suas atividades em 2009 e deixou de funcionar em 2012, por “falta de recursos”, chegando a ter 40 mil seguidores. O ZunZuneo se refere ao barulho feito por beija-flores e faz referência ao Twitter (tweet é piar em inglês). Para sua implementação, foram gastos US 1,6 milhão. A ideia com a iniciativa era começar a divulgar mensagens políticas e criar convocatórias na rede de “multidões pensantes” quando fossem alcançados centenas de milhares de seguidores.

Nova face da velha CIA

“Trata-se de uma versão moderna das campanhas de propaganda encobertas da CIA (Agência Central de Inteligência). Tem todos os elementos básicos: empresas fictícias, desvios de fundos, atores multinacionais com companhias em Londres, Espanha e Manágua e contas bancárias secretas”, detalhou Peter Kornbluh, pesquisador sobre América Latina do National Security Archive, em entrevista à IPS.

“Parece que a Usaid é a nova CIA, em especial seu Escritório de Iniciativas Transicionais, uma entidade obscura e misteriosa que se dedica, evidentemente, a executar planos encobertos para conseguir uma mudança de regime em Cuba”, acrescentou Kornbluh.

Desestabilização não é prática do passado

Segundo Kornbluh, a Usaid tem um orçamento de US$ 20 milhões por ano para seu projeto de “democracia em Cuba”. Assim, diversas ações são realizadas para convergir a rebeldia da juventude com as dificuldades econômicas e materiais pelas quais passam os moradores da ilha.

A juventude cubana, alvo destas ações, não vivenciou os tempos do ditador Fulgêncio Batista, quando Cuba era um cassino-bordel dos Estados Unidos. Nascidos após o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que colaborava financeiramente com o país, conhecem apenas o período de dificuldades econômicas que, em grande parte são decorrentes do bloqueio econômico imposto há mais de 50 anos pelos Estados Unidos à ilha. Estes fatos, segundo a estratégia estadunidense, facilitariam a disseminação de materiais contrarrevolucionários.

A este respeito, o jornal Juventud Rebelde afirmou que o “’ZunZuneo' é outro capítulo da escabrosa e vergonhosa política dos EUA contra Cuba, com ajuda de suas agências de espionagem”. A Secretária do Comitê Nacional da Juventude de Cuba, Yuniasky Crespo Baquero, considerou, em entrevista ao mesmo jornal, que a inclusão dos jovens à vida do país é o antídoto contra a desmobilização e falta de compromisso da juventude.

Apesar do constante assédio, o Zunzuneo nunca chegou a difundir conteúdos políticos e sequer revelou que a origem de suas atividades era proveniente dos EUA.

Democracia: nobre missão

Todas estas atividades em Cuba, bem como as que foram realizadas na Líbia, Síria, Egito ou que estão sendo implantadas na Venezuela e na Ucrânia, são em nome da drmocracia. Segundo Matt Herrick, porta-voz de Usaid, a agência trabalha “em todo o mundo para ajudar as pessoas para que elas possam exercer seus direitos e liberdades fundamentais, e dar a eles acesso às ferramentas que melhorem sua vida e que possam conectar com o mundo exterior”. E é claro, “promove o desenvolvimento” dos países em que atua.

Tais projetos estadunidenses, somados às denuncias feitas por Edward Snowden de uma rede de espionagem global realizada pelos EUA, revelam, como apontou nesta segunda-feira (7) o jornalista Glenn Greenwald, a “agressividade com que os governos ocidentais estão tratando de aproveitar a internet como um meio para manipular a atividade política e a forma em que se manifesta o discurso político”. Assim, em nome da “democracia” e suas “liberdades”, estão sendo validadas a desestabilização de governos, a disseminação de mentiras e a conspiração transvestida de modernidade.