Saúde, a riqueza que a África está procurando

Petróleo, diamante, ouro, madeira e outros recursos naturais são abundantes em países da África, no entanto a saúde, riqueza e direito humano vital, continua sendo um problema apesar de esforços políticos e sociais de muitos governos da região.

Por Osvaldo Cardosa *

"África está decidida a atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio no setor de saúde", declarou em entrevista exclusiva a Prensa Latina o ministro angolano de Saúde, José Van Dúnem, na última jornada de um foro continental do setor.

Van Dúnem presidiu a primeira reunião de ministros de saúde de 34 países africanos que debateram sobre o tema de 14 a 17 de abril passado em Luanda, com o lema "Façamos da África um continente mais saudável".

O evento esteve coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pela União Africana e pelo Governo de Angola.

Segundo o servidor público angolano, para "atingir os Objetivos do Milênio (previsto para 2015) e fazer uma agenda pós, temos que resolver os principais problemas que enfrentamos".

Em primeiro lugar, reivindicou a implementação de serviços universais de saúde, "acabar com as barreiras que freiam a obtenção de recursos, assim como a deficiência que impera no financiamento e nos capitais humanos do setor".

Ao anterior se soma, enfatizou, a necessidade de impor estratégias que sejam suficientemente articuladas.

Comentou que as condições para que a população africana disponha de uma vida saudável e um cuidado adequado estão sujeitas a diretrizes políticas e a muitas outras medidas para alertar, reverter ou atenuar as consequências de um problema de saúde.

"Queremos uma prestação eficiente de saúde; então pensamos e debatemos sobre criar uma agência continental que regule e controle a qualidade dos medicamentos para evitar a falsificação, datas de vencimento e assim garantir também que o preço esteja adequado à condição de vida", explicou.

Também, agregou, foi debatida a criação de um laboratório ou alguns para responder com rapidez e eficiência emergências como a que Guiné Conakry enfrenta atualmente com a febre hemorrágica do vírus Ebola.

Sobre o assunto, o representante regional da OMS, Luis Gomes Sambo, alertou no fórum que a cifra de mortos por essa doença chegou a 121 em Guiné Conakry e Libéria.

"O brote se propagou pelas fronteiras e atualmente temos 200 pessoas suspeitas de estarem infectadas", revelou Gomes Sambo, quem lamentou que, entre as perdas humanas, apareçam trabalhadores dedicados do setor.

Durante uma de suas intervenções no encontro, chamou os países do continente a manter o alerta. A doença tem uma taxa de mortalidade de até 90% e não existe tratamento ou vacina eficaz.

Perante essa realidade, o diretor territorial da OMS pediu aos governos intensificar a vigilância epidemiológica, as campanhas de informação sobre esse vírus e adotar medidas para fortalecer a qualidade dos laboratórios de saúde.

Apesar da existência da doença, disse, temos a esperança de que em breve se possa reduzir seu efeito mortal.

Cooperação Internacional, O Exemplo De Cuba

Van Dúnem qualificou a cooperação internacional no setor como de 'importância cardinal'. "Essa colaboração supre em parte a falta de recursos financeiros e humanos em nossas nações".

Mencionou o caso da cooperação médica de Cuba, que teve e tem "um papel importantíssimo como ajuda a muitos países africanos e especialmente Angola".

Nós valorizamos significativamente os indicadores como estratégia relacionada com a municipalização do serviço de saúde, com o qual transferimos programas e recursos para os territórios, argumentou.

Tais iniciativas, apontou, estão mais próximas à população, por isso em cada município temos uma equipe cubana que chamamos de trío, conformada por um médico de medicina integral, um epidemiólogo e uma enfermeira "para poder saber a cada momento o que está acontecendo". "A cooperação internacional não é linear", explicou o titular, pois existem boas e outras menos, mas é uma ajuda para os países.

Considerou que a cooperação é um ato bilateral, "portanto devemos ter dados, conhecer os resultados e estar convencidos de que a assistência resolve os problemas que temos".

A cooperação internacional é um pouco de diálogo entre quem precisa ajuda e quem colaborará, conlcuiu.

Por Uma África Mais Saudável

Na jornada final de sua primeira reunião, os ministros africanos de Saúde assinaram a Declaração de Luanda, um documento no qual plasmam o firme compromisso de melhorar o sistema de saúde de suas respectivas nações, o que levará a um continente mais saudável.

De acordo com o texto, encontro surge apartir de um memorando de entendimento entre a Comissão da União Africana (UA) e a OMS, assinado em julho de 2012 como mecanismo de colaboração que tenta melhorar os avanços políticos e técnicos da agenda continental de desenvolvimento humano.

De igual maneira, detalha a mensagem, o encontro procedeu de uma proposta da sexta sessão ordinária da conferência dos ministros de Saúde, realizada em Addis Abeba, Etiópia, em 2013, para logo ser aprovada pela Assembleia da UA em janeiro passado.

O escrito indica que no encontro de quatro dias em Angola se deliberou de maneira substancial sobre questões de grande preocupação na África, como a Cobertura Universal de Saúde, seu conceito e ação, a criação de uma Agência Africana de Medicamentos e as formas de estabelecer suas etapas de fundação.

Foram também realizados debates sobre as doenças não transmissíveis, políticas e estratégias para abordar os fatores de risco, e dar ponto final a mortes maternas e infantis.

Também estava incluído na agenda a criação de um centro africano de controle e prevenção de doenças, e foram discutidos e compartilhados mecanismos de responsabilidade na implementação de declarações e outros compromissos.

Como resultado dessas atividades, os servidores públicos reconheceram que existem preocupações pelos múltiplos desafios que enfrentam os serviços de saúde pública no continente.

Asseguraram que reforçarão vontades e ações multissetoriais integradas para desempenhar responsabilidades comuns.

Os assinantes testemunharam que cumprirão de maneira eficaz as seis tarefas adotadas e solicitaram à Comissão da UA e da OMS, em colaboração com as partes interessadas, que apoiem a implementação e facilitem o monitoramento desses compromissos.

Para a segunda reunião, a ser realizada em abril de 2016, a cúpula elegeu como sede a Tunísia, onde este continente continuará procurando métodos e programas próprios para solucionar seus problemas de saúde.

A África está convencida que a saúde é um direito, não um luxo; uma necessidade e um tesouro impossível de valorizar: é a primeira e a maior das riquezas.

*Correspondente da Prensa Latina em Angola