Crianças e adolescentes são aliciados por crime organizado em Honduras

Crianças e adolescentes pobres de Honduras têm perdido a infância por se envolverem com o crime organizado. A constatação é da organização Casa Aliança, revelada no relatório "Infância e juventude nas redes do crime organizado em Tegucigalpa”. A entidade aponta que os menores estão envolvidos principalmente em roubos, assassinatos, extorsão, tráfico e venda de drogas e armas.

Por Natasha Pitts, na Adital

O crime organizado encontra na pobreza e na carência uma brecha para aliciar e recrutar crianças e adolescentes que são treinados para usarem armas e estarem na linha de frente de ações violentas. Além de serem uma mão de obra barata, os menores não são punidos pela lei hondurenha. Não existem estatísticas oficiais, mas o relatório assegura que é cada vez mais alto o número de menores de 10 a 18 anos que integram gangues e grupos criminosos no país.

A Casa Aliança aponta que a marginalidade, a exclusão social e a desintegração familiar são também fatores condicionantes, mas não determinantes para que crianças e adolescentes se liguem a grupos criminosos. Pobreza e situação de abandono familiar são apontadas como os fatores que tornam os menores mais vulneráveis ao recrutamento forçado pelo crime organizado.

De 120 crianças e adolescentes entrevistados durante a preparação do relatório, 44% manifestaram que as atividades ilícitas que rendem melhor e de forma mais rápida e fácil são a venda de drogas, o roubo e a cobrança de extorsões. Vender ou transportar drogas e armas, e conseguir maconha e álcool também foram citadas como "atividades” fáceis de realizar em Tegucigalpa.

Alerta a essa situação a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) já realizou um chamado ao Estado hondurenho para que proteja as crianças e adolescentes da violência e dê prioridade às investigações sobre os vários assassinatos de menores no país. "Diante dos recentes assassinatos de menores em centros de reclusão ou em suas comunidades, as autoridades hondurenhas devem realizar investigações diligentes e imparciais, além de aplicar as sanções correspondentes para evitar a impunidade e a repetição de fatos similares”, demandou o organismo.

No último dia 4 de maio, cinco jovens morreram e um ficou ferido com a explosão de uma granada dentro de um centro correcional de menores em San Pedro Sula. Recentemente, outros quatro adolescentes foram mortos a punhaladas em casa e outros dois foram torturados e assassinados. As autoridades hondurenhas atribuem a autoria dos casos a quadrilhas, gangues e grupos criminosos.

No fim de abril deste ano, a relatora especial da ONU sobre venda, prostituição e pornografia infantil, Najat Maalla M'jid, já havia demandado ao país que adotasse com urgência medidas para proteger os menores vítimas de violência e abusos.

Honduras está sendo banhada por uma onda de violência. Dados de 2012 do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (Unodc) mostram que o país tem a taxa de homicídios mais alta do mundo, são 90,4 por cada 100.000 habitantes. De acordo com levantamento da ONG Conselho Cidadão pela Seguridade Social Pública e Justiça penal, do México, pelo terceiro ano consecutivo, a cidade hondurenha de San Pedro Sula foi considerada a mais violenta do mundo.