Joaquim Barbosa - Reprodução
Barbosa é um homem como qualquer outro, com seus pecados e virtudes, erros e acertos. Mas foi alçado pela mídia à condição de herói nacional porque condenou e encarcerou, em determinados casos ao arrepio da lei, alguns petistas graúdos, dois ou três caciques de outros partidos políticos, altos executivos e uma herdeira de um banco. Mérito de Joaquim, pois assim realizou o desejo de muitos brasileiros. Tá certo que muitos ludibriados por uma mistificação (e mitificação) que o tempo se encarregará de revelar. Assim como esse mesmo tempo, "senhor da razão", relegará Joaquim – o Justo, muito provavelmente, ao ostracismo e ao vilipêndio.
Não, não é o que eu desejo, honestamente, é porque a sociedade de espetáculo em que vivemos é assim mesmo em sua cruel "fábrica de sucos": extrai o sumo dos indivíduos, jogando fora o bagaço na lata de lixo. Não estou me referindo especificamente aos mais maduros e aposentados, é bom ressalvar, mas a todos os indivíduos, inclusive e notadamente os jovens.
Muitos advertem (alguns lamentam) que o ex-ministro do Supremo não poderá ser mais candidato à Presidência. O que é, diga-se, de fato uma pena, pois jamais poderemos saber se o apoio e exaltação que ora recebe é apenas resultado do sopro efêmero da fama midiática ou se eram mesmo para valer as suas supostas/aludidas potencialidades, pretensões e popularidade. Jamais saberemos se os seus pés eram de barro ou do mais puro concreto e aço, que serviriam para fundar a "novíssima" República – como parece pensar alguns.
Mas muitos, inadvertida ou propositadamente, esquecem que Joaquim Barbosa ainda poderá dar continuidade à sua obra, ou ao seu "nobre" intento, digamos assim, de destruição e derrocada do governo petista – ou talvez, fosse mais honesto dizer, de ruína do petismo.
Ou teria Barbosa se aposentado sem conseguir realizar a sua obra?
Na condição de ídolo dos intolerantes, com seu autoritarismo, arrogância e seu jeito intempestivo de ser, vai fazer falta a muita gente confortavelmente encastelada na nossa classe média e na nossa elite mais conservadora. Basta ver os comentários, aqui mesmo no Brasil 247, daqueles que o defendem com zelo e ódio extremos, como se defendessem a um santo ou como se adorassem um ídolo de ouro.
Joaquim Barbosa, repito, com o intuito de lhes lembrar, confortar e apaziguar, é apenas um homem. Com seus erros e acertos; vícios e virtudes.
Li, estarrecido, certo colunista da grande imprensa oligopolista, ídolo dos conservadores e, por extensão dos chamados "coxinhas", lamentar, com todas as letras, o fato do agora aposentado ministro Barbosa não ter esperado para ver se algum candidato da oposição venceria a eleição deste ano e assim, quem sabe, lhe conseguiria um ministério ou algum outro cargo importante no governo.
O que este afamado e "isento" colunista está querendo dizer, em outras palavras, é que um ex-ministro do Supremo deveria aguardar para receber o seu prêmio, a sua prebenda, a sua "recompensa" – como a foca treinada recebe o peixe. Sem perceber, tamanha é a sua arrogância e desfaçatez, ofende a hombridade do ex-ministro.
O intento de Barbosa pode/deve ter sido muito mais nobre do que sugere o referido colunista em sua desabrida sinceridade. Mas as intenções daqueles que lhe emprestam exageradas mesuras, louvores a apoio acrítico podem não estar propriamente revestidas pelo manto da mais pura lisura e nobreza.
Com o pretexto de se fazer Justiça, muitos estão traficando as mercadorias dos seus projetos e ambições pessoais; estão colocando mais lenha na fornalha de seus projetos de poder e mais gasolina na fogueira da inquisição que pretende queimar os petistas (e assemelhados) em praça pública. A chama que queima alguns, a outros alimenta.
Entretanto, esses podem ficar tranquilos. Afinal, Miami fica "logo ali". E, sejamos honestos, se Lula é "o cara" e o principal cabo eleitoral de Dilma, por que Barbosa não poderá vir a ser o grande cabo eleitoral de Aécio Neves?!
Não poderia ser este, afinal, o seu derradeiro trabalho, a sua derradeira missão, antes da sua merecida aposentadoria?
Fonte: portal 247