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Rede de base é o fundamento da mobilização militante

Volto ao tema-chave do 8º encontro de concentrar forças nas capitais e grandes centros urbanos, remodelar linhas de intervenção política e de massas destinadas a projetos políticos mais ousados, constituir um eleitorado próprio mais permanente.

Por Walter Sorrentino*

É uma flexão importante que está sendo proposta. E ela tem implicações organizativas, como a de formação, sem mais delongas, de fóruns de quadros de base, pivôs de organizações partidárias, que sustentem a inserção de base, como modo de vida partidária. Retomo essa argumentação por um outro ângulo, complementar aos anteriores, porque isso ainda é um tanto questionado.

Sempre disse que ter uma rede de organizações de militância de base é uma necessidade política, não apenas de princípios. Aliás, ou é uma necessidade política reconhecida ou não se constituirá. No caso é, e é premente, em face do que apresentamos no 8º Encontro citado acima.

Aos mais recalcitrantes direi o seguinte. Fiz campanha de prefeitos comunistas nas capitais de Fortaleza, Rio e Porto Alegre (duas cada), em Belo Horizonte, Manaus, São Luís; e conheci bem a de Goiânia. Posso afirmar com certeza que, em momentos decisivos, para criar um fato político de campanha, jamais conseguimos mobilizar uma rede militante que fizesse diferença efetiva. No máximo, duas ou três centenas de pessoas, militantes e apoiadores.

Quer dizer, mesmo em presença de um projeto competitivo, de alcançar governo e liderar hegemonicamente um campo de forças, não havia como mobilizar militantes. Vê-se, portanto que uma condição necessária nem sempre é suficiente. Enquanto isso, os cômputos partidários apontavam alguns milhares de militantes mobilizados em congressos – em São Paulo, por exemplo, foram 5 mil dos 78 mil filiados ano passado. Pergunta-se: mobilizam-se coordenadamente?

Poderia citar outros exemplos de mobilização pouco eficaz. O que ocorre é que sem a existência de uma rede, não há os nós por onde puxar a mobilização; a diretiva se dispersa por falta de linhas de comunicação do topo à base, ou não se institui com a devida agudeza em face das situações. Fica-se no delegacionismo vertical, uma instância passando a outra as exigências.

O que argumento é que uma linha de intervenção política e de massas, renovada que seja para se atualizar à realidade em curso e ao diagnóstico autocrítico realizado no 8º Encontro, solicita formas próprias de organização para se expressar. No caso, radicalizando a existência de fóruns de quadros de base, os que são norteadores da vida das organizações de base, voltados a isso e devidamente alimentados e estimulados a isso.

A ideia é que cada uma dessas organizações precisa ter um projeto político bem definido – o que em 2014 envolve objetivos de intervenção de massa e a batalha pelo voto em torno dos candidatos definidos para aquela área; precisa ter o pivô do trabalho, e estabelecer-lhes pauta e agenda regular, para indicação de ações e controle das diretivas traçadas.

Uma rede assim tem mais capacidade de mobilização e penetra mais fundo, porque mais permanente, na vida da população e de seus movimentos. Permite ao longo do tempo estabelecer redutos de confiança política e eleitoral. É por onde têm vazão as campanhas partidárias, onde se recolhem novas filiações.

Ademais, é por onde se estabelece com maior clareza o papel dos comitês partidários (municipais ou auxiliares): dar apoio permanente a essa rede de base, armá-la politicamente, dar-lhe eficácia mobilizadora do povo e enraizar o partido. Quer dizer, para vencer em uma orientação como a do PCdoB é preciso mobilizar o povo, e isso implica mobilizar a militância. O resto é ilusão, e seria bom examinar isso com espírito crítico e autocrítico, porque de fato a mobilização militante tem sido débil.

Essas coisas, ou ocorrem onde o PCdoB é mais forte e avançado, ou seja, nas capitais, vanguardeando os demais, ou fica no discurso. Por isso, as conclusões do encontro foram bem enfocadas e fundamentadas, é o que penso: instituir os fóruns de movimentos sociais nas direções estaduais, realizar seminários de diagnóstico e renovação das linhas de intervenção política e de construção partidária nas capitais, e radicalizar na constituição dos fóruns de quadros de base nessas cidades, complementado o papel dos comitês auxiliares.

*Walter Sorrentino, médico, secretário de organização do PCdoB