Jovem desempregado: questão persistente na América Latina

Mesmo que a América Latina decorre com melhor sorte que outras regiões o impacto da crise financeira mundial, e nos últimos anos mostra um reponte econômico, mantém desigualdades e persistentes questões como o desemprego juvenil.

Por Lourdes Pérez Navarro*, na Prensa Latina

Mulheres

Recentemente a Organização Internacional do Trabalho (OIT) alertou da necessidade de aplicar políticas inovadoras e eficientes para resolver o panorama trabalhista juvenil na América Latina, região onde os jovens representam 43% do total de desempregados.

A diretora regional da OIT para a América Latina e as Caraíbas, Elizabeth Tinoco, assinalou que a situação de crescimento econômico registrada pela região nos últimos anos não é suficiente para melhorar este problema, e ainda persistem o desemprego e a informalidade.

Na área existem perto de 108 milhões de jovens, dos quais à volta de 56 milhões fazem parte da força trabalhista, quer dizer, que têm um emprego ou estão a procurar qualquer um, mencionou Tinoco ao apresentar um estudo realizado pelo organismo.

O relatório sobre "Trabalho decente e juventude: políticas para a ação", que compara dados entre o ano 2005 a 2011, destacou que ao final deste período o desemprego juvenil atingiu 13,9%.

Acrescentou que embora a taxa descesse com respeito a 16,4% de 2005, os trabalhadores de 15 a 24 anos seguem enfrentando maiores dificuldades para encontrar um emprego, e sobre tudo um de qualidade.

A taxa de desemprego juvenil, assinalou, continua a ser o dobro da taxa geral e o triplo que a taxa dos adultos.

O estudo ressaltou as desigualdades, pois, enquanto a taxa de desemprego juvenil sobe por cima de 25% ao considerar só aos setores de menores ganhos, está por debaixo de 10 pontos percentuais para os de maiores ganhos.

Com respeito à qualidade do emprego, apontou que 55,6% dos jovens ocupados só conseguem trabalho em condições de informalidade, o que em geral implica baixos salários, instabilidade trabalhista e carência de abrigo e direitos.

De todos os mencionados assalariados, apenas 48,2% têm contrato escrito, em comparação com 61% dos adultos, mostrou a pesquisa da OIT.

Entre as questões mais preocupantes ressalta a existência de perto de 21 milhões de jovens que não estudam nem trabalham, deles uma quarta parte procura emprego, mas, não apanha, e á volta de 12 milhões realizam trabalhos domésticos, notadamente as mulheres.

O maior desafio está nos quatro milhões 600 mil jovens que não trabalham nem estudam, e também não se dedicam a ficar em casa.

A boa notícia é que os jovens que apenas estudam aumentou de 32,9% em 2005 a 34,5 em 2011.

Enfrentar o desemprego

Conforme os especialistas do organismo internacional não há receitas únicas para enfrentar esta questão , mas, ressaltam as experiências bem-sucedidas e inovadoras em países como a Argentina, o Brasil, Costa Rica, Peru ou Uruguai, as que poderiam serem adaptadas por outras nações.

Estas estão voltadas a obtenção de duma melhoria e extensão dos programas de formação e capacitação para facilitar a transição escola-trabalho e permitir que os jovens tiverem melhores qualificações quando procurarem emprego, que forem capazes de responder às necessidades do mercado trabalhista.

Falam também de criar incentivos para a contratação e a simplificação de trâmites na hora de procurar uma vaga, ao mesmo tempo de facilitar o empreendimento dos jovens.

Em opinião do especialista regional da OIT em emprego juvenil, Guillermo Dema, nos últimos anos se adquiriu muita experiência sobre o jeito para defrontar os empecilhos que encontram os jovens ao ingressar no mercado trabalhista.

Entretanto, remarcou, o desafio é pô-las em prática, espalhar a sua aplicação tanto geográfica quanto temporalmente e otimizar seu desenho para que forem eficientes.

Segundo Tinoco, "estamos face a um desafio político que demanda uma demonstração de decisão na aplicação de políticas inovadoras e de efetividade demonstrada para fazer frente as questões e precariedade trabalhista".

As difíceis condições de trabalho dos jovens devem ser abordadas com políticas que estiverem voltadas especificamente a produzir mais e melhores empregos, e que lhes permitirem aspirar a um futuro digno, ressaltou a diretora regional da OIT.

Na América Latina a situação trabalhista continua sendo desafiante e os especialistas enfatizam na necessidade de redobrar o esforço por melhorar a quantidade e a qualidade dos empregos, que constituem um componente essencial do crescimento econômico pois fortalece o mercado interno e cria um ambiente propício para o desenvolvimento produtivo.

O emprego é, em si próprio , uma ferramenta essencial para a redistribuição da riqueza e a inclusão social, para a luta contra a pobreza e a desigualdade, daí a necessidade de os governos terem entre suas prioridades diminuir a um nível mínimo as taxas de desemprego juvenil.

*Jornalista de Economia da Agência Cubana de Notícias Prensa Latina