Exumação do corpo de Anísio Teixeira é defendida em audiência 

Em audiência pública para discutir as circunstâncias da morte do professor Anísio Teixeira, nesta quarta-feira (28), na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, foram apresentadas como medidas para esclarecimento da causa da morte do educador a exumação do corpo e o acesso a um documento inédito sobre o caso.

Exumação do corpo de Anísio Teixeira é defendida em audiência - Agência Câmara

O professor Anísio Teixeira, teórico da educação e um dos fundadores da Universidade de Brasília (UnB), morreu em março de 1971, no Rio de Janeiro. À época, a polícia disse tratar-se de acidente. Segundo o inquérito oficial, o intelectual caiu no fosso do elevador do prédio onde morava Aurélio Buarque de Holanda, com quem deveria almoçar naquela ocasião.

O ex-deputado Haroldo Lima (PCdoB-BA) contou que o corpo de Anísio foi levado para o necrotério, sem perícia no local. E os militares alegaram à época que ele havia sido confundido com um oficial da Marinha, que teria se suicidado em um prédio das imediações no mesmo dia. A versão nunca se confirmou e o corpo do oficial nunca apareceu.

O sumiço de um documento do Partido Comunista dos pertences de Anísio Teixeira também levantou suspeita na família. Segundo relato de Carlos Antônio Teixeira, filho de Anísio, quando foram devolvidos os pertences de seu pai, o documento não existia mais.

“Uma pessoa que era apanhada com um documento do Partido Comunista Brasileiro teria que se explicar muito. Anísio era um comunista feroz, porque ele havia feito a Universidade Federal de Brasília sob a ótica comunista”, destacou Haroldo Lima.

Acidente descartado

Para os participantes da audiência, a hipótese de acidente deve ser descartada porque entre o elevador e o fosso, havia vigas com menos de um metro de distância uma da outra, de modo que não teria como alguém cair até o fundo. Eles disseram ainda que o corpo de Anísio foi encontrado sentado e sem marcas das vigas.

Familiares declararam que não se opõem à exumação do corpo do educador se ela possibilitar a comprovação do seu assassinato.

Além da exumação, um documento inédito escrito pelo acadêmico Afrânio Coutinho poderia contribuir na solução do caso. Coutinho registrou em um documento tudo que sabia sobre o caso. O texto foi entregue à Academia Brasileira de Letras (ABL) para ser aberto apenas em 50 anos, em 2021. Na ABL, no entanto, ninguém sabe do documento. Apesar da negativa, a Comissão de Direitos Humanos requisitará o relato à ABL com base na Lei de Acesso à Informação, que obriga todas as instituições a liberar papeis relacionados à violação de direitos humanos.

A deputada Luiza Erundina (PSB-SP) cobrou providências concretas para o esclarecimento do caso. “Esse debate me deixou consciente do quanto estamos devendo à sociedade, precisamos ir além daquilo que os familiares e pesquisadores já acumularam”, sustentou.

Dúvidas e contradições

Carlos Antônio Teixeira contou também que o pai não foi visto por ninguém no prédio, uma quinta-feira pela manhã, quando, além do porteiro, deveria haver pedreiros no edifício, que passava por reforma. O corpo só apareceu no sábado, mais de 72 horas depois. Nesse intervalo, ninguém no prédio percebeu nada relacionado ao ocorrido, disse Carlos Antônio.

Na opinião de Haroldo Lima, Anísio Teixeira pode ter sido assassinado pelos militares, como parte de um possível plano do Brigadeiro João Paulo Burnier. Segundo Haroldo Lima, além de uma série de atentados terroristas, que seriam atribuídos à esquerda, esse projeto incluiria a morte de 40 intelectuais, considerados inimigos do regime.

De todos esses alvos, segundo ele, somente cinco tiveram os nomes conhecidos. Nada impede, para o ex-deputado, que Teixeira fosse um deles. Ele lembrou que, no início de 1971, ocorreu o desaparecimento de Rubens Paiva e, quatro meses depois, de Stuart Angel, ambos relacionados à Aeronáutica. “Exatamente entre um caso e outro, veio a morte de Anísio Teixeira”, ressaltou.

Lacuna

Depois de encontrado, o corpo de Teixeira foi imediatamente levado para o necrotério, sem perícia no local. Os militares alegaram que ele foi confundido com um oficial da Marinha, que teria se suicidado em um prédio das imediações no mesmo dia.

Esse é outro fato que intriga os participantes da audiência. Conforme ressaltou o professor da Universidade Federal da Bahia e biógrafo de Anísio Teixeira, João Augusto de Lima Rocha, o corpo do oficial suicida nunca apareceu, e o caixão do intelectual foi entregue fechado à família e não foi aberto.

Rocha disse ainda que o então senador da Arena, Luiz Viana, contou a ele ter ouvido de generais que Anísio Teixeira estava detido na Aeronáutica. Amigo de Teixeira, Afrânio Coutinho também tinha suspeita de que ele fora sequestrado, acrescentou.

Da Redação em Brasília
Com Agência Câmara