Edilson Cavalcante: Precisamos defender o nosso templo, o estádio

O ser humano tem uma relação de pertencimento com o espaço físico bastante singular, os vínculos afetivos não são resumidos ao seu local de moradia ou de trabalho, locais culturalmente construídos como espaços de encontro e de lazer tem um relativo grau de identidade com os indivíduos.
Por Edilson Cavalcante*

Venho aqui falar sobre um espaço físico em especial no coração de milhões de pessoas pelo o mundo afora, não falo aqui da praça de diversas cidades ou o boteco da esquina, um grande local onde encontramos cervejas e diálogos que atravessam horas, falarei do local onde conseguimos expressar o extremo da nossa paixão, o estádio de futebol.

Desde o Maracanã no Rio de Janeiro – RJ passando pelo Parque Antartica em São Paulo – SP até o Romeirão no Juazeiro do Norte – CE o estádio de futebol é algo mítico, local onde os guerreiros vão para as mais desafiadoras batalhas com a contribuição e o prestigio de milhares de torcedores, um verdadeiro exercito comandado por onze generais em campo.

Alguns podem olhar para o estádio como um simples ajuntamento de ferro e concreto com um gramado ao centro, não percebe o incrédulo sobre a magia que ali habita, que faz com que seja uma das primeiras lembranças de alegria para o cidadão o dia em que seu Pai, irmão ou cunhado o levou para o seu primeiro jogo.

O estádio é muito mais do que um conjunto de metro quadrado construído, é o local onde se enfrenta o sol a chuva e o frio para empurrar o seu time para a vitória, para exigir que se tenha raça assim como tiveram os torcedores que pegaram ônibus ou metrô, os que se deslocaram para cidades distantes, os que enfrentaram a truculência da policia ou a incompetência dos organizadores do espetáculo mais que não se furtaram do dever de estarem lá apostos, no templo mítico do futebol para mais um confronto.

Existe mais nesse espaço do que apenas grama, nos templos brasileiros podemos saborear uma grande variedade de comidas; churrasco, sanduiche de pernil, rabada na brasa, acarajé, açaí e tantos outros pratos fazem do estádio uma verdadeira trincheira de propagação da culinária nacional.

Não a toa estes são locais que permeiam o imaginário popular, seus nomes são cantados nas musicas dos mais diversos ritmos, suas imagens são divulgadas nos quatro cantos, o simples fato da lembrança remete as pessoas a sentimentos variados de alegria, orgulho e saudade.

Também devemos perceber que o estádio é um local onde se expressam conflitos, ao dividir arquibancadas, numeradas, cadeiras cobertas, camarotes e outras series de divisões existentes ele segmenta as pessoas a partir da sua condição financeira. Agora não há segmentação que faça com que o torcedor da arquibancada se sinta menos feliz com o gol do seu time, pelo contrario, os soldados que se espremem nas arquibancadas mais populares são rotulados pelo futebol como os verdadeiros torcedores, pois de lá é de onde se propaga as mais altas vozes de apoio, dignas de receberem as mais altas honrarias dos jogadores.

Por estas razões conclamo aqueles que percebem o estádio como um espaço de expressão da paixão pelo futebol a não deixar nossos templos virarem enlatados, não podemos deixar transformar esse patrimônio da nossa cultura em prédios pré-moldados. Querem modernizar as estruturas, que façam; querem colocar cadeiras, locais onde o exercito de verdadeiros torcedores se encontram em pé para ajudar o seu time na vitória, agora não me venha acabar com a magia do futebol.

O que estamos vendo é uma tentativa de elitização de algo que não concebe ser elitizado, fazer isso com nossos colossos é matar a sua alma, é suprimir sua mística. Varios são os exemplos de tentativa de acabar com os estádios e transforma-los em espaços habitáveis para a elite; o preço do ingresso, a proibição das bandeiras, a proibição da cerveja, a perseguição aos vendedores ambulantes são ações concretas de higienização.

Há ainda os moralistas de plantão, com campanhas que no fundo expressão a sua ojeriza a tudo que é popular, por isso temos que falar um português claro, os movimentos contra a construção de estádios são na verdade movimentos contra o povo, contra o direito destes terem acesso a sua paixão, ao seu time, ao templo de sua cultura. O momento exige de nós uma postura de luta, mais em defesa dos estádios, inclusive da construção de mais estádios pelo o Brasil, mais que estes sejam os espaços para o povo, para o torcedor, para o sonhador, para o geraldino que fantasiado nos enchia de orgulho ao vê-los no maracanã expressando o amor por seu time.

Esta é uma mensagem que exalta e defende o nosso templo, o estádio de futebol, e para ser melhor compreendida necessita que o leitor tenha fé, fé no futebol como expressão da nossa cultura, fé no gol como o ápice de nossa alegria, fé no estádio como o templo da nossa paixão. Termino aqui com São Tomas de Aquino: “Para aqueles que tem fé, nenhuma explicação é necessária. Para aqueles sem fé, nenhuma explicação é possível”.

*Edilson Cavalcante é ex-dirigente da UJS e membro do PCdoB-Ceará.