Inácio defende crescimento de todos os partidos na aliança

O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) completa este ano 26 anos de mandatos legislativos contínuos. Apesar da experiência, enfrentará uma dura disputa para se reeleger ao Senado caso se confirmem as candidaturas do ex-governador Tasso Jereissati (PSDB) e do deputado federal José Guimarães (PT). Sobre o PT, ele ressalta: “É preciso que todos da aliança cresçam, e não apenas um”. Inácio lembra que o PT é  o principal beneficiário da base aliada com a candidatura à Presidência da República. 

Inácio defende crescimento de todos os partidos na aliança - Fábio Lima/O Povo

O parlamentar afirma que pretende disputar a vaga mesmo contra um candidato da base aliada. No entanto, prefere negociar e diz que “é preciso existir um grande diálogo. Nós temos até o dia 30 de junho para resolver”. Ele, porém, se mantém aberto a outras possibilidades de arranjos. “Não existe dessa água não beberei na política”, assegura.

Inácio, que começou sua carreira política nos anos 1980 como presidente da Associação dos Moradores do Bairro Dias Macedo e da Federação de Bairros e Favelas de Fortaleza, elegeu-se vereador em 1988 e assumiu mandatos como deputado estadual, deputado federal e senador.

Nessa entrevista ao O POVO, o senador fala sobre o intricado jogo eleitoral cearense e faz um balanço de sua trajetória política. Aborda também momentos polêmicos de seus mandatos e analisa a crise da Petrobras.

O Povo: Como o senhor acredita que será esta eleição para o Senado com a possível candidatura do ex-governador Tasso Jereissati?
Inácio Arruda: A eleição para o Senado é para uma vaga, quase como uma eleição para governador. Sendo assim, a composição de forças para disputar esta vaga é muito importante, e esse arranjo normalmente não é muito diferente daquela que ocorre na eleição para governador e para presidente. O meu partido participa da aliança que elegeu o (ex-) presidente Lula e a presidente Dilma. Aliás, é o único partido que, desde 1989 até hoje, se compõe com o Partido dos Trabalhadores e eu considero que o tratamento que se deve dar aos aliados é muito importante. Sendo a Presidência da República a vaga mais importante da disputa, e sendo essa vaga do Partido dos Trabalhadores, cabe principalmente ao PT, não só no caso do nosso estado, mas no Brasil inteiro, um diálogo aberto com os aliados para examinar como o partido pode reeleger a presidente Dilma e, ao mesmo tempo, fazer com que seus aliados ganhem espaço e força no cenário nacional. É preciso que todos da aliança cresçam, e não apenas um.

Para o Governo do Estado, o PCdoB irá apoiar o candidato da presidente Dilma, seja ele do Pros ou o senador Eunício Oliveira?
Ainda não definimos essa questão de quem iremos apoiar no plano estadual. Todos esses partidos (PMDB e Pros) estão ligados na aliança que elegeu a presidente Dilma e elegeu e reelegeu o governador do Ceará. A nossa expectativa é que consigamos manter esta aliança para dialogarmos dentro dela quem será o governador, senador, o vice, levando em conta que um dos partidos (PT) já é o principal beneficiário da aliança, que tem a candidata à Presidência da República. A presidente Dilma até brincou com o PCdoB em uma das reuniões que tratamos desse tema. Ela disse: “Poxa vida, o plano do PCdoB é muito modesto. Quer a reeleição do Inácio, a eleição de uma senadora no Acre, um senador em Sergipe e quem sabe no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, e tem apenas um candidato a governador de estado”.

Diante disso, interessaria ao PCdoB abandonar a disputa pelo Senado e negociar uma possível vaga como vice-governador?
Não existe “dessa água não beberei” na política e nem em coisa nenhuma. Sempre todas as questões que são postas na mesa devem ser discutidas pelos partidos, mas o nosso objetivo é fortalecer a nossa presença no Congresso Nacional. Temos dois senadores e pretendemos alcançar o total de quatro. Porém, se lançarmos quatro candidatos e retirarmos depois um é preciso alcançarmos um êxito eleitoral muito grande, porque os três restantes obrigatoriamente deverão ser eleitos, já que ficaremos apenas com um mandato atual, que é a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), cujo mandato só termina em 2018. Portanto, o nosso principal objetivo é a reeleição para o Senado.

O senhor possui 26 anos de vida parlamentar. Quais foram as suas principais bandeiras e o que conseguiu realizar?
O mandato de vereador foi muito importante. Tivemos a oportunidade de contribuir para fazer a Lei Orgânica do Município de Fortaleza. Tivemos uma atuação legislativa muito ampla, até porque a representação popular era pequena, logo existia um anseio muito grande dos movimentos sociais em apresentar proposições. Nessa época, a esquerda era muito limitada. Considero que a emenda que garantia meia passagem aos estudantes foi uma das nossas maiores conquistas. Depois fui eleito para o mandato de deputado estadual e também havia muita demanda. Existia apenas três deputados de esquerda na época. Nós nos chamávamos “os três mosqueteiros”: eu, Eudoro Santana e Mário Mamede. Fizemos um trabalho político muito intenso e nossa relação com os outros setores da Assembleia era muito forte, o que resultou na aprovação de leis muito importantes. Fui eleito deputado federal em 1994 e assim que cheguei ao Congresso apresentei uma Emenda à Constituição (PEC 231/95), juntamente com o senador Paulo Paim (PT-RS), retomando o debate da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.

O que o senhor tem a apresentar para estas eleições?
O Congresso é muito interessante. Você tem emendas constitucionais, você tem leis. A área de preservação ambiental da Serra da Meruoca (região norte do Ceará) é uma lei proposta por mim que foi aprovada. O principal projeto que trata das mitigações de efeitos da desertificação é um projeto de lei da minha autoria que já foi aprovado no Senado e em todas as comissões da Câmara. Na eleição para o Senado, trabalhamos muito a questão da ampliação da rede federal de educação no nosso estado, e isso teve um grande sucesso. Conseguimos levar para o Ceará a Unilab, depois a Universidade Federal do Cariri. Isso muda a qualidade de vida da região.

Existiram alguns episódios polêmicos na sua trajetória política. Foi dito, na época da reforma da previdência e na campanha eleitoral posterior, que o senhor votou a favor da taxação dos inativos. Em 2007, quando surgiram várias denúncias contra o presidente do Senado Renan Calheiros, o senhor saiu em defesa dele. Como o senhor julga que esses episódios afetaram a sua imagem?
Todas essas questões que são polêmicas afetam porque você precisa se posicionar. Existe o caminho mais fácil e os caminhos mais difíceis e digamos que, aparentemente, os mais difíceis foram aqueles que nós resolvemos seguir. Qual era a questão em causa nessas batalhas? Era o êxito ou não de um governo que nós ajudamos a eleger. O que estava em causa era se o Lula continuaria a governar o país. Votei a favor da reforma da previdência no setor público, batalha que foi travada logo no início do governo Lula, embora eu não tenha votado a favor da taxação dos inativos. Depois o que estava em jogo nas questões sucessivas em relação ao comando do Senado não era se você era a favor de um ou de outro, mas qual era a base possível para sustentar o governo Lula.

O senhor acredita então que essas questões não influenciarão o eleitor hoje?
O eleitor sempre será induzido a voltar no tempo, a questionar. O problema central é de que lado você vai estar na eleição. Nós vamos disputar a eleição no bloco do (ex-) presidente Lula, da presidente Dilma. É nesse caminho que nós consideramos que o Brasil e o Ceará possuem melhores condições de avançar.

Mas como se dará a disputa por esse campo de Lula e Dilma, caso o deputado José Guimarães saia como candidato ao Senado?
É preciso existir um grande diálogo. Temos até o dia 30 de junho para resolver isso. Meu pleito é o pleito do PCdoB e que apresentamos para o PT, que tem a candidata à Presidência da República, e para o governador, que pensa no seu partido e examina quem será o candidato do Pros. A discussão e o debate se darão no nosso campo. Agora, se nosso campo apresentar mais de um candidato ao Senado será um grande incômodo, mas nós do PCdoB estamos dispostos a enfrentar a eleição mesmo nessa situação de dificuldades. Já fizemos isso outras vezes.

O senhor acredita que a instalação da CPI da Petrobras pode afetar negativamente a candidatura de Dilma?
Claro que afeta negativamente. Ela cria um ambiente de debate negativo em torno da Presidência da República e da Petrobras, e gera a ideia de que seria melhor se ela fosse privatizada, e não uma empresa pública sob o comando do Estado brasileiro e de uma política desenvolvida pelos governos recentes. Você imagina que se a estatal houvesse sido privatizada, ela faria uma refinaria no Ceará ou em Pernambuco? Você acha que ela alavancaria a indústria naval brasileira? Esse é o problema em debate. A empresa passou a jogar este novo papel e desmoralizá-la publicamente significa abrir caminho para retroagir.

Fonte: O Povo