Falkvinge: Um ano depois, detentores do poder ainda ignoram Snowden

Um ano se passou desde que Edward Snowden começou a nos contar o que realmente se passava no mundo. Desde aquela data, vários detentores do poder têm lutado – sem sucesso – para retomar o controle sobre a narrativa, o controle sobre a circulação das notícias. Mas na era da rede, o poder da narrativa fica diretamente com as massas, ao invés de com a elite.

Por Rick Falkvinge*, no portal da emissora Russia Today

Suécia Snowden - Reuters/Tobias Schwarz

As pessoas tomaram consciência sobre a vigilância massiva, mesmo que ainda não tenham se conscientizado das suas consequências totais. Mas a história está lá fora. O gato proverbial não só está fora do saco, mas deixou a cidade inteira e está indo para o outro lado do continente. Isso não impediu um establishment em torre de marfim de representar os jogos dos macacos “não vejo, não ouço, não falo”, fingindo que Snowden não existe e que as pessoas não sabem, já, o que sabemos.

Carl Bildt, o ministro sueco das Relações Exteriores, tem sido um dos mais firmes propositores da vigilância massiva no estilo da NSA [Agência Nacional de Segurança dos EUA], tentando “controlar” a rede – ignorando completamente o fato de isso necessariamente significar o controle (em efeito, a eliminação) da liberdade de expressão. Ele até declarou oficialmente que a vigilância massiva não viola os direitos humanos porque é encoberta: como se os serviços de segurança não violassem [os direitos das] pessoas quando o fazem sem deixar pistas.

A conferência álibi favorita de Bildt tem sido o Fórum de Estocolmo sobre a Internet, que supostamente é sobre a liberdade e o desenvolvimento da rede em geral. Ele tem convidado ativistas pela liberdade de todo o mundo para mostrar a si próprio na presença deles, tentando polir a sua imagem como um defensor da liberdade e da liberação.

Entretanto, suas ações dizem o oposto: Ele tem negociado acordos de espionagem com os Estados Unidos ao mesmo tempo. Neste ano, os organizadores do Fórum de Estocolmo sobre a Internet sugeriram – natural e obviamente – Glenn Greenwald, Edward Snowden e ativistas similares como Jacob Appelbaum como oradores. Entretanto, isso não caiu bem para Bildt. Seu Departamento de Relações Exteriores excluiu-os sem cerimônias das falas no Fórum de Estocolmo sobre a Internet, como relatado pela [revista eletrônica alemã] Cicero.

A geração da rede que Bildt e seus aliados dos EUA buscam tão desesperadamente aplacar, ou até representar, não ficou impressionada. Furiosa, seria uma descrição melhor. A velha guarda, em suas torres de marfim, ainda parece pensar que nada mudou e que está livre para semear ou envenenar as notícias ao seu sabor. Enquanto isso, o mundo descobriu que podem se virar bem sem os detentores do poder na torre de marfim.

Em um final revelador para a história, quase todos os painéis e apresentações no Fórum de Estocolmo sobre a Internet comentou sobre a estranha ausência de Greenwald e Snowden. Como tal, seus feitos cívicos e serviços à liberdade ficaram mais presentes que nunca. Apesar dos desejos do Ministério de Relações Exteriores sueco, andando com a coleira da Casa Branca.

No final, a verdade não será domada e os detentores do poder são responsabilizados pelas violações dos direitos humanos. É tempo de aprender isso, para Bildt e seus semelhantes. Um ano desde as primeiras divulgações de Snowden. Uma vida inteira para determinar se vamos para [George] Orwell ou para a liberdade, daqui.

*Rick Falkvinge é o fundador do primeiro Pirate Party (Partido Pirata, que promove a democracia direta) e defende uma política de informações sensata.

Fonte: Russia Today
Tradução de Moara Crivelente, da Redação do Vermelho