Cassol: Brasileirão começa da forma mais previsível possível

Por mais paradoxal que pareça, o que aconteceu na noite de sexta-feira (18), no começo da partida entre Joinville e Portuguesa pela Série B do Campeonato Brasileiro, era absolutamente previsível.

Por Daniel Cassol, no blog impedimento

Por mais que gostemos de brincar que asterisco na tabela é coisa dos anos 1990, o fato é que vinha se agravando nos últimos anos este processo de judicialização do futebol brasileiro, principalmente na Série C, que ninguém dava importância. Mas uma hora a coisa ia ser feita, a ponto de interromper um campeonato. Como aconteceu em Joinville.

Aos 16 minutos do primeiro tempo, a partida na Arena Joinville foi interrompida em função de uma liminar obtida por um torcedor da Portuguesa na 3ª Vara Cível do Foro Regional da Penha. A decisão judicial determinava que fossem devolvidos à Portuguesa os quatros pontos perdidos no Brasileiro de 2013 pela escalação de Héverton na última rodada.

A liminar obtida pela Portuguesa já havia sido cassada, mas essa não. A Portuguesa foi ao jogo, mas retirou o time de campo. Estabeleceu-se a confusão.

Em nota encaminhada ao Jornal Nacional (?), a CBF afirmou que a decisão da Portuguesa configura abuso de jogo, o que será julgado pelo STJD: “O ato apresentado ao delegado do jogo não tem nenhum eficácia jurídica pois foi proferido por juíza incompetente e que descumpriu determinação do Superior Tribunal de Justiça, que decidiu que o juiz competente é a 2ª vara civil, da Barra da Tijuca, do Rio de Janeiro, que proferiu decisão contrária. A Portuguesa, apesar de advertida pelo juiz da partida, que deveria ter dado continuidade à partida, optou por não voltar, o que configura abandono de jogo ou WO, que será apreciado e julgado pelo STJD.”

Os detalhes do que ocorreu em Joinville serão exaustivamente discutidos nos próximos dias, mas nada muda o fato de que este começo de Brasileirão era bastante previsível. No ano passado, quando do rebaixamento da Lusa no tapetão, já dizíamos aqui que “o sistema, propositadamente, é cheio de buracos, um queijo suíço que abre espaço para distintas interpretações, para que seja tomada a decisão que não é necessariamente a mais justa, e sim a mais conveniente”. Este sistema propositadamente cheio de buracos provocou estas cenas euriquescas em pleno 2014.

Pode-se discutir que clube está certo e que clube está errado. É bom lembrar também que houve uma grande dose de papagaiada na decisão judicial e na ação espetaculosa de interromper um julgamento, assim como é exagerada a relevância do STJD na mudança de resultados.

Aliás, quem foi que levou a tal ordem judicial para que o jogo fosse interrompido? Seja quais forem os motivos e os culpados, é preciso dar muita gravidade ao que aconteceu em Joinville e ao buraco em que se meteu o futebol brasileiro, quase inviabilizado às vésperas de sediar a Copa do Mundo. Mudanças são muito necessárias – e não podem ser superficiais.

*Jornalista, com passagens por veículos como Terra, UOL Esporte, iG e Jornal do Comércio. Correspondente do Brasil de Fato em Assunção em 2009. Editor do Sul21 em 2011.