EUA "validam" eleições pós-golpe na Ucrânia imersa em violência

Uma delegação de parlamentares dos Estados Unidos observa o ambiente das eleições presidenciais na Ucrânia, que a Casa Branca classificou de um “avanço histórico”, e deu US$ 11,4 milhões para apoiar as votações. O respaldo se dá apesar da violência contínua no leste do país e do rechaço expressivo à situação, após a instituição de um governo interino, resultante do golpe de fevereiro.

Ucrânia - Maurício Lima / The New York Times

Os senadores Rob Portman, republicano, e Benjamin Cardin, democrata, chegaram à capital ucraniana, Kiev, integrando a missão de monitoramento enviada pelos EUA. A líder da equipe é a antiga secretária de Estado norte-americana, Madeleine Albright.

“Nos últimos meses, o povo ucraniano demonstrou repetidamente seu desejo de escolher seus líderes sem interferência e de viver em uma democracia onde possam determinar seu próprio futuro, livres da violência e da intimidação,” disse o presidente Barak Obama, em um comunicado.

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Houve críticas generalizadas à realização das eleições em um momento em que o governo interino – nascido da tomada de poder de fevereiro e respaldado pelos EUA e pela União Europeia – mantém uma operação militar contra civis que rechaçam a sua legitimidade, no leste do país. Além disso, o aumento das denúncias contra a violência de grupos fascistas e neonazistas, representados no governo interino, também era um alerta às condições precárias das eleições.

Antes do dia das votações, este domingo (25), o senador Cardin enfatizou o apoio estadunidense, com ênfase para o que chamou de “preocupação com o impacto vindo da Rússia”, dando prosseguimento às alegações dos EUA sobre a “ingerência russa”, que estaria apoiando os “rebeldes” do leste.

Analistas lembram as declarações de Obama, em circunstâncias diferentes, sobre evitar votações sob a ameaça das armas, mas a ressalva não parece valer para a situação do leste ucraniano, onde os cidadãos continuam organizados em milícias para protegerem-se da atuação das Forças Armadas, deslocadas com tanques e caças para a região.

Ainda neste contexto, Marie Harf, porta-voz adjunta do Departamento de Estado norte-americano decretou, na sexta-feira (23): “A Ucrânia está pronta para as eleições.” Para os EUA, na “maior parte” do país, “as coisas estão calmas”. O diagnóstico era o mesmo quando, no início do mês, na cidade de Odessa, mais de 40 morreram em um incêndio provocado por milícias pró-Kiev, com simbologia neonazista e fascista, na sede de um sindicado; até hoje, ninguém foi responsabilizado, lembra a emissora Russia Today.

Também não houve responsabilizações na situação específica do golpe que derrubou o presidente Viktor Yanukovich e colocou no poder aqueles que os EUA e a União Europeia desejavam em seus postos.

Milhares de observadores internacionais foram enviados à Ucrânia para as eleições. A Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) enviou monitores a nove regiões “de acordo com um plano”, disse o representante da missão, Richard Solash, à agência Itar-Tass. Entretanto, nenhum foi enviado a Donetsk e Lugansk, duas das regiões que têm sido palco das maiores tensões nos últimos meses.

Às vésperas do dia das eleições, quatro membros da equipe da OSCE visitaram Donetsk para ver a situação e decidiram não posicionar monitores na região ou em Lugansk. As duas regiões poderiam não participar das eleições, como já previsto pelo Ministério do Interior.

Isto não foi impedimento para a sua realização, inclusive com a mudança da lei eleitoral, para retirar dos requisitos uma participação mínima. Enquanto isso, os confrontos violentos entre Kiev e seus opositores continuaram no dia da eleição, com disparos relatados em Lugansk. Uma pessoa morreu e outra ficou ferida em um tiroteio em uma mesa de votação na cidade de Novoaydar, segundo o Ministério do Interior.

Já uma autoridade da autoproclamada República Popular de Lugansk disse à agência RIA Novosti que um homem e uma mulher tinham morrido e diversas pessoas ficaram feridas depois do avanço das forças de Kiev com blindados pela cidade.

Com informações da Russia Today,
Da Redação do Vermelho